Palavras vivas no tempo

O que fizeres a um desses pequeninos é a mim que fazes. Estas são as palavras do poeta e filósofo judeu nazareno, que para os cristãos é o próprio Deus, por confirmação oficial do Imperador Romano Constantino que se converteu ao cristianismo.

Nada mais justo do que elevar o mito do Cristo a divindade, porque ele construiu um pensamento avançado em tempos da Lei de Talião. Sem dúvida era um homem excepcional, desses que a natureza cria na proporção de um em cada bilhão que nascem. Estranha e desconhecida força esta da natureza quando produz seus milagres na existência dessas criaturas excepcionais (Dostoiésvisk).

Agora tem gente por aí, como aqueles jovens ex-seminaristas americanos que andam professando que o filho de Deus nunca existiu. Eu nem quero entrar no mérito desta questão, porque ao que se ver tem existido sempre. Como acentua Ariano Suassuna, são tantas coisas evitadas e brecadas em nossas vidas pelas palavras do evangelho, que do contrário, tudo seria permitido. Então como seria nossa ética sem tais palavras? Não há razão para que ele não exista; está as escâncaras dos nossos olhos.

Eu compreendo para onde aqueles estudantes americanos querem levar toda sua dialética da negação da existência de Jesus. É claro que é para o campo da mitologia. Não sou hipócrita, devo admitir que a mitologia grega foi um fato e uma história bem interessante, principalmente quanto aos arquétipos, que nos fazem compreender tão bem a alma humana. Se toda história grega vem de uma civilização que nos legou todo conhecimento ocidental, dentro desse aspecto talvez tenha sido a civilização mais importante dos nossos questionamentos de antanho.

Considerando toda essa época áurea dos gregos e dos romanos, o que vem a ser então a história de um pequeno povo nômade composto em sua maioria de pastores incultos? É claro que no âmago da sabedoria dessa comunidade do deserto, há muitas influências de outros povos que talvez tenha legado algum conhecimento e costumes. E a mitologia com certeza aí está embutida, não há como negar.

Mas o grande salto criativo e vivencial dos hebreus foi exatamente o monoteísmo de Abraão. De quem Abraão absorveu essa idéia? Talvez do sábio Melquisedec. Aí fica a indagação. O fato é que o monoteísmo foi a grande descoberta para o futuro da religião hebraica, na contemplação de um Deus único, criador de um universo cósmico extremamente complexo e incompreensível aos nossos olhos.

Outro salto ainda maior do povo hebreu foi dado pelo sábio de Nazaré, no momento em que ele propôs tirar o monoteísmo das mãos dos judeus e planejar levá-lo para o bojo das grandes civilizações. E fez isso com uma pitada bem dosada de solidariedade e compaixão.

Se o Nazareno foi apenas um personagem literário, se ele existiu ou não, a idéia com certeza existiu, e chegou até nós através dos séculos por seus seguidores. Idéia esta, que foi fundamentada para a modernidade por Tomás de Aquino e Agostinho; transformando-se no socialismo de Max e Hegel, passando pela solidariedade pregada por Sartre, e chegando até Dom Hélder Câmara, este paladino do povo brasileiro. E por fim, batendo as nossas portas, nestes dias de tanto egoísmo.

Como se vê, as idéias humanistas têm diversas formas, mas, dissecando – as, elas são puramente as mesmas. E para aqueles que não acreditam na existência de Jesus, eu digo que, o sermão da montanha é um dos poemas mais profundos dos nossos dias.

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