Jefferson identifica José Dirceu como o organizador do "mensalão"

Ao depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Mensalão, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) garantiu que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu era o organizador do esquema de arrecadação e destinação de recursos para os partidos aliados com a finalidade de assegurar votos para os projetos de interesse do governo, que ficou conhecido como "mensalão".

– Marcos Valério, Delúbio Soares e Sílvio Pereira não teriam capacidade de montar o esquema milionário. Foi José Dirceu quem urdiu essas negociações, organizando um exército de mercenários, auxiliado pelo ex-ministro da Comunicação Luiz Gushiken. O presidente Lula não sabia de nada porque preferiu ser chefe do Estado, preocupado com negociações de alto nível. Ele delegou as funções de administração pública a Dirceu – disse.

Roberto Jefferson voltou a dizer que o PTB não recebia mesada, porque não queria se submeter a uma situação escravizadora. Ele informou que os deputados Valdemar Costa Neto (PL), Carlos Rodrigues (PL), Pedro Henry (PP) e José Janene (PP) fizeram saques sucessivos, durante 2003 e 2004, para repartir os recursos dentro do partido. O deputado acrescentou que, se a diretora da SPM&B, Simone Vasconcelos, disse que Emerson Palmieri (tesoureiro do PTB) fazia o mesmo, ela terá que prová-lo.

O deputado admitiu, somente, que o partido realizou dois saques de R$ 100 mil cada um, que foram retirados nos dias 7 e 14 de janeiro de 2004, por Alexandre Chaves, motorista de José Carlos Martinez, para resolver o problema de sua filha, "pessoa muito querida no PTB".

Mensalão

Para explicar as razões do surgimento do "mensalão", Roberto Jefferson disse que, ao assumir o poder, o PT decidiu não distribuir parcelas desse poder a uma "burguesia corrupta que poderia alugar". Mesmo quando aceitava dar cargos a partidos aliados, num ministério ou estatal, disse, o PT mantinha 85% dos escalões inferiores.

– Como não queria dividir poder, tinha que comprar apoio com dinheiro, daí surgiu o "mensalão" para o PL e o PP – afirmou.

O deputado voltou a dizer que, a partir de fevereiro de 2005, quando denunciou o fato ao presidente Lula, o sistema foi interrompido, "com uma recaída em março", sendo extinto definitivamente em junho, quando o jornal Folha de S. Paulo publicou suas denúncias. Ele admitiu que o esquema montado pelo PT e as empresas de Marcos Valério é muito maior do que supunha.

– Pensava ser uma movimentação financeira da ordem de R$ 60 milhões e fui surpreendido ao descobrir que superava, em muito, R$ 1 bilhão. A CPI precisa cruzar documentos para descobrir a origem desse dinheiro. Marcos Valério já detalhou os destinatários de boa parte desses recursos, mas não disse de onde vieram. Certamente não foi de empréstimos bancários – afirmou.

O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), integrante da CPI disse que os recursos devem ser provenientes de órgãos governamentais ou de empresas estatais. Para ele, "essa desculpa de empréstimos bancários não convence ninguém".

Caixa dois

Roberto Jefferson fez questão de distinguir dinheiro de "caixa dois" de campanhas eleitorais, "que todos os partidos fazem", da prática do "mensalão". Ele próprio admitiu que, na qualidade de presidente do PTB, recebeu R$ 4 milhões do PT para campanhas eleitorais. Ele conclamou o Congresso a aprovar uma legislação que acabe com o "caixa dois" e proteja os doadores oficiais.

Quanto ao "mensalão", Jefferson disse que, em seus 23 anos de parlamentar, nunca havia ouvido falar dessa prática, antes de meados de 2004, pela boca do presidente do PTB, José Carlos Martinez, já falecido. Na ocasião, Martinez lhe participou ter recebido R$ 1 milhão de Delúbio Soares, então tesoureiro do PT, para que o PTB pagasse seus compromissos de campanha eleitoral atrasados.

– Debatemos o "caixa dois" de campanha eleitoral e o "mensalão". Concordamos que, embora o primeiro seja inevitável, o segundo deveria ser evitado pelo PTB, porque mesada escraviza e corrompe – disse Roberto Jefferson.

Na próxima semana, a CPI da compra de votos deverá ouvir os depoimentos do empresário Marcos Valério e de seu sócio Christiano de Mello Paz.

Fonte: Agência Senado

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