Nossa Senhora é dona de 80% de Coqueiro Seco

Alagoas 24 HorasNossa Senhora Mãe dos Homens

Nossa Senhora Mãe dos Homens

Graças a uma escritura datada do século 18, Nossa Senhora Mãe dos Homens tornou-se dona de 80 por cento dos imóveis urbanos de Coqueiro Seco. Ela é a padroeira da cidade e quem não lhe venera por ser evangélico ou ateu, deve-lhe pelo menos o “foro” – imposto imperial adotado pela República para a posse eterna do solo.

Considerando-se a origem da cidade, conclui-se que a santa tem algum direito; os pioneiros vieram atraídos pela matriz construída na parte alta e os pescadores, que trouxeram a imagem de São Pedro, ainda que sem esquecer o padroeiro, engrossaram a fila de fiéis da santa, que virou a mãe de todos os homens e tem devotos espalhados pelo país.

Localizada a 7 quilômetros pela Lagoa Mundaú, partindo-se do cais no Dique- Estrada, e a 29 quilômetros por rodovia, Coqueiro Seco está situada na chamada “grande Maceió”; é uma cidade dormitório, movida pela cana-de-açúcar, coco, petróleo e a pesca – esta em declínio.

A população é de predominância católica, mas o percentual já foi maior; na cidade já existem cinco igrejas evangélicas, que arrebanharam mais de 40% do rebanho, segundo estimou Maria Helena, católica e uma das responsáveis pela manutenção da Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens. O poder da santa mede-se mesmo em janeiro, durante as festas em sua homenagem – “Vem gente até de São Paulo”, acrescenta Helena.

INADIMPLENTES

O imposto imperial que a República adotou tem o respaldo na Lei de Usos e Frutos, que impede a venda de imóveis pelos herdeiros. No caso de Coqueiro Seco, vários católicos deixaram nos testamentos parte de suas terras para a manutenção da Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens; o imóvel passa a ser conhecido no jargão forense como “terra da santa”, que foi loteada para a expansão urbana da cidade na condição de se pagar o “foro” – espécie de aluguel eterno; o dono do imóvel não é dono do chão, como explicou Fernando Souza, tabelião do 2° Ofício.

Mas, nem todos pagam; apesar do valor irrisório de 12 reais por ano ou 1 real por mês, muitos estão inadimplentes e Nossa Senhora Mãe dos Homens não cobra nem executa a dívida. Todavia, quando alguém quer vender o imóvel tem de se acertar com a santa no cartório; a escritura só é passada depois que o débito com o “foro” é quitado. De estilo barroco, a fachada decorada com azulejo português, a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens data do século 18; a mesma idade da imagem da santa, menos a coroa de ouro, roubada na década de 1980.

Isso mesmo; apesar das paredes de um metro de largura, das portas de madeira de lei reforçadas com trancas de ferro e da vigilância da vizinhança, alguém conseguiu subtrair da santa a coroa de ouro que conseguiu resistir mais de um século. “Acho que eles queriam levar também a santa, mas acharam pesada”, avalia Helena. A imagem tem 1 metro e 20 centímetros de altura, talhada em madeira de lei com detalhes em ouro. Foi restaurada em Recife e se destaca no altar, onde podem ser vistas também a imagem de Sant’Ana, casa com São Joaquim – pais de Maria e avós de Jesus.

Nossa Senhora Mãe dos Homens é proprietária de 800 imóveis, entre terrenos e casas em Coqueiro Seco; a maior parte do patrimônio da santa é formada de terrenos foreiros, mas os bens de mais valia, na opinião de Maria Helena, são formados pelos fiéis – ainda que inadimplentes.

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