Quando todos têm medo de Zé Dirceu…

O deputado federal José Dirceu (PT-SP) possui um dossiê que, se for exibido, será necessário se proclamar outra República; a atual vai ruir – os três poderes constituídos não resistirão à desobediência civil. Dirceu conseguiu o documento antes de ser o todo-poderoso ministro da Casa Civil; antes mesmo de Lula se eleger presidente e isto comprova a sua competência na área da espionagem e informação – ele entende do negócio; no começo da década de 1970 formou-se araponga no Serviço Secreto cubano.
E porque sabe de tudo sobre todos, é arrogante e prepotente como acusam os seus adversários, mas, ninguém há de negar-lhe o talento. Dirceu foi líder estudantil na década de 1960, nunca deu um tiro, mas é conhecido como “guerrilheiro”; preso pela repressão durante o governo militar, foi solto graças à coragem de Fernando Gabeira, hoje deputado federal pelo PV carioca, que comandou o ousado seqüestro do embaixador norte-americano no Brasil para trocá-lo por presos políticos, entre eles Dirceu.
O tempo passou, o governo militar caiu, mas os norte-americanos nunca esqueceram; não perdoaram a ousadia. Gabeira não pode pisar em solo dos Estados Unidos, nem mesmo como integrante da comitiva oficial de parlamentares brasileiros – seu nome foi vetado. E Dirceu é recebido em audiência pela secretária de Defesa Condolezza Rice e discute com ela questões políticas e de segurança interna no Brasil. Dir-se-ia que Dirceu deveria ser eternamente solidário a Gabeira; que, na condição de “guerrilheiro”, deveria se recusar a tratar com os ianques. Dirceu deveria lembrar que pichou frases do tipo “ianques go home” nos muros das ruas de São Paulo.
Deveria, mas não é assim que a banda toca e Dirceu pode até se sentir constrangido ao deitar a cabeça no travesseiro; pode refletir sobre a metamorfose, mas não passa disso e a realidade da nova visão do coletivo que ele desenvolveu o despertará. Na condição de exilado, Dirceu optou por viver em Cuba – mas não foi cortar cana nem colher café; foi estagiar no Serviço Secreto cubano. Submeteu-se à cirurgia plástica para disfarçar o rosto, mudou o nome e com nova identidade desembarcou de volta no Brasil; foi se instalar como pequeno empresário no Paraná e lá se casou.
Durante dez anos vivendo como empresário com cara de reacionário, casado, com filhos, Dirceu surpreendeu a família, os filhos e os amigos quando apontou para a fotografia de presos políticos publicadas na imprensa para anunciar a Anistia em 1979 e disse-lhes: “Eu sou este aqui, ó”. A partir daí Dirceu não foi mais o mesmo – e nem deveria; separou-se, mudou-se para São Paulo, juntou-se a intelectuais, metalúrgicos e religiosos de esquerda e fundou o PT. Com punho de aço se impôs e dominou o partido, superando as divergências com as demais correntes pelo terror; quem não se submeteu teve de pedir para sair e quem ficou e não seguiu suas determinações foi expulso.
A inteligência de Dirceu está nesse poder de influenciar; o “guerrilheiro” que nunca deu um tiro tem espirito de general e age como tal – fala da guerra como se dela tivesse participado; fala da ética como se ela fosse possível diante da opção que fez para levar o PT ao poder; e diz que é inocente não porque acredite na sua lisura, mas porque tem um dossiê que se for exibido a República desmorona – não restará poder algum. Dirceu conseguiu o dossiê graças à obediência canina do deputado José Mentor (PT-SP), relator da CPI do Banestado, que quebrou o sigilo fiscal, telefônico e bancário de autoridades dos três poderes. Claro, há ilegalidades nas operações de envio de dinheiro para o exterior.
Diante disso, todos têm medo de Dirceu; o presidente Lula tem medo porque sabe de tudo e sabe também que seu filho, Lulinha, não tem tanto talento assim para transformar uma firma de fundo de quintal, com capital de 50 mil reais, numa empresa com ativos de 5 milhões de reais em menos de dois meses. Quando Lula diz que defende a punição dos culpados pelo desvio de dinheiro público, sente ele mesmo o frio na espinha; é como se tivesse atirando no próprio pé. Isso é visível, como é também visível o dilema que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-Al), vive por não saber até quando vai poder desviar a rota do vento. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, experimenta sensação idêntica, pois o governo o elegeu presidente da Câmara exatamente para que salve o PT.
É imperioso que o presidente Lula, que o senador Renan Calheiros e o deputado Aldo Rebelo provem que o Executivo e o Legislativo não são reféns de Zé Dirceu. Infelizmente, até agora, a conclusão é diferente – todos parecem temê-lo.

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