Duas cidades de Alagoas estão entre as cinco piores do país para os negros

Preconceito racial ainda sobrevive na terra de Zumbi
Preconceito racial ainda sobrevive na terra de Zumbi

A terra onde viveu Zumbi dos Palmares ainda possui marcas do preconceito racial. De acordo com um estudo recém-concluído pelo economista Marcelo Paixão, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da população branca supera o do negro em praticamente todos os municípios brasileiros. Entre os municípios de menor IDH dos negros, dois são de Alagoas, Traipu e Canapi.

O IDH mede a qualidade de vida de uma população, combinando três tipos de indicadores, que são o rendimento per capita, a taxa de escolaridade e de alfabetização, e a esperança de vida ao nascer.

O resultado do IDH varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior a qualidade de vida nos municípios. Quando as condições de vida são altas, o IDH varia de 0,8 a 1. Quando é baixo, está abaixo de 0,5. Os índices entre 0,5 e 0,6 são classificados de médio-baixo IDH, entre 0,6 e 0,7, de médio IDH e entre 0,7 e 0,8, de médio-alto IDH.

Depois de um estudo do Censo 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o pesquisador calculou o IDH dos brancos em 5.202 municípios, dos 5.507 existentes no país, e observou que o índice é alto (varia entre 0.8 e 1) em 1.591 cidades ou seja, 30,5% dos municípios.

Já no caso dos negros, o economista estudou 4.605 cidades e concluiu que, em apenas sete ou em 0,1% das cidades estudadas, a população negra apresenta Índice de Desenvolvimento Humano alto. As cidades foram São Caetano do Sul (SP), Mozarlândia (GO), Rio Quente (GO), Brasília, Goiânia, Cláudia (MT) e Vitória (ES).

Ainda de acordo com a pesquisa, os municípios de menor IDH dos negros, em todo o país, são Traipu (AL) – 0,49, Manari (PE) – 0,50, Jordão (AC) – 0,511, Guaribas (PI) – 0,519 e Canapi (AL) – 0,521.

O estudo revela que só em 13 cidades brasileiras o IDH dos negros supera o dos brancos. Todas são de médio ou médio-baixo desenvolvimento humano e ficam nas regiões Norte e Nordeste. Ao desenvolver a pesquisa foram levados em consideração os indicadores: taxa de analfabetismo e escolaridade da população maior de 15 anos e renda per capita.

Segundo o professor, os resultados mostram o tamanho da desigualdade racial no Brasil, seja nas capitais, seja nos pequenos municípios, e que as políticas nacionais públicas não são suficientes para superar a desigualdade racial.

"A pesquisa revela que as desigualdades raciais estão presentes em todos os locais, tanto nos maiores, quanto nos médios e pequenas municípios brasileiros. Os governantes ainda manifestam ações tímidas de inclusão. Há uma resistência secular à implantação de tais políticas para a população parda e negra do país", afirmou Paixão.

Para superar as desigualdades, o pesquisador cobra mais reflexão sobre como construir políticas de inclusão. Para ele, quanto mais for discutido o problema da exclusão, maior será a eficácia no objetivo de erradicá-lo.

Racismo

No dia 20 de novembro, é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. Nessa data, em 1695, foi assassinado Zumbi, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, que se transformou em um grande ícone da resistência negra ao escravismo e da luta pela liberdade.

Mesmo depois de tantos anos, a diferença pela raça ainda existe na sociedade brasileira, pelo preconceito ou até mesmo nos índices de escolaridade, emprego e pobreza medidos no país, como é o caso do analfabetismo.

Segundo dados do Ministério da Educação, a taxa de analfabetismo entre os negros é de 17,2% enquanto, entre os brancos, é de 7,5%.

Para a Coordenadoria do Núcleo Temático Identidade Negra na Escola, Arísia Barros, a cultura de discriminar o negro é perceptível quando lembramos o estereótipo dos heróis e princesas. “Todos lembram dos mortos da guerra do Vietnã, que foi em outro país, mas é difícil recordarmos dos mortos pelos 350 anos de escravidão no Brasil. Isso não é lembrado com sentimento”, enfatiza.

Segundo Arísia Barros, entre os analfabetos do Estado de Alagoas, 47% são negros e 27% pardos. “Para as crianças negras que estudam, a escola é responsável pela construção da auto-estima e identidade pessoal”, explica ao enfatizar o papel da escola para acabar com esse preconceito.

Com informações da Agência Brasil

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