Reminiscências do ano novo

Último dia do ano: no ar um clima próprio toma conta do coração da população. É uma mistura de confraternização e esperança em dias melhores no novo tempo. Alguns esperam livrar-se das dívidas, outros projetam comprar a casa própria, há quem espera arranjar um emprego, enfim, muitos planos enquanto o relógio marca a zero hora da virada.

Quem não tem mar, desce do aeroporto, da rodoviária, do complementar ou automóvel, e vai se dirigindo para a praia. Não sei que força exerce o mar nas pessoas, só sei que ele na sua amplitude inspira mudança de vida e a tão sonhada felicidade. Assim, todo mundo diz que romper o ano novo na beira mar é melhor. E muitas outras coisas tem se rompido a beira mar, como: amizades; amores; negócios, etc. Entretanto, quem é lá do sertão não tem essas superstições.

Lá se rompe o ano com rios secos nesta época e ninguém está nem aí. Em compensação, um pouco fora da cidade pode-se ver do alto da serra um belo céu estrelado. Tem coisa mais linda? Agora, quanto a mim, também me contaminei com essas crendices do mar e fui também a praia com minhas frustrações, tristezas e fracassos para pedir uma ajudazinha. Pelo sim e pelo não quem acredita sempre alcança. Fiquei um pouco tímido em me ver pulando as marolas. Bobagem, complexo de gente que não nasceu no litoral. Aquela altura, os fogos já tinham pipocado, e todo mundo de espumante na mão e samba no pé, só tinha festa na cabeça.

Você já pensou o que está comemorando no ano novo? A meu ver esta comemoração é muito relativa. Há um aspecto sublime; mas há também muito diabinho nadando dentro daquelas taças de champanhe. Há até anjos, inclusive, que gostariam de quebrá-las e mandar toda aquela gente com seus pecados pros infernos. Aquele executivo, por exemplo, que passou à tarde no seu carro de luxo em direção a um condomínio de alto padrão, estava alegre e ansioso para o réveillon.

Já aquele velho analfabeto vendedor de quebra-queixo, com seu chapéu na cabeça a beira da Avenida Fernandes Lima, de rosto magro e triste, com jeito de quem não vendeu nem um taquinho de sua cocada, com certeza para ele não houve réveillon, e se ele soubesse o que era isso, iria achar uma chatice.

Mas o ano chegou, foi saudado com flores e fogos na areia da praia. Lembrei de todas as paixões, paixões que o pensamento sempre traz à tona a beira mar nestes momentos de fim de ano. Nesse meio tempo, brindei o champanha e dei as boas vindas ao novo ano.

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