Júri condena intermediário da morte de Dorothy Stang a 18 anos de prisão

O 2º Tribunal do Júri condenou Amair Feijoli da Cunha, o Tato, a 18 anos de prisão, em regime fechado, por intermediar o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, morta com seis tiros em Anapu (PA), no dia 12 de jeneiro de 2005. A decisão foi anunciada às 19h53 desta quarta-feira.

Tato, que confirmou sua participação no crime, foi beneficiado com a redução da pena em um terço do tempo, por ter colaborado com as investigações. Na acusação, o promotor Edson Cardoso havia pedido a "condenação, na medida da justiça, nem mais, nem menos" de Tato. Não fosse a redução da pena, ele teria que cumprir 27 anos de prisão.

Confissão

Tato, que chorou após a leitura dos autos, confirmou o que já havia dito aos delegados Ualame Machado, da Polícia Federal, e Waldir Freire, da Polícia Civil, e ao promotor de Justiça Lauro Freitas Júnior: que recebeu a oferta de R$ 50 mil do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o "Bida", para matar Dorothy e que ordenou a Raifran das Neves Sales, o Fogoió, que cometesse o crime. Vitalmiro Moura estaria sendo constantemente multado pelas autoridades, após denúncias de Dorothy, por fazer desmatamentos. E, segundo a versão de Tato, o fazendeiro também estaria interessado nas terras da gleba 55, onde a missionária desenvolvia o chamado PDS (programa de desenvolvimento sustentável).

O crime, segundo Tato, foi cometido com um revólver calibre 38, que teria sido providenciado pelo próprio Vitalmiro Moura, e a munição teria chegado a Raifran Sales por Clodoaldo Batista, que teria ido buscá-la na fazenda do suposto mandante.

Raifran Sales e Clodoaldo Batista foram condenados em dezembro do ano passado, a 27 anos de prisão, e a 17 anos, respectivamente, pela execução do crime. A defesa recorreu da decisão. Vitalmiro de Moura também irá a júri, ao lado de outro fazendeiro, também apontado como mandante do crime, Regivaldo Pereira Galvão, o "Taradão". A data do julgamento deles ainda não foi marcada.

Tato confirmou ainda que esteve com um pistoleiro conhecido como Saintclair dias antes da morte e que o crime só não foi cometido naquele dia porque Dorothy não estava em Anapu. Ele disse que havia comprado uma gleba de 70 alqueires de Vitalmiro Moura em 2003, no valor de R$ 145 mil, e que ainda devia a ele cerca de R$ 30 mil na época do crime. Afirmou ainda que Raifran Sales e Clodoaldo Batista trabalhavam para ele nessas terras.

Acusação e defesa

"Tenho certeza que você está mais aliviado com o depoimento que deu hoje em plenário, mas você vai melhorar muito mais quando quitar sua pena", disse o promotor Edson Cardoso, olhando para o réu. Segundo o promotor, o fato de ter confessado o crime não o isenta de culpa. "Não mataram uma pessoa, mataram uma bandeira."

Ao fazer a defesa de Tato, a advogada Dalza Afonso Barbosa afirmou que seu cliente só procurou Raifran para saber se ele faria a execução por estar "sob ameaça de terceiros", supostamente se referindo aos fazendeiros. "Eles usaram este cidadão, esse ´bobão´ que veio do Espírito Santo", afirmou, apontando para seu cliente. Dalva defendeu a tese de que Tato teve uma "participação menor" no crime. A tese foi rejeitada pelo júri. A advogada afirmou ainda que seu cliente é um homem humilde, vindo de família capixaba de pequenos agricultores, e que foi tentar a sorte no Pará.

Familiares

A família de Dorothy Stang e várias organizações de direitos humanos acompanharam o julgamento. "Queremos apenas justiça e paz, que era o que a nossa irmã também queria para todos", disse Mary Stang à reportagem de Última Instância, durante um dos intervalos. Ela acompanhou o júri ao lado de Margarith e David Stang, todos irmãos de Dorothy. Susan Stang, sobrinha da missionária, também foi a Belém.

Segundo Mary, Dorothy, a quarta filha de uma família de nove irmãos, adquiriu a paixão pela terra da família, de agricultores. Depois, o pai entrou para a Força Aérea Americana, mas não deixou de cuidar da horta da família. A mãe dedicou-se a criação dos filhos. "Sempre fomos muito unidos e felizes", disse Mary, informando que Dorothy foi a única que "Deus levou". Os irmãos não contiveram as lágrimas quando assistiram ao vídeo que exibiu a reconstituição do assassinato.

Os familiares de Tato também acompanham o júri. O pai do acusado se emocionou na platéia por várias vezes durante o depoimento do filho. Irmãos e amigos acompanham passo a passo o julgamento, ao lado da mulher de Tato, Elizabeth Cunha, e os filhos de 12 e 16 anos. "É um sofrimento que já dura mais de um ano", limitou-se a falar Elizabeth, que não quis dar entrevista.

Cerca de 80 lavradores de Anapu estiveram acampados em frente ao prédio onde funciona o Tribunal do Júri, na Praça Felipe Patroni, centro de Belém. Segundo a assessoria militar do Judiciário paraense, a manifestação foi pacífica.

O crime

Dorothy Stang era uma liderança popular na região e lutava pela implantação de um programa chamado PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável), que previa terras para os colonos, com parceria de instituições como o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o que incomodava os fazendeiros da região.

Sua morte já havia sido anunciada, mas ela não acreditava que poderia ser assassinada. "Quem teria coragem de matar uma velha como eu?", disse em entrevista a uma TV paraense, quando indagada se não temia por sua vida.

O assassinato da missionária aconteceu por volta das 7h30 do dia 12 de fevereiro do ano passado, um sábado. Ela seguia para uma reunião com colonos para tratar de questões referentes ao PDS. No caminho, encontrou os dois acusados, conversou com eles, e foi alvejada com seis tiros.

Fonte: Última Instância

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