Cuba completa um mês sem Fidel

AFPFoto de Fidel Castro divulgada pela imprensa oficial após a cirurgia

Foto de Fidel Castro divulgada pela imprensa oficial após a cirurgia

Cuba completa nesta semana um mês desde que Fidel Castro concedeu o poder a seu irmão Raúl, que está à frente de uma maquinaria em marcha para garantir a continuidade do governo comunista, enquanto persiste a questão sobre se o líder da revolução retomará o comando.

Pela primeira vez em seus quase 48 anos com as rédeas de Cuba em suas mãos, Castro delegou no dia 31 de julho, a duas semanas de completar 80 anos, suas funções como presidente, comandante em chefe das Forças Armadas e líder do Partido Comunista, após uma complicada cirurgia intestinal.

A transferência de poder, de forma provisória, provocou uma explosão de alegria inicial em Miami e pedidos de Washington por uma transição política, com uma apreensiva comunidade internacional e em um ambiente de calma na ilha, embora sob alerta militar.

Acostumados durante quase meio século a Fidel ou Raúl Castro dividindo a atenção dos cubanos em solenidades e nas notícias, os cubanos começam a receber uma nova imagem política: o seleto Bureau Político do Partido Comunista (PCC) é agora a cara do poder.

Raúl só foi visto duas vezes na imprensa e nenhuma em público, espaço ocupado pelos outros 19 membros do Bureau Político -liderado pelos irmãos Castro-, frisando a imagem do governo colegiado.

Até agora os mestres de cerimônia os citavam, assim como "outros membros do Bureau Político", para significar a presença desses funcionários ao lado da figura de Fidel Castro ou de Raúl.

Agora, membros do Bureau Político, com nome e sobrenome, encabeçam atos relevantes no primeiro mês de governo provisório, como uma maciça formatura de médicos, o 46o aniversário da Federação de Mulheres Cubanas e uma cerimônia na União de Escritores e Artistas de Cuba.

"Até que Fidel se recupere e retome suas atividades em dezembro, Raúl tem dado a nós a tônica de como serão as coisas depois da inevitável morte de Fidel", disse um funcionário de nível médio, que preferiu não se identificar.

Em prédios estatais são exibidas agora fotos de Raúl com o discurso de 14 de junho: "O Comandante em Chefe da Revolução Cubana é um só, e unicamente o Partido Comunista, como instituição que agrupa a vanguarda revolucionária e garante a unidade dos cubanos em todos os tempos, pode ser o digno herdeiro da confiança depositada pelo povo em seu líder".

Arturo López Levy, ex-diplomata cubano que vive em Denver (EUA), anticastrista, porém distante do exílio radical de Miami, considera que "Raúl é o líder de uma elite baseada nos quadros do Partido e nas Forças Armadas e fará o conveniente para reproduzir esse poder".

No Bureau Político há cinco generais, muito próximos a Raúl: Abelardo Colomé (66 anos, Ministro do Interior), Julio Casas (70, segundo nas Forças Armadas), Leopoldo Cintra (65, chefe do Exército Ocidental), Ramón Espinosa (66, Chefe do Exército Oriental) e Ulises Rosales (64), ministro do Açúcar.

Também há três dirigentes históricos, Balaguer (74) e José Ramón Machado (75), com grande peso no Partido e considerados ortodoxos, e Juan Almeida (79).

Três intermediários, Ricardo Alarcón (69), presidente do Parlamento, diplomata experiente e homem-chave frente aos Estados Unidos; Pedro Ross (66), dirigente sindical; e Esteban Lazo (62), atual ideólogo do PCC.

O restante pertence à segunda geração, profissionais que dirigem a economia como o vice-presidente Carlos Lage (54), a ministra da Indústria, Yadira García (50), Jorge Luis Sierra (44) responsável pelo Turismo; a cultura como Abel Prieto (55) ou províncias importantes.

Para Frank Mora, especialista em assuntos militares cubanos do Colégio Nacional de Guerra em Washington, "o estilo de mobilização popular de Fidel enfatiza sua autoridade carismática, mas o futuro governo não pode fazer o mesmo, daí a necessidade de construir e inclusive legitimar organizações políticas como o Partido".

O PCC recupera assim um protagonismo que parecia ter perdido depois de seu V Congresso realizado em 1997. O VI deveria ter ocorrido cinco anos depois e ainda não foi convocado.

Em julho, uma plenária do Comitê Central do PCC reviveu o Secretariado, estrutura que havia desaparecido em 1991. Foi o próprio Fidel quem deu a tônica ao dizer: "É preciso que o Partido se fortaleça como nunca".

Fonte: AFP

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