Políticos gastam o que não têm para disputar eleições em Alagoas

Inteligentes, astutos ou ingênuos? Essa é a pergunta que o eleitor se faz quando confere os registros dos candidatos às eleições deste ano. É preciso pouco tempo para ver que alguns candidatos não têm bons níveis de escolaridade, não possuem bens a declarar e delimitam valores milionários como limite de gastos na campanha.

Que todos são políticos – ou espertos, no sentido figurado da palavra –, o eleitor sabe. Mas como explicar os gastos de quem diz não possuir esse dinheiro e mesmo assim pretende entrar na disputa eleitoral, enquanto poderia utilizar o valor em favor próprio, o que daria para comprar frotas de carros, casas, terrenos e até veleiros.

É evidente que, também para eles, não falta imaginação. Todos sonham em ocupar o cargo que estão disputando e não só para representar o povo, mas também para aproveitar os “benefícios” e status de entrar no ramo da política.

Provas dessas “glórias” da política são as diversas gerações de famílias que se revezam para ocupar cargos executivos, em todo o Brasil. Não é difícil ver o neto ocupando o cargo que já pertenceu ao avô ou até mesmo constatar várias gerações da mesma família no comando de uma cidade.

Entretanto, a maior ironia é saber que muitos candidatos – os que dizem não possuir bens e afirmam que têm baixa escolaridade, mas mesmo assim gastam demais – são desconhecidos da maior parte da população; não têm boas propostas e dificilmente terão alguma chance ao concorrer com os políticos graúdos da disputa eleitoral.

Para o cientista político Alberto Saldanha, eles são motivados por grandes sonhos para entrar no meio da política. “A ilusão de ser conhecido, como um líder comunitário ou o síndico do prédio, e a idéia de que ser político é garantir um emprego motivam essas pessoas, que, na maioria das vezes, não têm vínculos com o partido, mas querem chegar ao poder por conta própria”, explica.

Segundo o cientista político, o dinheiro milionário gasto pelos candidatos não sai totalmente do próprio bolso, mas vem de doações, eventos ou do partido/coligação a que pertencem.

Essas informações também levantam outro possível objetivo de políticos ao entrar na disputa eleitoral. São os conhecidos “laranjas”, candidatos que não falam de propostas, mas concorrem às eleições somente para caluniar adversários, motivando famosas trocas de acusações, que terminam com censuras e direitos de resposta. Para reconhecê-los, basta assistir ao horário eleitoral gratuito.

Consciência política

Apenas o eleitor pode impedir a entrada desses “espertos” no poder, tarefa que ficou mais fácil este ano, com a Minirreforma Eleitoral, que obriga os candidatos a definir um limite para os gastos da campanha política e a divulgar três prestações de contas.

Em Alagoas, o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra os dados de mais de 350 candidatos que disputam o pleito de outubro. São vendedores, estudantes, empresários e outros profissionais, que sonham em entrar para o ramo da política e, por isso, investem na produção de jingles, vinhetas, bandeiras e eventos para a promoção da candidatura.

“O sistema partidário está bastante fragilizado, então a questão pessoal de cada candidato conta mais. Hoje o eleitor analisa a simpatia do candidato e o poder econômico que ele representa. Numa sociedade em que a maioria dos eleitores não é esclarecida, o poder econômico é mais determinante. Mas também temos pessoas mais conscientes, com mais informação, que tem o voto definido pelos valores políticos. O ideal é que todos votassem conscientes”, analisou o cientista político, Alberto Saldanha.

Uma olhada rápida na lista é o bastante para conferir que, valores como 50 mil reais – que significa muito para a maioria da população de Alagoas – quase não são encontrados nos relatórios dos candidatos do Estado. Ao contrário, a maioria dos políticos definiu o limite de gastos acima dos 100 mil reais, chegando a 20 milhões.

Abaixo estão algumas informações dos candidatos a Governo, Senado e Presidência.

Saiba mais sobre os candidatos ao Governo:

Ricardo Barbosa (PSOL) tem curso superior completo, é advogado, declarou R$ 65 mil em bens e limitou os gastos da campanha em R$ 300 mil.

Gerson Guarines (PAN) tem curso superior completo, é administrador, declarou R$ 175 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 500 mil.

Eudo Freire (PSDC) tem ensino fundamental completo, é servidor público estadual, não declarou nenhum bem e limitou os gastos da campanha em R$ 1 milhão.

Lenilda Lima (PT) tem curso superior completo, é professora do ensino médio, declarou R$ 60 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 1,5 milhão.

André Paiva (PRTB) tem curso superior completo, é advogado, não declarou nenhum bem e limitou os gastos da campanha em R$ 3 milhões.

Elias Barros (PTN) tem curso superior completo, é advogado, não declarou nenhum bem e limitou os gastos da campanha em R$ 5 milhões.

João Lyra (PTB) tem curso superior completo, é industrial, declarou R$ 235.683.466,97 milhões e limitou os gastos da campanha em R$ 16 milhões.

Teotonio Vilela Filho (PSDB) tem curso superior completo, é senador, declarou R$ 144.891.175,69 milhões e limitou os gastos da campanha em R$ 20 milhões.

Saiba mais sobre os candidatos ao Senado:

Otávio Cabral (PSOL) tem curso superior completo, é professor de ensino superior, declarou R$ 65.905,70 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 300 mil.

Alfonso Dacal (PSDC) tem ensino fundamental completo, é empresário, não declarou nenhum bem e limitou os gastos da campanha em R$ 500 mil.

José Maria (PAN) tem curso superior completo, é bancário e declarou R$ 115 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 500 mil.

Fernando Collor (PRTB) tem curso superior completo, é economista, declarou R$ 4.806.389,37 milhões e limitou os gastos da campanha em R$ 1 milhão.

Armando Lobo (PTN) tem curso superior completo, é advogado, declarou R$ 159.169,07 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 2 milhões.

José Thomaz Nonô (PFL) tem curso superior completo, é deputado, declarou R$ 2.452.137,87 milhões e limitou os gastos da campanha em R$ 3 milhões.

Galba Novais (PL) tem curso superior completo, é advogado, declarou R$ 342.763,21 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 5 milhões.

Ronaldo Lessa (PDT) tem curso superior completo, é engenheiro, declarou R$ 518.700,98 e limitou os gastos da campanha em R$ 6 milhões.

Saiba mais sobre os candidatos a Presidência:

Rui Pimenta (PCO) tem curso superior completo, é jornalista e redator, declarou R$ 100 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 100 mil.

Heloísa Helena (PSOL-AL) tem curso superior completo, é senadora, declarou R$ 121.136,14 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 5 milhões.

Cristovam Buarque (PDT) tem curso superior completo, é professor de ensino superior, declarou R$ 769.248,7 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 20 milhões.

José Maria Eymael (PSDC) tem curso superior completo, é advogado, declarou R$ 985.832,95 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 20 milhões.

Luciano Bivar (PSL) tem curso superior completo, é empresário, declarou R$ 8.828.024,67 milhões e limitou os gastos da campanha em R$ 60 milhões.

Geraldo Alckmin (PSDB) tem curso superior completo, é médico, declarou R$ 691.699 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 85 milhões.

Lula (PT) tem ensino fundamental completo, é presidente, declarou R$ 839.033,52 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 89 milhões.

Ana Maria Rangel (PRP) tem curso superior completo, é cientista política, declarou R$ 42 mil e limitou os gastos da campanha em R$ 150 milhões.

De onde vem tanto dinheiro?

Já para os candidatos à proporcional em Alagoas há casos, no mínimo, hilários. Candidatos que não têm nenhum bem a declarar e aparecem como autônomos ou desempregados estipulam que podem gastar até R$ 2,8 milhões.

Como a relação é extensa, vale conferir alguns casos. Acesse o site do TRE
www.tre-al.gov.br, vá em Eleições, depois Eleições 2006 e clique em
Divulgação de dados dos candidatos. No Estado de Alagoas clique em deputados federais e estaduais; vai aparecer tudo sobre cada candidato.

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