“Sempre me envolvo com as histórias”, diz Caco Barcellos sobre a profissão

Há sete anos no comando do 'Profissão Repórter', o jornalista fala sobre sua entrega ao programa, sua rotina de exercícios e a relação com os filhos

Cleiby Trevisan /Ed. GloboCaco Barcellos

Caco Barcellos

Começo de noite na sede da TV Globo, em São Paulo. Caco Barcellos faz um balanço do Profissão Repórter, programa que completa sete anos no ar, quando é interrompido por uma fã. Além de parabenizá-lo pelo trabalho, ela quer sugerir ideias para uma próxima reportagem. “É sempre assim. Eu procuro ouvir todas as pessoas, isso nos abastece de ideias”, revela. Apesar da tranquilidade com que trata alguns temas polêmicos em suas investigações, ele garante se envolver fortemente com os assuntos. “Tento esconder isso por timidez, mas sempre me envolvo com as histórias. Se elas caminham para a injustiça, é um envolvimento que vira indignação”, explica.

Aos 65 anos, ele garante ainda sentir vigor para sair às ruas atrás de notícias e afirma que a idade só trouxe pequenas limitações físicas no campo de futebol, uma de suas paixões. “Percebo que a recuperação muscular é mais lenta do que era antes”, conta. Pai de três filhos – Ian, de 38 anos, Iuri, de 24, e Alice, de 16 – e casado há 24 anos com a estilista Beatriz Fragelli, ele diz que procura ser bastante presente no ambiente familiar. “Sou muito amigo dos meus filhos, eles são parceiros e presentes na minha vida. A gente tem os nossos esconderijos na cidade e nos encontramos para conversar. Cada um está em uma fase diferente da vida”, orgulha-se.

QUEM: O Profissão Repórter completou sete anos no ar. Qual o balanço?
CACO BARCELLOS: O balanço é ter a certeza de que a gente veio solidificando o processo de formação dos jovens que trabalham na nossa equipe. Nossa dinâmica faz com que todos participem de todas as fases da produção de uma reportagem. Durante esse tempo, alguns pegaram fortemente esse desejo de estarem em trabalhos autorais e hoje são produtores de documentários de 30 minutos. Isso costuma ser realizado por profissionais diferentes, mas eles executam tudo sozinhos.

QUEM: Qual a vantagem desse modelo?
CB: Muita gente pensa que é uma forma de obrigar um profissional a fazer o trabalho de cinco – mas eu não vejo assim. Para mim, é uma maneira de contar a história que você quer, da maneira que você quer. A nossa praia é explicar por que aquilo está acontecendo e para fazer isso é preciso tempo para se aprofundar.

QUEM: Como esse tempo ajuda?
CB: Quando a gente chega aos lugares, a situação é de Facebook: ou seja, todo mundo se apresenta do jeito que acha mais conveniente. No segundo dia, o Facebook não é bem aquele… Em uma semana, talvez, apareça a verdadeira história. Verdadeira entre aspas, porque existe sempre um elemento subjetivo em cada história. A gente tem sempre a preocupação e a obrigação de mostrar o que vai além do telejornal.

QUEM: Você se envolve nas reportagens que faz?
CB: Muito. Tento esconder isso por timidez, mas sempre me envolvo com as histórias. Se elas caminham para a injustiça, é um envolvimento que vira indignação, dá vontade de dar um troco, de expor o que acho injusto.

QUEM: Algum programa marcou?
CB: Fiquei muito triste com um programa recente sobre cirurgias plásticas. A quantidade de meninas insatisfeitas com o que a natureza oferece é grande! Uma garota que acompanhamos era linda, por que modificar o corpo? Era uma trabalhadora de baixa renda que se endividou para fazer cirurgia.

QUEM: Você acompanha a repercussão do programa nas redes?
CB: Não. Temo um pouco as redes sociais, elas viraram palco de linchamento moral. Tento me proteger, é muita agressão, incomoda, dá vontade de responder. As pessoas que se expressem como quiserem e eu deixo pra lá.

QUEM: Você está com 65 anos. A idade trouxe alguma limitação?
CB: Não. Sinto mais quando jogo futebol do que no trabalho. Os zagueiros hoje adotaram a linha dos técnicos, que pregam o futebol violência. Então tenho sofrido muita pancada e a recuperação muscular é mais lenta. Deixei de seguir carreira no futebol porque no Sul (onde ele nasceu) prevaleceu a mentalidade do futebol força: o atacante tinha que ser um armário que derrubasse os zagueiros. Eu, um cara franzino, saí fora. Depois, comecei a observar melhor o mundo e vi que os grandes atacantes tinham meu perfil físico: Romário, Zico, Marcelinho Carioca… Mas aí foi-se o tempo.

QUEM: Sofreu por ser baixinho?

CB: Na adolescência, sim. Eu ficava preocupado… Depois, descobri que eu tinha uma certa harmonia e que combinava, não era tão grave assim. Atualmente, tenho 1,70 metro e 67 quilos e estou bem. Se eu tivesse 1,90 metro de altura, acho que faria mal para mim.

QUEM: Segue alguma rotina de exercícios?
CB: Jogo futebol regularmente, toda semana. A gente brinca que é o campeonato do volume morto, com pessoas da minha faixa etária! É organizado: tem juiz, bandeirinha. Para mim, jogar significa me manter ativo, com saúde. Além disso, faço fisioterapia para recuperação e fortalecimento muscular. De vez em quando, faço natação, mas pouco.

QUEM: E alimentação?
CB: Sigo os princípios macrobióticos: não levo para casa enlatados nem engarrafados. Só alimentos naturais e orgânicos. Mas não sou radical. Sou gaúcho, gosto de churrasco, então, de vez em quando eu me permito. No dia a dia, sempre como carne branca: peixe ou frango, cozidos no vapor. Todo dia ingiro muita fruta, legumes, proteína e arroz integral.

QUEM: Você é bastante preocupado com a saúde. A idade é algo que o preocupa?
CB: A idade não me incomoda, mas, sim, a ideia de finitude: o fato de saber que isso vai acabar. Por que tem que ser assim? Evidentemente, não quero antecipar esse fim e por isso me cuido. Tenho trabalhado essa ideia, porque a gente não está aqui para durar, mas para viver.

QUEM: Algumas pessoas acreditam em vida após a morte. E você?
CB: Sou cético em relação a vida após a morte. Espero sinais, mas as pessoas que eu amava e se foram não deram nenhum.

QUEM: Você tem três filhos. Como é o Caco pai?
CB: Sou muito amigo dos meus filhos, eles são parceiros e presentes na minha vida. A gente tem os nossos esconderijos na cidade e nos encontramos para conversar. Cada um está em uma fase diferente da vida. O de 38 anos é repórter cinematográfico, o de 24 é economista e a mais nova é uma leitora voraz. Ela quase não vai a baladas, cheguei a ficar preocupado!

QUEM: Como mantém um casamento de 24 anos?
CB: A gente precisa recriar o tempo todo. E nós criamos um sistema que deu certo.

Fonte: Quem

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