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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Cartazes

A cena é de partir o coração e, infelizmente, é cada vez mais comum: ao pararmos no sinal vermelho, homens, mulheres e crianças exibem na nossa cara, ou em nossos pára-brisas, um cartaz tosco de papelão com letras pintadas num português sofrível, palavras de súplica pedindo ajuda por estar com fome, por ter filhos passando necessidade, por estar sem emprego sendo um pai de família e por aí vai…

Acredito que nem as melhores agências de publicidade do país pensaria em algo mais eficaz, chocante  e consternador que aquelas cenas que assistimos praticamente todos os dias. Se estivermos de bucho cheio, nossa família idem e ainda por cima planejando qual será o celular novo a ser comprado e tivermos um pouquinho só de coração, nosso remorso e comiseração nos farão morrer por dentro -embora dure apenas alguns segundos até pararmos  novamente no próximo sinal.
 Sim, todos sabemos que pessoas passam fome ou coisa pior até, mas quando essa realidade que mantemos subjacente na  nossa consciência aparece estampada na nossa frente com rostos, corpos e cartazes, somos lembrados que poderíamos ou deveríamos fazer alguma coisa.
A pergunta é: adianta? Sabemos que a resposta se vier fácil, estará errada.  O senso comum diz que se  dermos qualquer trocado, estaremos nutrindo um círculo vicioso que alimenta a preguiça e a miséria.  Porém, é lógico que momentaneamente traz um benefício, ainda que a curtíssimo prazo -“quem tem fome tem pressa”, diriam alguns.
  Então voltando à cena tão comum em nosso dia a dia,  o que fazer afinal ? Bem, às vezes  olhamos rapidamente para o console do carro para ver se há algum dinheiro miúdo à vista e em seguida, tentamos nos blindar emocionalmente -ou então  miramos  num ponto qualquer além  daquele pobre coitado desfocando-o da nossa mente , ou mexemos no celular demonstrando alguma indiferença, ou olhamos nos olhos da pobre criatura e fazemos cara de pena enquanto balançamos a cabeça negativamente.  É claro que eventualmente nos damos ao trabalho de baixar o vidro e depositar naquelas mãos o nosso pouco que para eles pode ser muito.
 Então ficamos assim: pela cidade inteira vemos cartazes e outdoors super coloridos nos mandando comprar isso e aquilo, e agora também cartazes cor-de-burro-quando-foge com dizeres nos pedindo ajuda.
 Sabemos que a pandemia aumentou consideravelmente a quantidade de pessoas sem renda, então olhar na cara dos motoristas e dar o seu recado de forma objetiva e comovente, faz sim bastante efeito.  A nós, privilegiados, resta a reação  do sentimento do momento, seja uma ajuda ou fingir indiferença -afinal são muitos sinais que paramos todos os dias. Mas, nenhuma ação a longo prazo, nada planejado de fato, apenas a consternação e o esquecimento, até o próximo sinal vermelho.

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