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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Cupim

Assim que acaba o serviço, o dono da empresa de descupinização me alerta:

—Doutor, lembre-se que com seis meses precisamos fazer tudo de novo!
Às vezes acho que o tal senhor tem um pacto com a bendita praga que volta e meia assola minha casa. Com seis meses e um dia me liga o  jardineiro:
—Doutor, tenho notícia boa não. O cupim  tá “capeste” aqui!
—Mas rapaz, semana passada tive aí e tava tudo certinho!
—Ah doutor, o senhor não sabe como é? Os danados ficam ali, escondidinhos, esperando o efeito do veneno passar. Então basta dar uma bobeirazinha e os bichos voltam tudo de novo!
—Está bem, vou chamar a descupinização!
 Indignado com a morte de mais uma motorista de Uber aqui no nosso estado, penso no absurdo de tal tragédia —uma jovem trabalhando para ganhar a vida é brutalmente assasinada e tem seu corpo jogado às margens de um rio na periferia de Maceió, o Paraíso  das Águas.
Quando o ex-promotor Alfredo Gaspar de Mendonça assumiu a Secretaria de Segurança no início do governo Renan Filho, Alagoas estava com os índices de criminalidade nas alturas e nossa capital figurava entre as mais violentas do Brasil. A sensação de insegurança por aqui era terrível e parecia que havíamos mesmo perdido a batalha contra os bandidos. Mas o que vimos em seguida,  foram ações bem orquestradas de logística e inteligência, bem como o aumento do efetivo policial nas ruas, fora  o temperamento enérgico e destemido do novo secretário —isso sem falar de um acordo velado e não assumido dos demais setores da sociedade que apoiaram ou fecharam os olhos para  certas… ações menos nobres e republicanas,  porque todos entendiam que o momento pedia aquele estado de exceção,  a fim de tomarmos de volta a cidade que estava de fato entregue aos marginais.
Pois bem, o resto todo mundo já sabe: Alfredo Gaspar foi picado pelo mosquito da vaidade política, passou a achar pouco o cargo de Secretário de Segurança, almejou alçar voos mais altos e largou a tal secretaria. Então aquele momento de tranquilidade que nós   experimentávamos  com tanto alívio , vai aos poucos  se dissipando —começamos a perder a tal sensação de segurança, que vejo como o mínimo que o Estado deveria nos proporcionar. Aqui e ali começam a brotar casos absurdos de crimes  como a da pobre motorista de aplicativo, tudo fruto do esmorecimento das ações ostensivas e de inteligência que realmente melhoraram  a segurança do cidadão  nesses últimos anos.
Sabemos que bandidagem não desaparece. Dificilmente um marginal vai para trás do balcão de uma farmácia trabalhar honestamente e ganhar um salário, após experimentar tirar, em um único dia,   de quem o  fez ao longo do mês.
Como bem disse o meu jardineiro:
 —Então eles ficam ali, escondidinhos,  esperando o efeito do veneno passar. Então basta uma bobeirazinha e os bichos voltam tudo de novo.
—Chamem a descupinização!

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