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O glamour da páscoa, aos deitados no chão

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Cena banal.
No chão do hospital e da maternidade, pessoas empilhadas à espera de atendimento.
Temem a superbactéria. Hospitais brigam entre si.
Empilhadas, no aguardo da Páscoa, meditam sobre a dignidade humana.
O chão é frio. E o mal é banal, como diria Hanna Arendt.
Como antes da Primeira Guerra até o fim da Segunda, a filósofa alemã percebia uma nação de minoria em seu país.
Havia uma separação oficial.
E no meio dela os sobreviventes dos campos de extermínio nazistas, os refugiados e os apátridas.
Eram tratados como animais pelo Estado, erguido por Hitler.
Valiam menos que um porco. E pérolas, como se sabe, não são jogadas aos porcos.
Os subjugados- assim como os empilhados no hospital e na maternidade- degradam sua sobrevivência.
Os indignos dali são mais indignos ainda aos exterminados em outras bandas da cidade.
Os mortos do tráfico são aviltados da sua condição de gente. Desqualificaram-se após a era do vício. Perderam a consideração, a estima, a nobreza.
Os moradores de rua não ingressaram na teoria da evolução. Vencidos, aguardam a morte porque em terras separatistas, as autoridades não respeitam o direito de respeitar. Ou não protegem a dignidade da pessoa humana.
A lista cresce: os despejados pela Defesa Civil nas encostas, os “injeitados” na parte alta da capital- em cidadelas costuradas pela desilusão, a desesperança, a autodestruição.
São refugiados na própria terra natal, exterminados a partir do silêncio e apátridas, mas com pátria- endereço próprio, ainda que indigno.
Em terra de oposição violenta às posições do outro, a opinião dos que estão no chão vale menos que a lama enfeitando a pérola.
A ainda- e persistente, mas nunca para sempre- lambança na boca do porco.

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