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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Pirulito que já bateu

Há pouco tempo por forças das circunstâncias, fui, digamos, obrigado a frequentar baladas e shows como fazia na minha juventude. Então era eu ali, perambulando, sentindo-me deslocado, porém com os olhares sempre atentos aos comportamentos e costumes dessa nova geração, observando a maneira como se divertem e se relacionam hoje em dia.
Calma, calma, não chegava e sentir-me um ET nesses eventos, pois sempre tive a cabeça aberta e disposição juvenil para encarar longas horas de muita música e badalação. Porém, a maturidade nos faz enxergar a vida com menos encantamento e mais senso crítico —penso que por um lado isso é ruim e por outro isso é Ótimo —com “O” maiúsculo mesmo.
Bem, dentre as coisas que mais me chamaram a atenção, foi a quantidade de rapazes e moças com um pirulito na boca. Isso mesmo, vários jovens circulando serelepes com um singelo pirulito dançando entre os dentes, com os lábios em forma de biquinho. Pensei de início que seria a necessidade da “geração mimimi” em mostrar sua infantilidade tardia, com um visual Lolita como parte do seu ensaiado visual. Mas conversando com amigos, descobri que a causa era outra.
Antes que eu continue, vale o alerta que este texto vale apenas para a geração “trinta e poucos” para cima, pois os mais jovens o acharão careta e démodé, pois são incapazes de fazer o distanciamento necessário para avaliarem adequadamente os costumes e comportamentos de sua geração.
Pois bem, recebi então a explicação que aquele inocente pirulito na boca, era usado com uma função, digamos, pouco infantil. Nessas baladas, é bastante comum o uso de drogas estimulantes e alucinógenas como LSD e ecstasy, as tais balas e doces, que torna tudo, digamos, mais interessante. Acontece que muitas vezes, esse consumo provoca um efeito colateral estranho: o ranger e apertamento involuntário dos dentes, além do ressecamento da mucosa bucal. O pirulito entraria ali como um recurso descolado para minimizar o desconforto desses tais efeitos. É meu amigo e minha amiga coroa, eu também fiquei impressionado…
Acontece que não parou por aí, fui também informado por mais de um habitué dessas baladas, que provavelmente metade dos chupadores de pirulito ali presentes, não havia consumido alucinógeno algum. Mas, por que cargas d’água ficavam feito bobos ostentando o palito saindo dos seus biquinhos? “Ah, para pensarem que tomaram os paranauês e assim parecerem descolados…”
É inevitável a comparação com algumas gerações atrás, onde os malucos da época disfarçavam o consumo de suas drogas favoritas. Fumavam, inalavam ou injetavam e depois curtiam cada um do seu modo de acordo com a sua doideira, mas não ostentavam um sinal luminoso que anunciava: “vejam como sou cool!”
Mas numa análise mais acurada, esse comportamento vem bem ao encontro do nosso momento, onde se joga sempre para a torcida. Os parabéns não são dados apenas ao aniversariante e sim num grupo ou rede social. O que você come é fotografado e exposto, assim como as viagens e outras conquistas —amorosa, inclusive.

Sinto-me agora como o descobridor da Pedra de Roseta que revelou à velha guarda o significado de um singelo pirulito na boca da moçada. Agi como um infiltrado que ousou adentrar no mundo das baladas de hoje em dia. Com certeza nunca mais veremos um inocente pirulito como antes.

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