Saudável indiferença Indagado sobre a corrupção no Vaticano, o Papa Francisco confirmou saber da sua existência e mesmo assim permanecia tranquilo; então citou um sábio pensamento italiano que diz que “para viver em paz é necessária uma saudável indiferença”. Já ouvi coisa semelhante dita de diversas outras maneiras, mas não com tanta simplicidade e objetividade....
Saudável indiferença
Indagado sobre a corrupção no Vaticano, o Papa Francisco confirmou saber da sua existência e mesmo assim permanecia tranquilo; então citou um sábio pensamento italiano que diz que “para viver em paz é necessária uma saudável indiferença”.
Já ouvi coisa semelhante dita de diversas outras maneiras, mas não com tanta simplicidade e objetividade. Acredito ser necessária essa postura -que pode e deve ser exercitada- a fim de que tenhamos um pouco de paz nesse mundo assolado por tantas mazelas, grandes ou pequenas, distantes ou próximas a nós. O oposto disso seria um “doentio envolvimento” -esta sim seria a fórmula perfeita para se viver num turbilhão de pesar e sofrimento. Devemos, portanto, selecionar nossos envolvimentos e tentar torná-los não tão doentios assim.
Mas, isso significaria ser frio, impessoal e distante? E nossa família? E nosso amigos? E mesmo pessoas desconhecidas que através da pletora de informações que recebemos diariamente, nos mostra que o mundo é realmente muito cruel , não mereceriam também um pouco de nossa compaixão, ajuda e compadecimento? Claro que sim, mas depende do que se quer para si e o quanto cada um suporta diante dos terríveis fatos absorvidos.
Numa leitura rápida num jornal morremos de raiva dos políticos, de ódio dos marginais, de tristeza por uma família morta num acidente e de pena dos refugiados lá para as bandas da Alemanha -então eu pergunto: vale a pena tanto envolvimento, ou melhor seria lê-las com a tal saudável indiferença, assim como se lê as páginas de esporte? Acredito que seja questão de sobrevivência mesmo , afinal o mundo não é para amadores -ou você acha que o médico plantonista do Pronto-Socorro duraria muito tempo se se envolvesse pessoalmente com a convergência diária de tragédias que lhe cai nas mãos? Esses intuitivamente vão nutrindo um distanciamento dentro da medida do possível, a fim de tomar as decisões corretas e voltar para sua família ao fim do dia, e não pular de uma ponte desanimado e abatido.
Se o Papa Francisco com toda sua assessoria de querubins e serafins, ainda necessita exercitar uma saudável indiferença em seu dia a dia, imagine nós, pobre mortais e pecadores.
Então acredito que essa saudável indiferença deva ser usada mais como um escudo que como uma arma -nossa mente e nosso coração é quem irá decidir caso a caso- nós apenas sentimos os efeitos diante do que se chega aos nossos olhos e ouvidos.