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Luis Vilar

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Se eu ficar em casa, será que a noite ainda estou

Que saudades eu tenho do tempo em que eu dizia para minha esposa: “Meu amor, estou saindo para trabalhar, mas não sei se chego vivo”. Agora, com os assaltados “delivery”, começa uma nova era. O tempo de uma nova indagação: “Amor, será que se eu ficar em casa, hoje a noite ainda estarei vivo e nenhum bandido terá entrado aqui?”. A época em que ela responde: “Que é isso? Deixa de exagero. Você sabe que se a gente não reagir, eles vão levar o carro, a minha bolsa, nossos documentos, mas nos deixarão vivos”.

Não é novidade que a violência anda comendo no Centro, mas é de ficar estarrecido quando – diante da falência do aparato da segurança pública – a gente passa a ter saudades dos bandidos de antigamente, pelos fatos deles serem menos ousados e respeitarem algumas linhas imaginárias. Eu sou do tempo em que ladrão não roubava padre, hoje – se brincar – levam tudo que tem na Igreja e ainda riscam na batina do infeliz: “Zé Pivete esteve aqui!”.

Não quero fazer um tratado sociológico sobre as causas da violência. Apenas, ressaltar a indignação que se pode ver externada em quase todas as pessoas deste Estado. Claro que a ausência de planejamento para a segurança pública, durante séculos, ajudou para falir de vez o sistema. Quando falo de políticas de segurança pública, são aquelas que agem em longo prazo, aliadas a Educação, Saúde, entre outras. Pois, violência não é apenas caso de polícia.

Há violências piores, como a que o Estado cometeu durante anos com os alagoanos: “Casa Grande e Senzala”. Porém, é preciso de uma resposta enérgica e urgente. Caso contrário, chegará o dia em que acharemos normal até as frases históricas do bestial político: “Estupra, mas não mata”, por exemplo. Nesta semana, foram contabilizados mais de 10 assaltos de grande porte, inclusive com roubos de veículos.

Duas invasões a residências (motivo pelo qual iniciei meu primeiro parágrafo daquela forma), e diversos homicídios.

Não estou interessado se os índices de Alagoas são compatíveis ou comparáveis com os grandes centros. Uma das autoridades da segurança – durante entrevista – me disse: “Estes números são normais, pois correspondem às grandes capitais urbanas do País”.

Não! Definitivamente, estes números não são normais. Nem aqui em Alagoas, nem em qualquer outro estado da federação. Não é normal! Querem o quê? Fazer com que a gente não fique mais indignado e passe a achar normal, como faz um amigo meu, que sai de casa com uma parte do dinheiro escondida no bolso e outra na meia. Segundo ele: “Este dinheiro que vai no bolso é do ladrão caso ele apareça para pegar o que lhe pertence”.

É isto que tem que ser normal? O preço por se estar em um grande Centro? Hein? É um contexto como este, em que morre a indignação, que nasce vários males sociais que vão sendo justificados pela ausência do poder público. Entre estes males, os justiceiros de bairro; a justiça com as próprias mãos, a banalização da violência e do crime e conseqüentemente a oficialização da barbárie. Segurança pública é dever do Estado e responsabilidade de todos. Não percamos a indignação.

Ao invés de sentirmos saudades do tempo descrito no primeiro parágrafo deste texto, que tal sentirmos saudades do futuro que ainda não veio, só para começarmos a ir atrás dele…

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