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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Super-Homem

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Super-homem
Não me recordo o nome, mas lembro-me tratar-se de um filme europeu e ambientado na Turquia. À certa altura, o protagonista conhece um sujeito completamente louco: bebia, fumava e cheirava em doses cavalares tudo que via pela frente, bem como se metia em todo tipo de confusão, revelando um comportamento errático e autodestrutivo. Ao ser questionado sobre qual motivo o levava a viver com tamanha intensidade de risco e destemor à própria vida, o tal sujeito revelou que há alguns anos sua mulher e sua única filha morreram num acidente, e continuou: “Desde então tornei-me o super-homem. O que podia acontecer de pior comigo já aconteceu. Tornei-me indestrutível. Nada mais pode me atingir”.
Já faz muitos anos que assisti esse filme, mas como se pode ver esta passagem tornou-se inolvidável para mim. Jamais esqueci o sujeito que recebeu aqueles superpoderes malditos e com isso tornou-se um super-herói infeliz.
Sempre que me lembro dessa estória tento imaginar como é viver sem amores -apenas dores- que conferem uma armadura indestrutível tanto quanto o super-homem ou o homem de ferro. Porém, é sabido que sob a carapaça ainda reside um coração frio e entristecido, incapaz de manter-se aquecido e vulnerável. Aliás, acredito que nada seja mais humano e animador que cultivarmos a vulnerabilidade dos que amam. Colhemos ao longo da nossa vida pessoas pelas quais tornamo-nos frágeis e temerosos como uma fina casca de ovo. Em contrapartida, por elas passamos a ser capazes de lutar bravamente até a morte se preciso for. É a contradição do herói frágil que lutaria como um leão, em contraste ao herói indestrutível sem uma causa justa ou um forte motivo pelo o qual lutar com uma faca nos dentes.
Ser forte então é ser fraco? Ser frágil, portanto, é possuir uma bravura latente pronta para eclodir ao menor sinal de perigo ao objeto do nosso amor? Superpoderes são bons apenas no cinema e nos gibis. Melhor acumular o que nos deixa frágeis e felizes. Não faço questão de uma carapaça protetora sob a qual haveria um coração frio e entristecido. Entre ser o super-homem indestrutível, prefiro ser o incrível Hulk –o frágil que carrega dentro de si o monstro latente e devastador. Basta ser provocado…

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