Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original.
No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.
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Ouvi recentemente a expressão “Suspensão da Descrença” que foi eternizado pelo poeta inglês Samuel Taylor Coleridge e que trata-se de um acordo implícito onde os autores oferecem entretenimento, emoção e fantasia e em troca os espectadores oferecem sua confiança e, temporariamente, fingem ignorância e cancelam seus julgamentos. . O termo foi cunhado para obras literárias,...
Ouvi recentemente a expressão “Suspensão da Descrença” que foi eternizado pelo poeta inglês Samuel Taylor Coleridge e que trata-se de um acordo implícito onde os autores oferecem entretenimento, emoção e fantasia e em troca os espectadores oferecem sua confiança e, temporariamente, fingem ignorância e cancelam seus julgamentos.
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O termo foi cunhado para obras literárias, teatrais ou cinematográficas de ficção, onde aceita-se desde apocalipses zumbis a homens voadores, com o sensato objetivo de adentrar-se no universo fantástico da obra.
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Então, inevitavelmente, acabei fazendo uma justa correlação com o maior fenômeno do século XXI: as redes sociais.
. Sim, para as neocelebridades da internet, com seus incontáveis seguidores sobre os quais eles exercem suas influências, o termo cabe direitinho.
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Poderíamos então arriscar dizer que a Supressão da Descrença nas redes sociais seria quando o autor de conteúdo —ou “influencer”—oferece glamour, leveza, , positividade, good vibes, beleza, juventude, sucesso, auto estima nas alturas e relacionamentos amorosos invejáveis, enquanto em troca seus seguidores fingem demência , sentem-se parte do mundo dos seus ídolos e cancelam convenientemente seus julgamentos.
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E se fosse eu adentrar-me no universo dos filtros de fotos e vídeos, aí é que a Suspensão da Descrença estaria sendo utilizada em todo seu esplendor, na versão mais moderna do “me engana que eu gosto” —ou “me engana que eu reposto”.
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Ao suspendemos a descrença nas redes sociais, todo mundo fica lindo, feliz e bem sucedido. Os programas são os melhores do mundo e os amigos são os mais fiéis e descolados. Nesse acordo, nos encantamos e nos permitimos acreditar em todo esse glamour e felicidade, esquecendo por,um instante, que boa parte dos que sorriem nos selfies, acabam chorando no chuveiro —afinal sabemos que nem existem zumbis, nem homens voadores.
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