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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Te Devoro

Na belíssima música de Djavan “Te Devoro”, tem um trecho que diz: “Noutro  plano te devoraria tal Caetano a Leonardo DiCaprio”. Eu já havia lido  frase semelhante solta numa revista  alguns meses antes,  onde Caetano dizia que devoraria o conhecido ator americano.

Confesso que achei um pouco forçada a revelação homoafetiva do cantor e compositor baiano, mas cada um fala o que quer —só lembrando que estávamos no fim dos anos 90, onde não havia essa apologia e patrulhamento a favor de manifestações homossexuais veladas, o que causou-me um certo espanto, sendo o mesmo casado à época e pai de três filhos.
Algum tempo depois, vi numa entrevista do próprio Caetano a explicação sobre a tal frase que foi inspiração para a música de Djavan, deixando-me perplexo como uma declaração tirada do seu contexto —intencionalmente ou não— é capaz de mudar completamente o seu sentido. Eu explico.
 Na comemoração do aniversário da célebre Semana de Arte Moderna de 1922, onde vários artistas brasileiros transformaram profundamente o cenário cultural brasileiro, um dos seus maiores expoentes foi  o escritor Oswald de Andrade com seu Manifesto Antropofágico, que propunha devorar as obras de artistas estrangeiros , transformado-as em arte com a nossa “pegada cultural” —seja lá o que isso for.
Então ao ser entrevistado  sobre a Semana de 22, o entrevistador perguntou-lhe qual artista do cenário mundial  ele devoraria hoje. Após pensar um pouco, Caetano respondeu com sua notória malemolência  com uma pergunta irônica: “Quem eu devoraria hoje ? O Leonardo DiCaprio ?
Estávamos em meados de 1997 onde o megassucesso Titanic elevava o jovem ator americano ao estrelato. O baiano ironizou a pergunta que pretendia ser profunda sobre o cenário cultural do momento , mas acabou tendo a sua fala tirada do contexto, fazendo crer que desejava devorar inteiro o jovem mancebo.
  Lembrei-me dessa história que serve como lição de como fragmentos da verdade pode virar uma mentira inteira. E caso me fizessem hoje mesma pergunta, provavelmente eu responderia de bate-pronto:
-Eu devoraria a Anita!
Vrau!

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