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Crônicas e Agudas por Walmar Brêda

Walmar Coelho Breda Junior é formado em odontologia pela Ufal, mas também é um observador atento do cotidiano. Em 2015 lançou o livro "Crônicas e Agudas" onde pôde registrar suas impressões sobre o mundo sob um olhar bem-humorado, sagaz e original. No blog do mesmo nome é possível conferir sua verve de escritor e sua visão interessante sobre o cotidiano.

Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.

Tempo e pressão

 

Sempre que vou viajar para um lugar que não conheço, procuro estudar duas matérias às quais não valorizava tanto na época da escola: história e geografia. Gosto de saber, entender e sentir aquilo que estou pisando e olhando. Acredito  que isso amplia  bastante as sensações percebidas na experiência de uma viagem, além de evitar o equívoco de se pensar, por exemplo, que a Torre Eiffel é uma enorme antena de celular. 

Recentemente estava estudando sobre a Cordilheira dos Andes situada na América do Sul e descobri que sua formação deveu-se à mesma falha geológica que segue ao norte até a falha de San Andreas e que um dia poderá riscar do mapa boa parte do litoral da Califórnia, num terremoto devastador apelidado de “The Big One”. A cadeia montanhosa sul-americana teria surgido após a colisão de duas placas tectônicas, virando uma espécie de “quelóide geográfica”, formada ao longo de milhões de anos -aliás, exatamente como ocorre com todas as transformações na natureza, sendo sempre necessário para isso uma boa quantidade de tempo e pressão. 

Bem, posso concluir que a fórmula para o surgimento e transformação do mundo ao nosso redor é simplesmente essa: tempo e pressão. Sejam rios, vales, lagos, montanhas, florestas, desertos e mares, todos surgiram e transformaram-se no que são hoje por conta dessa combinação. Podemos ampliar a lista também com os seres vivos e suas particularidades: os que nadam, os que rastejam, os que andam , os que voam, os que dão frutos e fazem sombra -dos mais simples aos mais complexos como nós -todos frutos dessa fórmula mágica usada pela natureza. 

Então, adentrando no campo das ciências humanas, podemos constatar que cada um de nós também somos quem somos  pela mesma combinação de tempo e pressão. Porém, as pressões que recebemos para a nossa formação e transformação, não são forças como o vento, temperatura, vulcão, erosão, abrasão ou colisões de placas tectônicas, mas sim de fatores internos e externos que se encarregam de nos moldar apropriadamente para o mundo. Nossas placas tectônicas podem ser o choque entre pais e mães na nossa criação, bem como pressões sociais e mesmo intempéries das mais diversas. 

O ser humano é tão sujeito às transformações quanto a natureza, até porque dela também faz parte. As transformações que ocorrem em cada um, podem transformar indivíduos em montanhas ou em uma simples rieira. Uns sucumbem outros elevam-se. O processo é lento e contínuo, e estende-se por toda a vida, ou seja, sofremos pressão o tempo todo, mas nossa retração , adaptação e resistência são determinantes para nossa transformação e formação. 

Poderia estender-me dizendo que essa fórmula serviria também para famílias, leis, economias, populações e países, se fosse possível alongar-me ainda mais no texto -mas,  falta-me tempo nesse instante, pois já começo a sofrer uma certa  pressão  externa para encerrar a escrita.

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