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Uso de celulares em posições erradas provocas dores e danos na coluna

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Oito horas por dia diante de um computador no trabalho administrativo de contabilidade numa empresa, várias questões resolvidas pelo whatsapp, contatos nas redes sociais. O resultado de uma vida profissional mantida com o uso de computador e celular causou o  agravamento de um quadro de dor na coluna cervical (cervicalgias) da contadora Ava Melo.  Em julho deste ano, uma queda na rua a forçou a realizar uma cirurgia na coluna para tratar as hérnias nos discos da coluna vertebral. “A empresa adaptou todo o mobiliário do escritório depois que recebi o diagnóstico, mas o problema e o estilo de vida só agravaram minha situação”, conta Ava que agora espera que o pós-operatório chegue ao final.

De acordo com a fisioterapeuta e especialista em Clínica da Dor, Selma França, as patologias na coluna cervical estão cada vez mais comuns e em idades cada vez mais jovens. “Antes, a incidência da cervicalgia era maior com o avançar da idade e bastante relacionada à atividade profissional exercida. Hoje, com a mudança do comportamento e o uso excessivo dos aparelhos multifuncionais, a perspectiva da predisposição mudou”, diz a especialista, ressaltando que usuários por longos períodos e de modo inadequado podem desenvolver o problema. “As pessoas passam grande parte do  tempo utilizando aparelhos, cada vez menores, em posições que causam sobrecarga mecânica na cabeça e nos ombros, provocando muitas tensões e dores nessa região”, explica Selma.

Para se ter uma ideia do que isso significa, a fisioterapeuta destaca que a inclinação do pescoço para olhar o celular e a ação da gravidade, por exemplo, podem determinar um peso de até 75 kg sobre a cabeça. “Nessa posição, os músculos posteriores da coluna precisam trabalhar muito e ficam muito tensionados”, explica a fisioterapeuta.

“Na tentativa de enxergar melhor, as pessoas projetam o pescoço para frente e fazem deslocamento forçado da cabeça para longe do alinhamento correto da coluna. No caso dos smartphones, para enxergar letras menores, as pessoas comprometem a postura a  todo tempo”, destaca a especialista, lembrando que sintomas como perda de sensibilidade, formigamento e fraqueza nos membros superiores podem ser sinais de alerta para o problema.

Dano precoce
Ela ressalta que quando esse mesmo esforço é feito por crianças acontecem alterações importantes na curvatura da coluna vertebral, impactando diretamente no sistema de amortecimento e na curvatura da coluna. “Uma criança que sofre esse dano terá alterações posturais muito mais cedo”, diz, lembrando que, num passado recente, as crianças só perdiam a curvatura da coluna no período da adolescência,  conhecido como estirão. “Hoje, cada vez mais cedo, elas ficam diante das telinhas, consumindo joguinhos, entretenimento e as diversões multimídia da Galinha Pintadinha deixam seus pescocinhos e as cabeças mais projetadas”, alerta.

Para ela, o ideal seria que os celulares só chegassem à vida das crianças depois que houvesse um amadurecimento da noção corporal, mas, como isso não é possível, a fisioterapeuta orienta que os pais limitem o uso e  estimulem as crianças a realizarem atividades físicas que ajudam a desenvolver essa consciência corporal nos pesquenos.

Para adultos e crianças, a orientação é que a cabeça esteja recostada, que o aparelho fique na altura do olhar para não forçar o pescoço e que os cotovelos estejam perto do corpo ou os braços estejam apoiados. “Os braços não foram feitos para ficar parados”, ressalta. Se o uso for se estender por mais de uma hora, é fundamental que haja uma parada de, pelo menos, cinco minutos, quando se deve mover a cabeça para os lados, para a frente e para trás e os olhos pisquem para promover um descanso.

A atividade física e o alongamento são atividades preventivas em qualquer momento da vida, pois quando houver uma sobrecarga por uso do celular ou computador, haverá um corpo mais preparado para suportar a carga sem se lesionar”, completa.

A orientação é que, diante de qualquer sinal de desconforto por período prolongado, o paciente não hesite em procurar um especialista. Além de consulta com ortopedista, o acompanhamento de um fisioterapeuta resgatará a consciência corporal e reeducação funcional. O tratamento também inclui técnicas manuais e aulas de pilates com foco na estabilização da coluna.