Brasil

Dois caminhões com ajuda humanitária deixam Boa Vista em direção à Venezuela; fronteira segue fechada

Caminhões com ajuda humanitária saem de Roraima em direção a Venezuela — Foto: Laudinei Sampaio/Rede Amazônica Roraima

Dois caminhões venezuelanos com ajuda humanitária brasileira partiram de Boa Vista (RR) em direção à Venezuela na madrugada deste sábado (23), mas a fronteira com o país segue fechada após ordem de Nicolás Maduro. A oposição marcou para este sábado o dia ‘D’ para recebimento de doações de outros países, mas esse apoio é rejeitado pelo presidente venezuelano.

Os caminhões deixaram a capital de Roraima às 6h50 escoltados pela Polícia Rodoviária Federal e, pelas regras estabelecidas pelo governo brasileiro, a ajuda deve ser transportada por caminhões venezuelanos conduzidos por motoristas venezuelanos.

Normalmente, a passagem é fechada à noite e reabre por volta das 8h do dia seguinte, mas isso não aconteceu neste sábado. Assim como na sexta, o lado venezuelano segue fechado e militares do país reforçavam o policiamento nas primeiras horas da manhã.

Maduro determinou o fechamento para tentar barrar a ajuda humanitária oferecida pelos EUA e por países vizinhos, incluindo o Brasil, após pedido do autoproclamado presidente interino Juan Guaidó. O líder chavista vê a oferta dessa ajuda como uma interferência externa na política da Venezuela.

No anúncio, feito de Caracas, o líder chavista afirmou que a passagem entre os países ficaria “fechada total e absolutamente até novo aviso”.

O fechamento ocorre onde seria um dos pontos de coleta dos carregamentos de comida, remédio e itens de higiene básica enviados à população venezuelana. O porta-voz do presidente Jair Bolsonaro (PSL), Otávio Rêgo Barros, disse que a ajuda humanitária está mantida.

Em entrevista coletiva em Pacaraima nesta manhã, segundo o chanceler Ernesto Araújo, não há previsão de que a ajuda seja disponibilizada em território brasileiro para que venezuelanos possam buscá-la. Contudo, ele reafirma o compromisso de que 200 toneladas de alimentos serão enviadas à Venezuela.

Ao G1, o segurança Juancarlo Castro, de 49 anos, relatou confrontos entre civis e militares em Santa Elena. Ele chegou a Pacaraima por volta das 19h30 da última sexta-feira (22) por rotas clandestinas.

“As pessoas saíram às ruas e queimaram postos da GNB (Guarda Nacional Bolivariana) dentro da cidade e uma caminhonete de milicianos. Depois teve tiros, feridos, e acredito que mortos. Saíram cerca de 100 pessoas de Santa Elena durante a noite para ajudar a levar a ajuda”, disse Juancarlo.

“No lado venezuelano não tem comida, não tem remédios, não tem nada. Então hoje viemos para acabar com isso. Não tenho medo dos guardas”, completou o segurança.

A brasileira Juliana dos Santos, 47 anos, mora em Santa Elena e disse estar disposta a atravessar a fronteira em busca de ajuda mesmo com a resistência da guarda. “Decidi vir ajudar porque meus filhos são venezuelanos e me dói muito tudo isso”, disse.

Confronto em Kumarakapay

Uma pessoa morreu e outras ficaram feridas em Kumarakapay, na Venezuela, em um confronto entre indígenas e militares venezuelanos na última sexta-feira (22). A informação foi dada por líderes indígenas e parentes de vítimas.

O local do incidente fica a cerca de 70 km de Santa Elena de Uairén, na fronteira com o Brasil. Apesar do bloqueio na fronteira, por volta das 10h de sexta-feira (pelo horário de Brasília), os guardas liberaram a passagem para o lado brasileiro de duas ambulâncias venezuelanas com pessoas feridas no incidente.

Os indígenas foram levados ao Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, a 215 km da fronteira.

Fronteira com a Colômbia fechada

Tropas venezuelanas ocupam, na manhã deste sábado (23), a Ponte Simón Bolívar, fronteira entre a Venezuela e a Colômbia que permanece fechada.

Segundo a Reuters, os militares estão lançando gás lacrimogêneo para dispersar pessoas tentando cruzar a fronteira. Por outro lado, ainda de acordo com a agência, três soldados venezuelanos desertaram postos na fronteira.

No Twitter, a Telesur, canal de televisão ligado ao governo local, publicou que “o anúncio do fechamento temporário da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela se dá por conta de ameaças do governo da Colômbia à nação sul-americana. Assim amanhece a ponte internacional “Simón Bolívar”.

A repórter Madelein Garcia, do mesmo veículo, escreveu: “Às 7h tudo está calmo em San Antonio del Táchira, como foi anunciado pela vice-presidente Delcy Rodríguez. As pontes internacionais estão fechadas devido às ameaças sérias e ilegais da Colômbia contra a paz e soberania.”