No Ministério da Justiça, a avaliação é de que, apesar da declaração sobre “chance zero” de desmembrar a pasta, a situação se mantém “imprevisível”. O que ainda desagrada a aliados do presidente e do ministro é que Bolsonaro recuou ao dizer que “em time que está ganhando não se mexe”, mas deixou no ar uma porta aberta para a mudança ao declarar que, “na política, tudo muda”. Caso o presidente leve adiante a ideia de recriar o Ministério da Segurança Pública, não há dúvidas no entorno de Moro de que ele deixará o governo.
Entrevista
A análise de aliados do ex-juiz da Lava Jato foi a de que Bolsonaro quis dar uma “alfinetada” nele por sua participação no programa Roda Vida, da TV Cultura, na segunda-feira. Para assessores do presidente, o ministro não defendeu Bolsonaro com a “ênfase esperada” durante o programa. O troco veio na sequência, com a ameaça de tirar do ministro a área mais importante de sua pasta. Caso a separação seja nos moldes do que era no governo de Michel Temer, Moro perderia o controle da Polícia Federal.
Inicialmente, a avaliação do grupo de Moro era a de que Bolsonaro admitiu dividir a pasta da Justiça apenas para agradar aos secretários de Estado que defenderam essa agenda em reunião no Planalto na quarta-feira. Mas as dúvidas de que ele poderia estar falando sério vieram quando o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, deu entrevista confirmando que o governo estudava a divisão do ministério, o que enfraqueceria Moro.
O que era considerada só uma “alfinetada” passou a ser percebida como uma medida formal quando anunciada pelo responsável pela análise jurídica do governo. Diante disso, Moro foi aconselhado a pedir demissão com base em dois questionamentos: 1) Se Bolsonaro o acha incapaz para gerir a segurança pública, o que ele estava fazendo no governo? 2) Se a razão não for pela incapacidade, então Bolsonaro não estaria conseguindo conviver com a popularidade do seu ministro?
Quem convive com Bolsonaro diz que a estratégia dele é sempre a mesma: ele lança uma ideia e fica “incomunicável” por um tempo (neste caso, por causa da viagem para a Índia) para “ver para onde o vento vai”. Diante das repercussões negativas dentro e fora do governo, o presidente vem a público e tenta “minimizar os danos”.
Fritar
O presidente concedeu ontem entrevista ao Jornal da Band, da TV Bandeirantes, e disse que não precisa “fritar” publicamente ministros com a intenção de demiti-los. Ele elogiou o trabalho de Moro na pasta, mas ressaltou o papel de governos estaduais na melhoria de índices de segurança pública do País.
“(Moro) Está fazendo um bom trabalho no tocante à segurança, juntamente com os secretários de Estado. Não é o trabalho nosso apenas, ele faz a parte dele”, disse Bolsonaro. “Nenhum ministro meu vive acuado, com medo de mim. Minhas ações são bastante pensadas e muito bem conversadas antes”, afirmou. “Eu não preciso ‘fritar’ ministro para demitir.”
Encontro
Antes de se reunir com os secretários estaduais no Planalto, na quarta-feira, Bolsonaro recebeu, às 7h, no Palácio da Alvorada, residência oficial, o secretário de segurança do Distrito Federal, Anderson Torres. No encontro, Torres pediu ao presidente que recebesse o grupo na tarde do mesmo dia.
Diante da confirmação, os secretários se reuniram e discutiram uma agenda para levar ao presidente. Somente os representantes de São Paulo e Minas Gerais se posicionaram contra a recriação do ministério.
Torres, que é da Polícia Federal, é ligado ao ministro Jorge Oliveira. Já teve seu nome ventilado para ir para o comando da Polícia Federal no ano passado, quando se falava na saída de Maurício Valeixo, em mais um processo de tentativa de enfraquecimento de Moro.