Olimpíadas

Enfim, ouro: Isaquias é campeão olímpico e chega a quatro medalhas na canoagem

Isaquias Queiroz passou cinco anos pensando no título olímpico. No caminho, batizou o filho com o nome de seu algoz, Sebastian, perdeu o técnico, vítima de um câncer, e foi campeão mundial na Europa. Agora, depois de chegar três vezes ao pódio no Rio de Janeiro, o baiano de 27 anos conquistou sua primeira medalha de ouro nos Jogos ao vencer a final da categoria C1 1000m da canoagem, nas Olimpíadas de 2020, no fim da noite desta sexta-feira (horário de Brasília).

Essa é a 17ª medalha do Brasil em Tóquio, consolidando a melhor campanha da história. Com alguns pódios já garantidos nos próximos eventos, a delegação irá superar as 19 conquistas da Rio-2016. A prata ficou com Liu Hao, da China, e o bronze com Serghei Tarnovschi, da Moldávia.

Depois de se tornar o recordista brasileiro de conquistas em uma só edição das Olimpíadas com duas pratas e um bronze, Isaquias chega a quatro medalhas e iguala Serginho, do vôlei, e Gustavo Borges, da natação. Só Robert Scheidt e Torben Grael têm mais, cinco, liderando a lista do país.

O ouro vem dias depois de uma frustração. No início da semana, na competição por duplas (C2 1000m) da canoagem, na companhia de Jacky Godmann, Isaquias sonhava com o pódio, mas o time brasileiro cruzou a final no quarto lugar. Vieram dois dias livres até o início da disputa individual, onde ele se recuperou e mostrou um ótimo desempenho desde o início.

‘Dedico a quem perdeu entes queridos’, diz Isaquias

“Estou meio aéreo ainda. É diferente ganhar uma medalha de ouro. Mais feliz ainda por estar deixando vocês no Brasil felizes. Eu prometi para vocês que eu ia ganhar. O Brasil passou por muitos desafios ao longo desses anos, Covid, dedico muito a todas famílias que perderam entes queridos. Depois do C2 [competição por duplas] eu recebi muitas mensagens de carinho e apoio, nenhuma me criticando, e isso me ajudou bastante”, disse Isaquias Queiroz ao fim da prova, em entrevista ao canal SporTV.

“Eu estou meio sem conseguir acreditar. O Lauro [treinador] conversou comigo dois minutos antes: essa prova é sua. E eu falei, ‘cadê o vento, o vento sumiu!’. Ganhei essa medalha para ele [o filho], minha esposa, minha mãe, dona Dilma, que eu acho que nem assistiu, se ela não estiver no hospital”.

Ele venceu a bateria eliminatória com boa margem para seus adversários, e depois ganhou também sua semifinal. Na decisão, manteve a boa forma e confirmou sua expectativa pessoal de se tornar campeão olímpico em Tóquio, abrindo vantagem a partir da metade e não dando chances para os adversários encostarem.

Ex-campeão fica fora da final

A grande surpresa da noite foi a ausência do alemão Sebastian Brendel na final. Dono de três ouros olímpicos — dois deles em cima de Isaquias, no Rio — e um dos grandes nomes da modalidade, ele foi só o sétimo colocado na semifinal e ficou fora da grande decisão. É ele quem dá nome ao filho do brasileiro, Sebastian Queiroz, nascido em 2017 e registrado em homenagem ao rival para não esquecer daquele que precisaria ser batido. Brendel foi só o décimo no geral.

Perda do técnico e lesão do parceiro

Erlon Silva, medalha de prata em parceria com Isaquias Queiroz em 2016, não se recuperou de uma lesão no quadril e ficou fora da viagem para Tóquio. Por conta disso, Jacky Godmann, 22, virou titular da delegação brasileira. Eles já tinham remado juntos pelo Flamengo, em 2019, e neste ano participaram de uma etapa da Copa do Mundo.

A nova combinação terminou no quarto lugar na final da C2 1000m nos Jogos, e depois Jacky não avançou às semifinais individuais. O estreante admitiu que o foco dos treinamentos nos últimos meses era nas duplas, para manter o alto nível do país na prova, e no fim eles saíram com uma impressão dividida: satisfação por terem conseguido competir entre os melhores e ficar a apenas uma posição do pódio mesmo com um atleta menos experiente no time; e uma certa frustração por não repetirem o rendimento de 2016, quando Isaquias levou três medalhas em três provas, se credenciando para chegar a cinco no total após a participação em Tóquio — a disputa individual de 200m foi retirada do programa.

Mas o grande baque na canoagem brasileira aconteceu em 2018, com a perda de Jesús Morlán, que morreu de câncer. O espanhol, um dos maiores técnicos do planeta, descobriu o tumor no cérebro pouco depois das conquistas de 2016. Ele foi contratado pelo Comitê Olímpico Brasileiro em 2013 e é o grande mentor dos treinamentos que levaram os brasileiros à elite da modalidade. Lauro de Souza, que havia sido auxiliar do europeu, assumiu o comando.

“[Ele está] Acima de mim, do Lauro, de toda a equipe da canoa. Era ganhar as medalhas do Jesús. Eram duas, mas a gente conseguiu realizar o sonho que ele queria. A medalha é minha e dele [Lauro, treinador]. O que muita gente não acreditaria, que ele poderia dar continuidade no trabalho do Jesús, ele foi e mostrou que pode”, afirmou Isaquias.

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