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CNU: Em domingo sem prova, candidatos recalculam rota de estudos. Veja dicas para manter a preparação

Concurso Nacional Unificado alcança 1,5 milhão de inscritos. Créditos: Divulgação/MEC

Há dois dias, o assistente administrativo Germano Macedo, de 32 anos, tinha uma programação completamente diferente para o fim de semana. Ontem, dormiria cedo para chegar descansado, hoje, ao seu local de prova do Concurso Nacional Unificado (CNU). A programação mudou, no entanto, com o adiamento da seleção organizada pelo governo federal. O anúncio foi feito na tarde de sexta-feira. Ele, porém, quer manter o foco. Ontem, assistiria ao show de Madonna, para espairecer, mas reservaria o dia de hoje aos estudos. Afinal, mesmo sem a nova data da prova divulgada, é importante não deixar o desânimo contaminar a jornada.

— A ansiedade que já estava lá no alto vai se arrastar mais um pouco, mas vou tentar dar uma forçada para não perder o foco — disse ele: — Pretendo estudar neste domingo, porque os fins de semana são os únicos dias inteiros que eu tenho para isso.

Os rumores de adiamento da prova do “Enem dos Concursos” surgiram ainda no meio da semana, por conta das fortes chuvas que atingiam o Rio Grande do Sul. Dos 2,1 milhões de inscritos na seleção unificada, 80.348 são do estado castigado pelos temporais. Na quarta-feira, o governador Eduardo Leite (PSDB) já havia afirmado que o concurso tinha ficado “completamente inviabilizado para a população gaúcha”.

Mesmo depois da declaração de Leite, a avaliação era de que o exame seria mantido em todo o país.

Em reunião entre representantes do governo federal, na quinta-feira, os argumentos apresentados para a manutenção da seleção foram a falta de previsão nos editais para o adiamento e o alto custo da operação, em torno de R$ 50 milhões. Mas deputados e senadores do Rio Grande do Sul acionaram a Justiça pelo adiamento.

Cancelamento
O cancelamento do CNU, depois de um novo debate, foi confirmado pela ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, menos de 48 horas antes da aplicação a prova. A nova data do exame ainda não foi divulgada, mas deve ficar para o segundo semestre. A preocupação de tantos candidatos é que não coincida com outros concursos, obrigações e compromissos na agenda.

Inscrito para o Bloco 8, voltado às vagas de nível médio, Germano tem interesse em assumir um posto no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desafio agora é manter a preparação em dia:

— Tem que reprogramar tudo. Tentar manter uma agenda de estudos para chegar na nova data da prova com o melhor preparo.

Parada para repor as energias
Com foco em vagas na sua área no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e na Advocacia-Geral da União (AGU), o jornalista Leonardo Young, de 25 anos, estava desde janeiro num ritmo intenso de estudos para o concurso. Com o adiamento da prova, a saída é tirar alguns dias de descanso para depois retomar o fluxo de estudos.

Para evitar possíveis transtornos, principalmente no trânsito, ele escolheu como local de prova a cidade de Campos dos Goytacazes, onde moram seus avós. Antes de seguir para o município no Norte Fluminense, porém, teve que negociar horários no trabalho para ficar livre hoje.

— Acho que adiar foi a decisão mais justa. Até como aspirantes a servidores, nós candidatos devemos entender que esse bem comum deve ser priorizado. Com milhares de pessoas afetadas, é o correto. Claro que a gente fica frustrado, tinha toda a semana planejada, mas é isso. Qualquer decisão seria controversa para alguém — disse.

Apesar de concordar com a decisão do governo federal, fica a preocupação quanto à nova data da prova:

— Fico receoso de cair numa data em que eu esteja preso com trabalho ou enrolado na pós-graduação, já que estou no processo do trabalho de conclusão. Mas a prioridade é o concurso. Vou me adaptar.

Dê adeus à frustração
Essa empatia pela situação no Rio Grande do Sul pode, inclusive, ajudar a superar o sentimento de frustração pelo adiamento da prova. Ele é normal, explica a neuropsicóloga Juliana Gebrim, mas pode ser paralisante se durar muito tempo.

— Em toda situação para a qual se cria expectativa e algo não acontece, é normal se sentir frustrado. Mas esse sentimento deve passar rápido, para o candidato começar a entender o lado positivo da circunstância. Neste caso, é ter mais tempo para estudar — disse Gebrim, que lidera o Divã do Concurseiro no canal do Gran Cursos Online.

Hoje, dia que seria reservado ao processo seletivo, ainda pode ser de muito descanso, no entanto.

— As pessoas estão muito cansadas da rotina da qual vieram. E, se alguém está cansado, eu digo que é hora de descansar e não desistir.

Ela sugere que os candidatos busquem estratégias de relaxamento, como técnicas de respiração e meditação, para acalmar a mente e o corpo neste momento.

Após alguns dias de descanso, a recomendação é retomar o foco, como na primeira fase de estudos. Mas, é claro, sempre numa rotina equilibrada, com boas horas de sono, alimentação saudável e momentos de lazer.

Revise os conteúdos e resolva provas
O tempo a mais que os candidatos ganharam para preparação pode ser investido em conteúdos ainda não estudados ou no fortalecimento de pontos fracos. Ainda que o concorrente já se sentisse pronto, é importante manter a rotina.

— Deve revisar conteúdos a fim de mantê-los quentes na memória e fazer questões — diz Rondinelle Dias, professor de Realidade Brasileira do Direção Concursos.

Nova data: Remarcação depende de ‘questões logísticas’, diz governo
Para Erick Alves, que dá aula na mesma instituição, saber aproveitar este novo período pode ser determinante na aprovação.

— Isso aconteceu na época da pandemia, quando diversos concursos foram adiados. Quem conseguiu aproveitar o tempo a mais se deu bem nas seleções — lembrou.

Continuar focada nos estudos é o principal plano da arquiteta Caroline Ruegger, de 33 anos. Apesar da frustração com o adiamento, ela conta que planeja aproveitar o tempo até a nova data do concurso para estudar o que acabou ficando para trás:

— Conforme a gente se prepara, a cabeça meio que “comunica” que está na hora. Então, o adiamento traz alguma decepção. Estou estudando há sete meses, mas como trabalho em tempo integral, é difícil conciliar. Agora, vou continuar estudando porque o CNU tem muito conteúdo, e não deu para estudar tudo. Vou tentar focar.