O político foi à mesa diretora da Casa, entregou documentos e já ocupa o cargo.
O empresário Wilder Pedro de Moraes (DEM-GO) tomou posse, na manhã desta sexta-feira, como senador da República, substituindo Demóstenes Torres, cassado na quarta-feira por quebra de decoro parlamentar. O ato de diplomação foi discreto, com a presença de apenas três senadores e presidido por Ciro Nogueira (PP-PI), sem holofotes da imprensa. O político foi à mesa diretora da Casa, entregou documentos e já ocupa o cargo.
O novo senador é acusado de ter omitido seu patrimônio à Justiça Eleitoral de Goiás. Ele aparece no TRE como segundo maior doador de campanha do ex-senador. Moraes é ex-marido de Andressa Mendonça, atual mulher do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
O novo senador ficará no mesmo gabinete que era de Demóstenes. No entanto, pela manhã, os telefones do seu futuro escritório ainda atendiam como "gabinete do senador Demóstenes Torres".
"Prometo guardar a Constituição Federal e as leis do País, desempenhar fiel e lealmente o mandato de Senador que o povo me conferiu e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil", disse o político, ao ler o juramento tradicional de posse.
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.