No relatório, as delegacias sofrem com infiltrações, superlotação, insetos, problemas com instalação elétrica, higiene, efetivo insuficiente, entre outros.
O Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol) apresentou na manhã desta quarta-feira (21) o relatório com a atual situação de algumas delegacias do interior do Estado. O dossiê será entregue junto com ofício aos órgãos de Segurança Pública, Ministério Público Estadual (MPE) e Delegacia Geral da Polícia Civil solicitando a adequação imediata das condições de trabalho e prediais nas delegacias do interior.
A pesquisa foi realizada por membros do sindicato em delegacias do Agreste, Sertão e região Norte de Alagoas, durou duas semanas e foi encerrada em novembro deste ano. Sindicalistas classficam a segurança pública em Alagoas como em "estado terminal". No relatório, as delegacias sofrem com infiltrações, superlotação, insetos, problemas com instalação elétrica, higiene, efetivo insuficiente, entre outros.
De acordo com o vice-presidente do Sindipol, José Edeilto Gomes, o Ministério Público deveria atuar com maior “vigor”, no que concerne à situação das delegacias, dos policiais, dos presos e até dos valores aplicados pelo Governo na reforma de alguns destes prédios. “Durante nossa visita aos prédios de diversas delegacias no interior observamos que alguns valores gastos com as reformas não correspondem às mudanças feitas no local, a exemplo da Barra de Santo Antônio. Apesar de não termos conseguido fotografar o interior da delegacia ficou claro que portas, janelas e telhados são os mesmos. A única diferença é a pintura. Contudo, o Governo diz que gastou R$ 106 mil com a reforma, gostaríamos que o MPE averiguasse onde este dinheiro foi aplicado” cobrou Edeilto.
Os policiais do sindicato também se mostram descontentes com a super-responsabilização dos policiais acerca dos casos que envolvem a polícia. “Hoje, o policial tem que responder por tudo que acontece no ambiente onde ele atua, mas não são dadas as condições mínimas. Por exemplo, se houver uma fuga de presos em Campo Alegre, onde um único policial vigia 14 presos, ele terá que responder pela fuga na Corregedoria, enquanto o delegado que responde pela delegacia não. Como um único policial pode impedir a fuga de 14 presos?” indaga Estélio Pimentel, diretor jurídico do Sindipol.
Chegou ao conhecimento deste sindicato de que todos os policiais já foram investigados pelo menos duas vezes pela corregedoria. Eu mesmo já passei por seis investigações, todas por envolvimento com a greve,” relatou Pimentel.
Pimentel falou ainda sobre a saída do delegado-geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco, que ocupará uma cadeira no Ministério Público de Contas de Minas Gerais. Em seu lugar assumirá Edson Freitas Junior – atual secretário-adjunto da Defesa Social. De acordo com o diretor jurídico a troca não significará muita coisa. “É como trocar seis por meia dúzia”.
Os policiais voltaram a reclamar dos baixos salários e comentaram a declaração feita na última segunda-feira (19) pelo deputado estadual João Beltrão que se referiu ao projeto de lei que prevê uma gratificação para os militares. Apesar de ter defendido o PL, Beltrão disse que “para o policial corrupto, o salário pode ser de R$ 1 mil ou R$ 10 mil. Ele sempre estará se corrompendo.” Na opinião de Pimentel o deputado “deveria atravessar o rio e ir até Sergipe para ver os resultados dos melhores salários.” O diretor jurídico lembrou que o piso em Sergipe é mais que o dobro do pago em Alagoas e que lá, ao contrário da Alagoas, estão os menores índices de violência do Nordeste”. Pimentel lembrou ainda que corrupção existe em todo lugar e que enquanto o salário dos deputados aumentou 105% os dos policiais aumentou 7%.
Os integrantes do Sindicato também comentaram as declarações do governador Teotônio Vilela feitas na última semana, onde o governador atribui ao tráfico 90% dos crimes de homicídios ocorridos no Estado. “Essas declarações convencem a pessoas que estão na linha do analfabetismo. As demais pessoas sabem que segurança é uma coisa mais complexa e tem de vir atrelada a outras políticas públicas como educação, esporte, valorização profissional. O problema de Alagoas é que aqui não há esse equilíbrio,” comentou Carlos José, segundo vice do Sindicato.
O diretor de planejamento do Sindipol, Charles Alcântara, também lembrou que atualmente o Governo disponibiliza R$ 40,00/mês por preso para alimentação. Segundo Alcântara, além deste valor ser insuficiente, muitas delegacias não estão locadas nas mesmas comarcas onde os delitos foram cometidos, o que dificulta para família a complementar a alimentação. “Muitos presos estão passando fome por que R$ 40,00 não dá para passar o mês e as famílias moram em outras cidades. Aqui, o que se vê é ao contrário dos outros lugares. Enquanto no resto do país busca-se a descentralização das delegacias, aqui há centralização. Poucas delegacias e estas atendendo a mais de um município. O exemplo disso é a própria delegacia Geral da Polícia Civil (PC) que está localizada quase fora da capital,” apontou Charles.
Sobre os arrastões, diferentemente do Governo, que nega as ações de vandalismo, os sindicalistas dizem acreditar na versão da população. “O que sabemos é que houve tumulto e ônibus foram queimados. Estas ocorrências falam por si só”, conclui Pimentel.
O Sindicato espera ainda que com a íntegra do dossiê os órgãos responsáveis se sensibilizem com a situação de insalubridade vivida por presos e policiais e que as medidas cabíveis sejam tomadas. O Sindipol alega que o relatório é apenas uma formalização, visto que os gestores competentes já têm conhecimento de seu conteúdo, relatado por seus membros desde o início do Governo Vilela.
A assessoria de comunicação da Polícia Civil de Alagoas informou que a entidade não recebeu o relatório elaborado pelo Sindpol e que apenas irá se pronunciar após ter acesso e analisar o material.