A pediatra denunciou a agressão às entidades médicas do Estado, à Polícia e ao Ministério Público. A assessoria da Unidade de Emergência informou que a direção só irá se manifestar quando souber “oficialmente do caso”.
A médica Clarissa Tavares, pediatra clínica do Hospital de Pronto-Socorro (HPS) de Maceió denunciou o clima de insegurança vivido pelos profissionais de saúde que trabalham no local, após ter sido vítima de agressão durante o seu plantão, na segunda-feira de carnaval, dia 4 de fevereiro.
Há cerca de dois meses, a médica acompanhou o drama de uma colega, que pediu demissão depois que um paciente a ameaçou com um revólver apontado em sua cabeça. Desta vez, ela própria foi vítima da insegurança que ronda a unidade de saúde, quando foi agredida verbalmente e ameaçada de morte por um casal. “O homem só não me agrediu fisicamente porque foi contido por outro paciente”, relata a médica.
O fato aconteceu por volta das 19h30 e em seguida foi levado ao conhecimento da polícia – a médica prestou queixa à delegada Maria Aparecida, na Deplan I. Após o Carnaval, a pediatra também registrou a ocorrência no Conselho Regional de Medicina de Alagoas (CRM/AL), no Sindicato dos Médicos (Sinmed) e no Ministério Público do Estado (MPE).
“Fiz isso para denunciar a falta de segurança que nós, profissionais da saúde que trabalhamos na Unidade de Emergência Dr. Armando Lages estamos à mercê”, ressalta Clarissa, acrescentando que o procurador-geral de Justiça, Coaracy Fonseca, lhe garantiu que os responsáveis seriam chamados para prestar esclarecimentos sobre a segurança dos funcionários da unidade.
A médica conta que o homem que a agrediu chegou ao hospital com uma criança, vítima de acidente com o carro que ele conduzia, sem gravidade clínica aparente. “Encaminhei a criança para ser examinada pelo cirurgião responsável pela área de trauma e, logo depois, o homem voltou, começou a me agredir verbalmente e partiu para me atacar”, relatou, acrescentando que o homem e a esposa ainda voltaram para ameaçá-la de morte.
A médica procurou o segurança da UE, que lhe informou que seu trabalho era proteger o “patrimônio público” e sugeriu que ela buscasse a ajuda da polícia. Segundo ela, ao ser informado do episódio, o administrador responsável pelo plantão daquela noite, identificado como Hélio, limitou-se a dizer que abriria um processo administrativo.
“Eu compreendo que o homem pudesse estar nervoso, mas acho que nada justifica o desrespeito ao ser humano. Sempre tratei a todos com respeito e nunca passei por uma situação dessas. Cheguei a passar mal, tive alta de pressão e precisei ser medicada depois do que aconteceu”, concluiu.
O presidente do Sindicato dos Médicos, Welligton Galvão, disse lamentar que a administração da UE não tivesse se manifestado sobre o assunto. “Também repudiamos a postura do segurança do hospital e do policial militar que, mesmo testemunhando a ameaça de morte feita à médica, não tomou nenhuma providência”.
Galvão diz que a UE tem obrigação de dar segurança aos seus funcionários e que espera que sejam tomadas providências antes que outros fatos aconteçam ou até que algum profissional chegue a ser morto no exercício de seu trabalho.
O presidente diz que, apesar de o sindicato não possuir estatísticas sobre agressões sofridas por médicos, elas são bastante comuns. “Vamos acompanhar o processo e cobrar que o Estado garanta a integridade dos servidores”, finaliza, informando que o sindicato já solicitou uma audiência com o secretário de Saúde para falar sobre o assunto.
A reportagem do Alagoas24horas tentou entrar em contato com o diretor-geral da Unidade de Emergência, Alfredo Aurélio Marinho Rosa, mas foi informada pela assessoria que o diretor não está “sabendo do caso oficialmente, por isso não irá se manifestar”.
Ainda de acordo com a assessoria, a médica não formalizou na diretoria a denúncia de agressão, nem o pedido de providência. “Oficialmente não aconteceu nada”.