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Ameaças de ex-vereador intimidam índios

Xukuru-Kariri protestam na Funai em Maceió.

Assessoria

Índios em ritual de protesto

Uma comitiva de catorze índios Xukuru-Kariri da Aldeia Monte Alegre, liderados pelo cacique Chiquinho Xukuru-Kariri, estão em Maceió dormindo na delegacia regional da Funai até terem seu apelo de segurança atendido. Eles ficaram intimidados neste último domingo (14.12) depois da visita de Val Basílio, ex-proprietário das terras retomadas pela comunidade, em Palmeira dos Índios (139km de Maceió).

A presença de quatro funcionários de Val Basílio não foi a única intimidação. O ex-vereador, indiciado pela Operação Carranca da Polícia Federal (ainda na espera pelo julgamento), esbravejou um suposto poder sobre aqueles territórios. Segundo relatam os indígenas, disse que ainda mandava ali, já que seu irmão era o dono e que se a Funai não indenizasse logo, não haveria outra solução senão expulsar a comunidade. Os índios esperam uma reunião com órgãos responsáveis até amanhã, mas já têm garantido o acompanhamento do procurador federal João Sila, que irá até a Delegacia de Palmeira dos Índios nesta quinta-feira (18.12) prestar queixa de Val Basílio.

Entre as ameaças, uma provocação de que se mais famílias chegassem à comunidade, ele mesmo ia ter que tratar de botá-las pra fora. São os próprios índios que rebatem: “A Aldeia Monte Alegre está nos mapas de demarcação aprovados no relatório da Funai”, segundo Gilmar, uma das lideranças da tribo. A tramitação deste relatório, elaborado pela antropóloga da Funai Siglia Zambrotti e que torna irreversível a demarcação, trouxe à cidade um clima ainda maior de tensão.

Para os índios, somente um ação do Ministério Público e Polícia Federal em articulação com a Funai pode reverter o pensamento já comum em Palmeira dos Índios de que, com essa demarcação vem também um derramamento de sangue. “É só o que se espera em Palmeira. Eu estou com medo! Já ameaçaram matar até procurador!” externa o cacique Chiquinho, lembrando das reportagens recentes de circulação nacional sobre a iminência de mortes de índios no interior de Alagoas.

Sempre depositando no poder de sua cultura a esperança para continuarem essa luta, os índios dançaram um Toré para celebrar mais um passo perante o Estado. Desde março deste ano que a comunidade Monte Alegre passa por um difícil processo de retomadas de suas terras imemoriais. Um curta documentário sobre essa luta está sendo produzido num projeto de produção cultural em parceria com o Núcleo de Pesquisa e Extensão Cultura, Identidade e Movimentos Sociais da Universidade Federal de Alagoas(Ufal).