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Marginais de Toga

É uma vergonha que os tentáculos podres de uma justiça corrupta venham jogar no charco da indignidade, magistrados honrados com uma vida dedicada ao cumprimento da lei.

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.
(trecho do poema de Rui Barbosa “Sinto Vergonha de mim”)

Um Brasil indignado, mas não surpreso, recebeu a notícia de que o Supremo Tribunal Federal decidiu colocar na rua quatro das mais importantes personagens da “Operação Furacão”. Foram três desembargadores e um procurador-regional da República.

“Eles têm direito a foro privilegiado”. Um oficial de Justiça chegou em pleno sábado (pasmem) na Policia Federal, em Brasília,com a ordem para soltar os acusados. Outros 21 presos em caráter temporário pelos mesmos crimes, e que não têm direito a foro privilegiado, devem permanecer na cadeia, pelo menos por enquanto.

O bravo e integro procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, havia pedido a prisão preventiva dos 26 acusados de envolvimento com uma organização criminosa especializada na venda de sentenças judiciais para beneficiar a máfia dos jogos ilegais bingos e caça-níqueis, tudo com a mais completa relação de provas da culpabilidade de todos, graças a um trabalho exaustivo e de alta competência da Policia Federal.

Além das pessoas que haviam sido presas pela operação da PF, o corajoso procurador incluiu em sua denúncia mais um nome, o do ministro Paulo Medina, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), sob o qual pairam gravíssimas acusações e evidências da conivência e beneficiamento de criminosos.

Para vergonha nacional e desmoralização do Poder Judiciário, os magistrados foram denunciados por formação de quadrilha, corrupção passiva e prevaricação.

O ministro Paulo Medina pediu afastamento do tribunal por 28 dias alegando problemas de saúde. O afastamento é remunerado, ou seja, ele não terá desconto dos dias parados em seu polpudo salário. A informação no STJ era que o ministro “sofria de dores fortes nas pernas”.

Qualquer desculpa vale, só não dizer que estaria com dor na consciência. Ele é suspeitíssimo de uma decisão judicial que teria beneficiado donos de casas de bingo, segundo a Polícia Federal. O irmão dele, Virgílio Medina, atuaria em defesa dos interesses de casas de bingo. A informação é que a decisão possa ter sido vendida por R$ 1 milhão.

As investigações também descobriram que Virgílio emprestou para o irmão R$ 440 mil. O advogado do ministro disse que o dinheiro foi para a compra de um apartamento e que consta da declaração do IR do ministro. Tão bonzinho o maninho!

Para vergonha de todos nós e jogando lama no Judiciário o episódio se assemelha ao mensalão dos deputados promovido pela República petista. Por sinal, o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Geraldo Araújo, assim o denominou: “o bingão da Justiça”. Segundo as denúncias os magistrados além das generosas gratificações por sentença, ainda tinham direito a mensalidades entre R$ 20 e 30$ mil da bandidagem.

É uma vergonha que os tentáculos podres de uma justiça corrupta venham jogar no charco da indignidade, magistrados honrados com uma vida dedicada ao cumprimento da lei.

O presidente da seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Wadih Damos,falando sobre o caso disse que “ o desmembramento do processo da Operação Furacão da Polícia Federal, determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso,possibilitou uma distorção e criou uma situação complicada".

A magistratura brasileira não pode acobertar com o manto da impunidade marginais de toga, roubando e se comportando como criminosos.

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