Ex-ministro do Interior e governador de Sergipe pela terceira vez, com direito a tentar a reeleição em 2006, o engenheiro João Alves Filho (PFL) é ácido nas críticas ao projeto de transposição das águas do Rio São Francisco para abastecimento do chamado Nordeste Setentrional – ele prevê a morte da foz do São Francisco, citando o exemplo do Rio Colorado, nos Estados Unidos.
Ex-ministro do Interior e governador de Sergipe pela terceira vez, com direito a tentar a reeleição em 2006, o engenheiro João Alves Filho (PFL) é ácido nas críticas ao projeto de transposição das águas do Rio São Francisco para abastecimento do chamado Nordeste Setentrional – ele prevê a morte da foz do São Francisco, citando o exemplo do Rio Colorado, nos Estados Unidos. “Nesse caso, os Estados mais prejudicados são Sergipe e Alagoas”, avisou.
E para mostrar que a sua posição não é luta bairrista ou mesquinhez, o governador sergipano aponta a reação de Minas Gerais e da Bahia, que também são contrários ao projeto. “Ora, Minas Gerais e a Bahia não são Estados doadores. Por que eles são contrários ao projeto? Porque a transposição inviabilizará outros projetos à montante da Barragem de Sobradinho”, explicou.
Autor de vários livros sobre transposição, o governador João Alves diz que não é contra os projetos que beneficiam os sertões do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco (o chamado Nordeste Setentrional), mas aponta outras saídas, como a exploração das águas interiores (subsolo); da reserva acumulada nos açudes e barragens; das lagoas que o Rio Tocantins forma no oeste da Bahia e até mesmo o Rio São Francisco, desde que a sua vazão seja reforçada.
“Para usar uma linguagem popular, vamos dizer que o Rio São Francisco está na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e o paciente que está na UTI não pode ser doador de sangue; pelo contrário, ele precisa de sangue”. O governador lembrou é contra o projeto de transposição desde a época do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de quem era aliado.
Porque é um projeto eleitoreiro, cujo principal interessado é o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), que é candidato ao governo do Ceará em 2006. É um projeto eleitoreiro para o Ceará em 2006. O ministro (Ciro Gomes) fala de transposição impondo o projeto sem qualquer discussão. Ele (Ciro Gomes) não leva em conta as conseqüências que advirão com a morte da foz do São Francisco.
As mesmas que ocorreram no Rio Colorado, por exemplo. Eu visitei a Califórnia, a convite do governo norte-americano, para conhecer o projeto de irrigação de 4,5 milhões de hectares. Imagine o que é isto apenas é um Estado, considerando-se que em todo o Nordeste brasileiro existem apenas 300 mil hectares irrigados. É uma beleza, uma coisa fantástica, mas do lado dos Estados Unidos. Eu fui conhecer a foz, do lado mexicano; fui por conta própria, apenas pela curiosidade e fiquei estarrecido ao constar que o Rio Colorado secou 100 quilômetros em direção à foz, comprometendo toda a região mexicana cortada pelo rio. Mas, os norte-americanos não se importam; eles chamam os mexicanos de macaquitos. Concluindo: o delta do Rio Colorado salinizou, porque o mar avançou.
O Rio Amarelo, na China, passava quatro meses do ano seco numa faixa de 550 quilômetros; depois dos projetos que retiram água do seu leito chega a passar hoje até nove meses seco. O próprio Rio Nilo, o Rio da Civilização Mundial, o Rio da Bíblia, também está morrendo na foz devido às alterações no seu curso. O Rio Ganges, também; a versão dos ingleses, que consideraram a Índia inviável, foi desmentida com a irrigação, mas, para deixar um hectare no deserto produtivo gasta-se com água o equivalente ao volume destinado ao abastecimento de uma população de dez mil pessoas. É por isso que, na Conferência sobre Água promovida pelo Banco Mundial, no Colorado-EUA, chegou-se à conclusão de que, nesse século em que estamos vivendo, teremos mais guerras por causa da água do que tivemos no século passado pela disputa do petróleo. E isto pode ocorrer porque a população cresceu em progressão aritmética, enquanto a demanda por água cresce em progressão geométrica.
É verdade, mas veja que eles levaram cinqüenta anos discutindo o projeto. Isso me chamou a atenção quando eu visitei a China e perguntei ao técnico chinês que nos acompanhou. Eu perguntei: por que vocês, que vivem sob um regime de partido único, um regime comunista, levaram cinqüenta anos discutindo a transposição de um rio? E o técnico me respondeu: a política passa, os governos passam, mas a China fica, os chineses ficam. Então, não posso concorda com o governo Lula, quando ele tenta empurrar a transposição goela à dentro da população. A diferença entre o projeto de transposição apresentado pelo governo Fernando Henrique Cardoso e o apresentado pelo governo Lula é exatamente a falta de discussão sobre a proposta. No governo Fernando Henrique o projeto foi encaminhado ao Congresso Nacional.
Posso citar o caso do município Brejo Grande, onde havia um povoado chamado Cabeço, que ficava numa ilha. Lá existiam entre 150 e 200 casas; não tem mais nenhuma em pé porque o mar avançou e destruiu tudo.Também a Ilha Arambipe foi dividida em duas. Na divisa entre Alagoas e Sergipe, nos municípios de Propriá-SE e Porto Real do Colégio-AL, você pode pescar peixes marinhos. De lá até a foz são cerca de 100 quilômetros e você encontra peixes que antes só se adaptavam no mar. Isto significa dizer que esse curso do Rio São Francisco já está alterado, está salinizado.
Sessenta por cento dos habitantes de Sergipe são abastecidos com água do Rio São Francisco. Além disso, temos projetos de irrigação no semi-árido e a perspectiva de ampliação desses projetos, para o atendimento de milhares de famílias no semi-árido sergipano, está comprometida com a transposição. Como já falei, Minas Gerais e a Bahia, que não são Estados doadores de água do Rio São Francisco, são contrários à transposição porque sabem que, depois dela (da transposição) o Rio São Francisco não tem mais capacidade de ceder água para outros projetos, todo o seu volume estará comprometido. Eu fui eleito governador de Sergipe e vou lutar para defender os interesses dos sergipanos.