Categorias: Futebol

Como 124 mil bilhetes de loteria e bolão na torcida colocaram time na elite e em finais

ALDO CARNEIRO COSTA/GAZETA PRESS

Santa Cruz Torcida Arruda Final Campeonato Pernambucano

Dono de uma das torcidas mais apaixonadas do Brasil, o Santa Cruz conheceu o inferno da bola nos últimos anos, sofrendo com sucessivos rebaixamentos e chegando a cair até a Série D do Brasileirão. Após arrumar a casa, o time fez todo o caminho de volta, retornando à elite nacional no final do ano passado e agora alcançando a final da Copa do Nordeste, título que nunca conquistou e que começa a decidir nesta quarta-feira, às 21h45 (horário de Brasília), contra o Campinense-PB, no Arruda lotado.

A luta para voltar a ser grande foi árdua, e contou com muito suor de jogadores e técnicos. No entanto, a força de seus torcedores – e até uma ajudinha da loteria – foram os principais fatores da recuperação do time tricolor.

A loteria, no caso, é a Timemania, jogo organizado pelo Governo que é a segunda maior loteria do Brasil, perdendo apenas para a Mega-Sena. Ela foi diretamente responsável por verbas essenciais para o ressurgimento do Santa Cruz. Tanto é que o clube faz até campanha para que seus torcedores façam apostas, dando ingressos em troca.

Isso ocorre porque a Timemania foi criada para ajudar os clubes participantes a saldarem suas dívidas com o Governo Federal. Do total arrecadado das apostas, os times recebem 22%, que são destinados ao pagamento de dívidas com o INSS, FGTS e Receita Federal, entre outros impostos devidos à União.

Quando um torcedor aposta neste jogo na loteria, tem que marcar seu time de coração, e as equipes mais escolhidas recebem cotas maiores. Isso acabou gerando uma história curiosa envolvendo o presidente coral, Alírio Moraes de Melo, no final de 2014.

Na ocasião, o Santa precisava desesperadamente de dinheiro e viu na Timemania o caminho mais rápido para conseguir. Para isso, o mandatário comandou um bolão e, em tempo recorde, conseguiu 124 mil apostas, o que colocou o clube do Recife na 20ª colocação entre os times com mais apostas, desbancando o Coritiba. Tal posto garantiu uma cota de R$ 350 mil por mês aos tricolores, responsável por pagar o FGTS – e o dinheiro que sobrou ainda foi direto para os cofres.

Rapidamente, a torcida entendeu a importância da loteria, e entrou de cabeça na ideia para ajudar o Santa Cruz. Junto com o departamento demarketing da equipe, que passou a disponibilizar pessoas nas arquibancadas e nas numeradas para recolherem apostas, o número de jogos não parou de subir. No caso, cada bilhete custava R$ 2, dos quais R$ 1 era usado para aposta na Timemania e o outro R$ 1 ia direto para as categorias de base tricolores.

Em 2015, aliás, o time do Arruda conseguiu se manter no top 20 da loteria, o que lhe deu direito a receber uma cota de R$ 182 mil por mês em 2016. Muito disso graças à mobilização dos torcedores, que, mais uma vez, fizeram mutirão de apostas (convocado por meio dainternet e das redes sociais) e conseguiram segurar o Santa no grupo que ganha mais.

O dinheiro extra, assim como o acordo recém-firmado de fornecimento de material esportivo com a canadense Dryworld (mesma empresa de Atlético-MG, Fluminense e Goiás), elevaram as finaças do time coral a outro patamar, que permitiram a formação de uma equipe sólida e que conta com um astro: o atacante Grafite, ex-São Paulo e Wolfsburg-ALE, que disputou a Copa-2010 com a seleção brasileira.

Não à toa, o Santa Cruz vive grande temporada. Além de voltar a disputar o Brasileirão neste ano, a equipe do Recife está na final da Copa do Nordeste, e disputa o jogo de ida nesta quarta-feira. O time tricolor também está na decisão do Campeonato Pernambucano, contra o rival Sport. O Estadual começa a ser definido no dia 4 de maio.