Dados sobre microcefalia em Alagoas são falhos, diz pesquisa

Motivada pela grande disparidade dos números oficiais sobre os efeitos do vírus zika na gravidez de mulheres alagoanas comparados aos de estados vizinhos, como Bahia, Pernambuco e Paraíba, a antropóloga e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, a alagoana, Debora Diniz, desenvolveu um estudo que chama a atenção para a necessidade de se reavaliar os casos até agora descartados no Estado.

Intitulado “Zika em Alagoas – a urgência dos direitos”, o estudo perfila as mulheres assoladas pelo zika vírus em Alagoas como jovens, negras e indígenas, com baixa ou nenhuma escolaridade, e que vivenciam a primeira gestação ainda na adolescência. Esse perfil seria um dos fatores que justifica o aparente paradoxo em curso na epidemia aqui e o silêncio sobre seus efeitos para a vida das famílias.

A Expedição

Para a realização do estudo foi feita uma expedição durante todo o mês de dezembro de 2016, intitulada ‘Maria Bonita’, que percorreu mais de 800 km, em 21 municípios, no Agreste, Sertão, Alto Sertão e Litoral, e entrevistou 54 famílias de crianças confirmadas ou descartadas de má-formação causada pelo zika, pelos critérios vigentes no momento do nascimento ou por atendimentos de puericultura. À época, o Ministério da Saúde registrava 86 crianças como confirmadas ou em investigação para a síndrome congênita do zika em Alagoas.

O Estudo

Este é o primeiro estudo abrangente que se dedica em mapear o avanço da doença exclusivamente em um estado do Brasil. Nele ficou comprovado que uma em cada quatro crianças não tinha assistência farmacêutica. Quase metade (45%) não tinha acesso a transporte da prefeitura para ir a consultas especializadas e boa parte, mesmo reunindo requisitos, não recebia o Benefício de Prestação Continuada, concedido para crianças com a síndrome que vivem em famílias cuja renda per capita não ultrapassa um quarto de salário mínimo.

Dos 54 casos analisados pelo grupo, 5 foram descartados por serem nitidamente falhas de registro. No grupo restante, de 49 crianças, 10 haviam sido descartados para síndrome congênita de zika por autoridades sanitárias, de forma incorreta, que de acordo com a avaliação dos pesquisadores. “Todas reuniam características que apontavam síndrome.”

Em Alagoas para o caso ser considerado confirmado é necessário que a criança faça um exame de tomografia, no entanto, o estado conta apenas com dois aparelhos.  Em Alagoas, são 22 crianças com diagnóstico descartados a cada 10 mil nascidos vivos. Enquanto na Bahia, são 11.

Para a pesquisadora, há ainda muito a se entender sobre a diferença entre os números de Alagoas e dos vizinhos, mas se há algum paradoxo, é o do silêncio, e dessas mulheres em particular.

“Não tenho a menor dúvida de que o Estado brasileiro deve retornar a todos os casos descartados da epidemia. O que sabemos da epidemia agora não é o que sabíamos no início.” Ela pondera ainda que ao longo da epidemia os critérios para classificação dos casos mudou. “Com isso, não temos dados para fazer uma comparação da epidemia ao longo do tempo.”

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