O sanfoneiro de Anadia

Em uma noite de inesquecível emoção ao assistir o show dos artistas Moraes Moreira e do sanfoneiro Osvaldinho, cheguei às lágrimas ao ouvir entre tantas músicas, uma que falava da vida de um sanfoneiro que tocava e encantava a todos que o escutava. A letra da música dizia: ”era fã de um sanfoneiro bom e em um certo dia de festa da padroeira do lugar, calaram pra sempre a voz que mais animava com alegria e emoção as noites de São João”.

Neste momento confesso que chorei, enxuguei as lágrimas e lembrei-me de Antônio do Baião, nascido em Belém, pertencente à antiga Anadia, discípulo do mestre Luiz Gonzaga, a quem acompanhou em vários cantos deste País, mas fez uma opção, enchia o peito e dizia: “Eu adoro tocar em Anadia”. Antônio do Baião empolgou a platéia do nosso Estado e por onde tocou fora dele, emocionou a todos e conquistou um sem números de fãs.

Eu ainda pequeno comprovei a paixão que ele tinha por nossa terra Anadia. Várias vezes vi seus olhos cheios de lágrimas e emoção ao tocar para nosso povo. Retrocedendo no tempo um pouco mais, lembrei da Arca e da Sobra, clubes sociais de Anadia. Quantos personagens e tantas inesquecíveis festas de Santo Antônio, São João e São Pedro.

No Palco, a voz e sanfona de Antônio do Baião somavam-se ao triangulo e a voz de Audálio e ao zabumba do Cacau… Enfeitiçados, ouvíamos todos, um canto verdadeiro que entrava em nossas almas como um tiro certeiro a nos falar: aproveitem esses momentos, pois, serão inesquecíveis. Que pena, não imaginava que em pouco tempo ele seria somente recordação, lembrança, saudade.

O que me entristece ainda mais é saber que como na música do referido show, assassinaram em Anadia, violentamente, covardemente e barbaramente, o Antônio do Baião. A terra que tanto o apaixonou serviu de cenário para uma triste história, no dia da festa da nossa padroeira, quando de forma fria e cruel foi morto aquele que tantas alegrias nos proporcionou. Se perguntarem o motivo de tamanha crueldade, lembro de uma canção de Bob Dylan, que diz: “Pergunte ao vento meu amigo, escute o vento, ele vai lhe responder”.

Coloco aqui uma interrogação, quem matou o artista mais popular daquela época de ouro? Respondo sem medo, os mesmos que hoje aniquilam as nossas tradições, como já fizeram no passado, assassinos de almas e sonhos, exterminadores das tradições e da cultura popular, disfarçados e impunes, que reeditam velhas novidades, novas caras com genes antiquados e reestreiam um filme que já sei o final melancólico.

Estão gravados em minha memória os versos da música que ao amanhecer do dia encerrava os festejos juninos. Com uma bananeira nas costas, juntos povo e o sanfoneiro, pelas ruas a cantar “Chora bananeira, bananeira chora, chora bananeira porque meu amor foi embora”. Anadia não esqueceu o artista de tantas festas e de tamanha doação a seu povo. Aonde um toque de sanfona nos invadir o coração com certeza por perto estará à alma do eterno Antônio do Baião.

(*) Ex-secretário de Estado

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