Brasileira venceu Ronda Rousey antes do estrelato no UFC conta como é

Ronda Rousey e a brasileira Erica Moraes, nos tempos em que ambas eram judocas (Foto: Getty Images)
Ronda Rousey e a brasileira Erica Moraes, nos tempos em que ambas eram judocas (Foto: Getty Images)

Hoje em dia, é difícil imaginar que alguém entre para lutar contra Ronda Rousey achando que terá vida tranquila. Há 11 anos, porém, a norte-americana era bem menos conhecida, e uma brasileira não acreditou que enfrentá-la pudesse ser uma ameaça. Erica Moraes pagou caro, é verdade, mas pode dizer que já venceu a maior estrela do UFC.

Tudo aconteceu em 2004, muito antes de Rousey iniciar sua carreira invicta nas artes marciais mistas. Moraes era judoca e dividia a categoria até 63 kg com grandes nomes da modalidade: a canadense Marie-Hélène Chisholm, a cubana Anaysi Hernandez, a argentina Daniela Krukower… E uma jovem revelação dos Estados Unidos, então com 17 anos.

Em abril, foi o disputado o Campeonato Pan-Americano de judô, na Ilha de Margarita, na Venezuela. Quase todas essas judocas ficaram para trás na chave de Moraes. Menos Ronda Rousey, que seria sua rival na final. “Ela não era destaque. Era forte, mas ainda estava aparecendo”, relembrou a brasileira, em entrevista, por telefone, ao ESPN.com.br.

A competição era importante no circuito, valendo pontos para classificação aos Jogos Olímpicos de Atenas. “Quando caiu todo mundo e eu cheguei à final, pensei: ‘ah, agora, ganhei’. E encontrei com a Ronda… Acabei perdendo. Meu técnico ficou louco”, contou Moraes. “Foi uma bem luta complicada, perdi por punição, se não me engano.”

Naquela época, as viagens de judocas para competições no exterior eram raras. Na preparação para Atenas 2004, por exemplo, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) investiu cerca de R$ 495 mil para viabilizar lutas contra os principais nomes da modalidade. Para Londres 2012, o gasto foi R$ 7 milhões, valor que já aumentou para a Rio 2016.

“A gente não conhecia muito. Os EUA não tinham uma tradição de ter atletas fortes. Naquela época, a outra judoca deles era muito forte fisicamente, mas ruim tecnicamente. Não sei se entrei relaxada (contra Ronda)…”, seguiu a brasileira, antes de relembrar, enfim, a oportunidade em que venceu a nova queridinha do mundo das lutas.

O caminho para a vitória

Em seu relato, Moraes lembra ter vencido Rousey logo depois da derrota na Venezuela, no Aberto de Hamburgo. A competição em solo alemão, contudo, aconteceu antes do Pan-Americano, em fevereiro, cerca de 20 dias após a norte-americana, nascida em 1/2/1987, ter completado seus 17 anos. O combate, contudo, segue fresco em sua cabeça.

“Venci com wazari e yuko. Joguei duas vezes. Já foi uma luta mais tranquila”, rememorou. “Acho que estava mais preparada, e deu tudo certo”. Em Hamburgo, Moraes encontrou com Rousey antes das oitavas. Avançou, mas acabou batida pela austríaca Claudia Heill, que foi medalha de prata, assim como nos Jogos de Atenas.

A brasileira, por sua vez, ficou fora da Olimpíada, compondo a equipe apenas como reserva de Vânia Ishii – que também lutou contra a campeã do peso galo do UFC, em 2005, e perdeu. Rousey foi a Atenas como judoca mais jovem dos Jogos, mas foi derrotada na estreia, também por Claudia Heill – até foi à repescagem, porém, perdeu para a norte-coreana Hong Ok-Song.

Rousey brilharia mesmo nos Jogos seguintes, em Pequim 2008, já na categoria até 70 kg, em que conseguiu sua maior glória antes dos tempos de MMA com a medalha de bronze. Um ano antes, em 2007, ela foi ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, batendo a brasileira Mayra Aguiar na final, e prata no Mundial, também no Brasil.

Erica Moraes acredita que tudo isso faz diferença no UFC. “Ela é uma atleta que fez ciclos olímpicos, lutou, medalhou… Fez todos os treinamentos europeus, que são muito fortes. O judô é muito duro, os que chegam a resultados, como ela, são muito fortes. A experiência dela é muito maior. A vivência em competição, pressão de Olimpíada, auxilia demais.”

Com a experiência de quem já bateu Rousey, Moraes adianta o que deve esperar sua compatriota Bethe Correia, que tenta tirar o cinturão do UFC da americana neste sábado. “Ela é muito forte mesmo. O que mais irrita é a pessoa não se render. Mesmo quando está perdendo, não se abate. É uma característica que a fez ganhar tudo”.

Dificuldades e estrelato

Depois da primeira medalha olímpica, Rousey migrou para o MMA. Sua primeira luta foi em agosto de 2010, em que já começou a mostrar seu talento no jogo de chão, graças à base no judô. Até aqui, 12 de seus 14 triunfos (11 como profissional, três como amadora) vieram por finalização, com o golpe que virou sua marca, a chave de braço.

Moraes, por sua vez, sofreu. “Para Pequim, tive três lesões no joelho, tendão rompido. São três ciclos olímpicos, 12 anos dedicando sua vida para uma coisa. E, quando sai (do judô), assustei um pouco. Vi vários atletas que eu venci medalhando. Talvez seja sorte, alguns falam de estrela… Mas, naquela época, de tudo que eu ganhava, fui para R$ 0.”

“Ninguém entende que, até 30 anos, você não tem o hábito de trabalhar oito horas. É outra vida, o judô hoje não tem essa condição. Talvez casos muitos excepcionais, os mais novos, ganham um pouco mais e vão ter um dinheiro para se manter. No geral, no máximo, você vai ter um dinheiro bom para gastar ali e depois vai ter que se virar”, seguiu.

A agora ex-judoca, porém, superou os problemas e se reencontrou. Trabalhou na secretaria de esportes de Minas Gerais e hoje comanda a GCP (Gestão Compartilhada de Projetos), empresa de gestão esportiva. O dinheiro, claro, é incomparável com o que Rousey ganha no UFC, mas isso não incomoda Moraes nem um pouco.

“O MMA virou um grande negócio. Ela está em Hollywood hoje. Muito por causa do formato do evento deles… No judô, ela foi equivalente (ao que é no UFC) e não teve todo esse destaque”, disse, antes de encher a boca para falar sobre seu emprego atual. “Se, na minha carreira, não pude ter uma medalha olímpica, que possa proporcionar para outros”.

Fonte: ESPN

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