“Ele matou minha filha! Matou friamente!”, desabafa mãe da jornalista Márcia Rodrigues

Família não acredita na versão de suicídio apresentada pela polícia e estuda pedir nova perícia, mas prioridade agora é o Neto

Déborah Moraes/Alagoas24horasFamília de Márcia Rodrigues contesta conclusão de inquérito da PC

Família de Márcia Rodrigues contesta conclusão de inquérito da PC

Após o posicionamento oficial da polícia a respeito da morte de Márcia Rodrigues, ocorrida em agosto de 2016, em Paripueira, a qual laudo pericial afirma ter sido suicídio, a mãe da jornalista, Maria do Carmo Rodrigues de Souza, disse ter certeza absoluta que a filha foi morta pelo pai, o ex-delegado da polícia federal Milton Omena Farias, assassinado pelo neto na última semana.

Acompanhada pelos advogados de defesa do neto, Ronald Pinheiro e Leonardo de Moraes, Carminha, como é conhecida, relatou em coletiva à imprensa o passado violento do ex-delegado. De acordo com ela Milton Omena era um homem “agressivo, possessivo, incontrolável, de comportamento próximo a psicopatia” e que ela foi uma das principais vítimas dele.

Casada após um arranjo familiar, aos 14 anos, quando estava grávida do primeiro filho, Carminha foi atingida por um tiro disparado pelo então policial civil, de 19 anos, por ciúmes. “Eu vi uma luz vermelha num estabelecimento que eu não sabia se tratar de um prostíbulo e pedi para o meu marido colocar uma luz igual em nossa casa. Ele ficou enfurecido, me acusou de adultério, questionou aonde eu andava nas noites em que ele estava de plantão e atirou na minha perna. Tenho essa bala alojada na minha coxa até hoje”, contou.

Após o incidente, Carminha viveu 47 anos ao lado de um marido que constantemente lhe agredia moral e fisicamente, chegando a, mais de uma vez, colocar sua cabeça dentro do vaso sanitário, numa forma de humilhá-la. Ela disse ter tentado se separar por diversas vezes, mas sempre era coagida a desistir pelo ex-delegado, que chegou a rasgar inúmeros acordos de divórcio entregues por advogados e oficiais de justiça.

“Eu só consegui me divorciar devido a intervenção de um advogado, também delegado federal, amigo nosso e ao concordar sair do casamento sem receber nenhuma quantia de dinheiro e deixar para ele a casa de praia em Paripueira, que eu havia comprado com meu dinheiro, contra a vontade dele, e onde aconteceram essas tragédias”, explicou.

Além de Carminha outra vítima de Milton Omena foi o ex-marido da filha, Genivaldo Luis de França, que foi ameaçado pelo ex-sogro e esteve sob mira de sua arma por duas vezes, por desentendimentos corriqueiros.

Carminha disse também que o ex-marido, que também era instrutor de tiro, já tinha tentado cometer suicídio, há mais de duas décadas, após mais um pedido de divórcio, atirando no próprio rosto e sendo necessário se submeter a cirurgias plásticas para reparação. Ele também já teria tentado matar a filha Márcia uma outra vez, em 2012, quando numa discussão por causa de uma empresa onde os dois seriam sócios, ele lançou contra ela uma mesa de centro. “Ele atirou a mesa em cima da minha filha. A empregada que estava no local na hora correu para pedir ajuda e ele fugiu no próprio carro. Após esse incidente a Márcia não falou mais com o pai até aproximadamente quatro meses antes de ser morta”, concluiu.

“Estamos convictos que a morte da Márcia foi homicídio”

No dia da morte da filha, o ex-delegado teria ligado para a neta, a única da família com quem ainda mantinha contato, que morava em São Paulo, dizendo que a mãe havia tentado se matar, mas que ele estava tentando socorre-la. A neta foi a responsável por dar a notícia ao irmão que estava em Alagoas passando férias ao lado da avó e que ao ligar para o avô foi impedido por ele de ir até o local do crime, o que é tratado como questionável por seus advogados.

Maria do Carmo disse que um dia antes de sua morte a filha teria confessado por telefone a uma tia, irmã da mãe, que não estava com vontade de ir encontrar o pai naquela noite, mas que havia sido um pedido dele, e que por ser dia dos pais no dia seguinte, iria. Os advogados de defesa disseram que testemunhas afirmaram que pai e filha discutiram várias vezes na noite anterior ao crime e na manhã do dia dos pais, o que não foi confirmado pela polícia.

Outro fato suspeito apontado pelos advogados foi a reforma que Milton Omena fez na casa, principalmente no cômodo onde a morte da Márcia ocorreu. “Ele mandou trocar o piso, raspar a parede, fazer nova pintura e construiu um banheiro diferente no quarto, do que havia na época do crime. Além disso ele queimou colchão e roupa de cama um dia após o crime”, afirmou Leonardo de Moraes.

Outros questionamentos feitos pela família correm em torno das motivações que Márcia teria para cometer suicídio. Na época de sua morte, diferente do que foi alegado no início das investigações pelo pai, Márcia não enfrentava problemas emocionais ou financeiros e, inclusive, teria projetos profissionais em discussão com uma emissora de TV local. Fora isso, a alegação feita pelo pai de não saber onde estava a arma usada no crime e não ter ouvido os disparos feitos pela filha, mereciam maior atenção do que foi dada durante a investigação.

Por fim, o mais importante para os advogados foi a ausência do resultado do exame residuográfico, que ainda não ficou pronto. “Estamos convictos que a morte da Márcia foi homicídio. Afirmar que ela cometeu suicídio sem o laudo residuográfico, apenas levanta mais suspeitas e dúvidas. Esse é um exame crucial que certamente poderia mudar as conclusões apresentadas ontem pela polícia”, explicaram os advogados.

Caso Milton Neto: “Não houve crime, houve uma fatalidade”

Déborah Moraes / Alagoas 24 HorasMãe de jornalista Márcia Rodrigues, defende o Neto

A respeito do caso do neto, família e advogados têm certeza que o Milton Neto é inocente e a morte do avô foi uma fatalidade. “Nosso cliente é um jovem bem quisto pela família e amigos. Sempre foi um estudante brilhante, se destacando em tudo o que fazia. Não tem antecedentes criminais, e, em nenhum momento, se esquivou da polícia. O que nós queremos é que ele possa responder ao processo em liberdade, retomar sua vida, visto que, o que houve não foi um crime, mas sim, uma fatalidade. Nosso cliente lutou pela vida dele, apenas”, afirmou Leonardo Moraes, advogado de defesa de Milton Neto.

Sobre a possibilidade de contratar uma nova perícia, particular e idônea, os advogados da família afirmaram que estudam esta hipótese, mas que no momento a prioridade é garantir que Milton Neto possa responder ao processo em liberdade já que não tem antecedentes criminais e não representa risco a sociedade, de acordo com os defensores.

“Meu neto não merece estar preso”

Milton Omena Farias Neto está morando com avó desde agosto do ano passado, após retomar ao Brasil por motivo da morte da mãe. O jovem estudava análise de sistemas na Irlanda, com bolsa. Para não deixar a avó sozinha, a quem chamava pelo nome, Carminha, Milton Neto prestou o exame do Enem, foi aprovado e deveria começar o curso de Ciências da Computação na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) neste semestre.

Na última sexta-feira, 27, a avó relatou que Milton Neto saiu de casa com a irmã de carro e que em nenhum momento disse que iria até a casa do avô ou que havia ficado sabendo de qualquer informação a respeito da investigação da morte da mãe. Mas Carminha afirma que o neto vivia angustiado pela demora na resolução do caso e que aguardava com muita “fé” o resultado da justiça, a qual nunca desacreditou e que nunca teve acesso ao laudo pericial apresentado na última segunda-feira (30) pela Secretaria de Segurança Pública do Estado.

A avó contou ainda que pediu por mais de uma vez que o neto voltasse a Irlanda e retomasse seus estudos, mas que ele, conforme a postura doce, companheira e carinhosa que sempre demonstrou com ela, se recusava a deixá-la sozinha. “Ele dizia assim pra mim: ‘Não Carminha, eu não vou deixar você sozinha. Minha irmã está vindo para cá [Maceió] também e nós vamos ficar com você. Vamos reconstruir nossa vida aqui, nós três'”, relatou.

“Eu estou arrasada. O que aconteceu com meu neto é inacreditável! Tudo o que me interessa agora é a liberdade dele. É que ele possa voltar a viver. Meu neto não merece estar preso. Só tenho forças para suportar tudo o que vem acontecendo graças a Deus, aos amigos que não têm me deixado só, e a eles, meus netos, minha família”, concluiu, em meio a lágrimas.

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