Contra ‘radicalização islâmica’, país força 13 mil homens a raspar barba

Governo do Tadjiquistão, em que 99% são muçulmanos, vê barba como comportamento 'estrangeiro imposto'.

BBCCampanha oficial no Tajiquistão mira barbas para evitar radicalismo

Campanha oficial no Tajiquistão mira barbas para evitar radicalismo

“Eles me chamaram de salafista (integrante de movimento sunita fundamentalista), um radical, inimigo público. Ele não tiveram vergonha de usar linguagem abusiva. E aí dois deles seguraram meus braços enquanto outro raspou minha barba.”

Djovid Akramov conta como foi parado pela polícia de Tajikna na porta de sua casa, com o filho de sete anos de idade ao lado, e levado para a delegacia da capital, Dushanbé.

Akramov se tornou mais um entre centenas de milhares de homens no Tadjiquistão detidos nos últimos dois anos por serem barbados.

Após serem levados a delegacias, eles foram fichados (com impressão digital e tudo) e obrigados a raspar os pelos da face.

Raspar barbas é parte de uma campanha do governo contra tendências ou comportamento que vê como “estrangeiro e inconsistente em relação à cultura tadjique”.

O alvo é a radicalização em um país de grande maioria islâmica – em meio a temores de que a Ásia Central possa seguir o caminho de países como Afeganistão, Iraque ou Síria, imersos em extremismo.

Estima-se que, somente no último verão, entre 1.500 e 4 mil centro-asiáticos se voluntariaram para lutar por diferentes grupos radicais islâmicos na Síria e no Iraque.

Ao relatar o progresso da campanha “anti-radicalização”, autoridades anunciaram que a polícia raspou as barbas de 13 mil homens na região de Kathlon no ano passado.

A campanha também mira mulheres vestindo roupas femininas tradicionais do Islã, especialmente o véu, em escolas e universidades. Mas, na prática, a proibição vale em todas as instituições estatais.

“Não venere valores estrangeiros, não siga culturas de fora. Use roupas de cores e cortes tradicionais, não o preto. Mesmo de luto, as mulheres tadjique devem vestir branco, não preto”, disse o presidente do país, Emomali Rahmon.

As autoridades já haviam pedido a pais que dessem aos filhos nomes tradicionais tadjiques.

Humilhação
Djovid Akramov, entretanto, diz que não esquecerá a humilhação que sentiu ao ser forçado a raspar a barba em uma delegacia.

“O pior é a impunidade do policial, que estava aproveitando a oportunidade para intimidar as pessoas”.

Ele afirma que não há como evitar a ação da polícia e que é exatamente esta conduta (do estado) que jogas as pessoas para o radicalismo.

De acordo com números oficiais, 99% da população do Tadjiquistão é muçulmana, de maioria sunita, com uma pequena comunidade xiita na região de Badakhshan.

Fonte: BBC

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