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Luis Vilar

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Da morte e do amor

Como entender a morte? É uma pergunta que sempre me acompanhou, mas que nunca de fato me meteu medo, mas simplesmente revolta quando esta chega de maneira ilógica. Vivo a me preparar para enterrar aqueles que pela lógica da idade devem de fato ir mais cedo que eu.

Porém, quando a existência é interrompida no meio do melhor da vida, de forma brusca, violenta, impensada e insensata…fica uma sensação de que o mundo inteiro saiu do roteiro que era previsto. Fica uma interrogação, uma dúvida sobre quem controla a máquina. Deus?

Já se vão duas noites que não consigo dormir direito. Do domingo para a segunda-feira acordei às 2 horas da madrugada, com uma angústia, uma dor indefinida. Vontade de ligar para todos os conhecidos. Coisa que só não fiz pelo adiantado da hora. Ao amanhecer, descobri que tinha perdido um ente querido pelas mãos da violência que assola o nosso cotidiano. Como entender as linhas tortas que são rascunhadas durante a nossa existência…

As desgraças que nos abatem tendem a nos fazer mais fortes e mais duros. É verdade. Porém, nos dá uma sensação de que estamos órfãos de sentido no meio do mundo, que se banaliza a cada dia. Os nossos valores estão ficando confusos. O Deus que nos salvaria vem sendo pregado – ultimamente – da boca para fora e em um deserto estéril. Resta-nos a revolta. Um ódio natural que, em uma incumbência alquímica e quase utópica, temos que lutar para transformá-lo em amor, suporte e força.

Quando digo a algumas pessoas que optei pelo politicamente correto e pelo querer mudar o mundo, elas me diziam que eu era utópico e idealista. Hoje eu sei que a minha busca insana pelo correto, pelo justo e pelo honesto, nos mínimos detalhes, não é mais uma utopia. É uma urgência. É uma emergência. Temos que pensar nos dias que ficam para depois de nós, porque a morte não é uma despedida. Nossa ausência, nos fará mais presentes do que nunca dentro daqueles que nos amaram. Quanto maior o ciclo que deixarmos, maior será a possibilidade de estarmos presenteando o futuro com o melhor de nós.

E não dá para começar este ciclo amanhã. Se não for hoje, se não for agora, pode ser nunca mais.

Estou de luto. A tristeza fez morada em mim e talvez fique aqui do meu lado por um bom tempo. Aliás, ando buscando enxergar na dor da saudade a reflexão. O luto se faz para pensarmos não só em quem se foi, mas em nós – seres frágeis – que passamos por constantes lições de vida ao assistirmos a violência que bate a nossa porta e outras adversidades e muitas vezes sem aprendermos nada. Aliás, sem apreendermos o que realmente importa.

É difícil. Eu sei. Às vezes parece ser coisas que só existem nas palavras e nos momentos de consolo. Ainda mais quando morrer cedo é uma transgressão, como li certa vez em um texto. A ausência da pessoa fica sempre povoada por aquilo que ela poderia ter feito, mas que foi interrompido abruptamente. É aparentemente sem sentido. De onde buscar forças? Onde encontrar fé? Como continuar acreditando que um Deus rege uma lógica imperceptível ao olhar humano, mas que nos acompanha?

Minha fé sempre foi pouca. Agnóstico, dirão alguns. Pois que seja. Mas, eu pergunto: morre-se a troco de que? É nesse exato momento que precisamos parar, sentar e concluir qual mensagem exata ficou em nós. Ainda não digeri os acontecimentos para submetê-los a luz da inteligência. Ainda está tudo muito recente em mim. Porém, uma mensagem já se fez em mim, assim que me doeu muito ver o sol pela manhã. É urgente a necessidade de me unir e espalhar o amor, simplesmente porque não sei até quando poderei fazer. Simplesmente porque sei o que quero dizer, mas não sei como. Simplesmente porque amo e cometo todos os dias o pecado de deixar as pessoas dormirem sem dizer que as amo, amo muito e que sem elas não sou nada.

Ontem minha irmã dormiu chorando, eu não disse que a amava. O mesmo aconteceu com minha esposa, minha mãe, meu pai, meus familiares, enfim. Deixei o mundo mais seco ontem. Por sorte, por muita sorte eu acordei hoje. E agora, posso fazer isto. Mas sei que um dia eu vou dormir e sem poder acordar de novo, assim como todos aqueles que esperam de mim.

Por isto resolvi fazer da morte uma carta de amor. Que o mal irremediável – já que é irremediável – nos una. Ensine-nos que numa roda formada por pessoas de mãos dadas, quando um solta as mãos por ter cumprido sua viagem, é hora dos outros se aproximarem mais ainda para continuar de mãos dadas. Meus amores, amores da minha vida, me perdoem por amar tanto sem saber dizer a vocês o quanto amo. Hoje, vocês não vão dormir sem escutar “EU TE AMO”. Eu prometo. A gente pode mudar. A gente pode começar por aqui.

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