Há pelo menos um ano o funcionário que foi denunciado pela jovem Isabelle Pacheco, de 19 anos, filmava mulheres no provador da loja de roupas de um shopping em Sorocaba (SP). A informação é da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Sorocaba (SP).
Em depoimento à polícia, o homem confessou o crime e disse que filmou oito mulheres no provador. O celular do rapaz foi apreendido após ele ser ouvido pela delegada e passará por perícia.
A prática apenas se tornou pública quando a jovem expôs no Instagram o que ocorreu com ela no feriado de 7 de setembro. O relato divulgado em um vídeo que viralizou nas redes sociais havia alcançado, até esta quarta-feira (9), quase 50 mil visualizações.
Por baixo da porta
Isabelle usava o provador de uma loja Pernambucanas, em um shopping na zona norte de Sorocaba, quando notou que era filmada por um funcionário que posicionou um celular embaixo da porta.
Ela, então, saiu do provador e chamou o gerente da loja. Isabelle e seu pai, que a acompanhava no passeio pelo shopping, acionaram a Polícia Militar, que foi ao local e orientou a jovem a fazer um boletim de ocorrência.
Em entrevista ao G1, Isabelle afirma que mesmo ao chamar a polícia, não conseguiu amparo quando notou que foi filmada. Os policiais a orientaram a registrar a ocorrência na delegacia, e não apreenderam o celular usado no crime.
O responsável pela loja pegou o celular do funcionário e mostrou a galeria vazia. Porém, na área da lixeira que fica registrada na nuvem, a vítima diz ter visto pelo menos 30 vídeos de várias mulheres, gravados em diferentes ocasiões.
“Tinha o rosto da pessoa e ela trocando de roupa. Mas não apreenderam o celular dele. Lamento dizer, mas a polícia se omitiu”, relata a jovem.
A vítima saiu da loja e foi registrar um boletim de ocorrência por crime contra a dignidade sexual, que consiste em produzir, fotografar e filmar imagens íntimas sem autorização.
“Ao mesmo tempo em que a gente acaba se sentindo exposto, perdemos nossa privacidade. É justiça, não só para mim, mas para outras mulheres. Quero que a justiça seja feita e que ele pague pelo que fez”, afirma.
Depoimento dos policiais
A delegada que investiga o caso, Verali Ferraz, diz que os policiais deveriam ter apreendido o celular do homem.
“Quando ocorre uma denúncia como esta, o celular deve ser aprendido pela Polícia Militar no momento em que é acionada e o suspeito deve ser levado para a delegacia”, afirma Ferraz.
De acordo com ela, será enviado um ofício para a PM para que os agentes que participaram da ocorrência também prestem depoimento.
Crime contra a dignidade sexual
A advogada de Isabelle, Vanessa Lucchetta, contou que o crime está tipificado como uma ação penal incondicionada, ou seja, terá que ser enviado ao Ministério Público para prosseguimento da denúncia.
“Houve responsabilidade ativa e subjetiva das lojas e do shopping. A gente vai pressionar para que o funcionário cumpra a pena em regime fechado. Depois entraremos com uma ação para que a loja e o shopping ressarçam a vítima”, explica a advogada.
O crime contra a dignidade sexual pode resultar na pena de um ano de prisão. Como não houve flagrante, o funcionário prestou depoimento nesta quarta-feira (9) e foi liberado.
O aparelho foi apreendido pela polícia, também nesta quarta-feira, e passará por perícia para tentar recuperar os registros, que foram apagados. O homem não tinha antecedentes criminais e afirmou que pediu demissão do emprego.
O que dizem a polícia e a loja
Ao G1, a Polícia Militar informou que orientou a vítima a registrar o caso na Delegacia da Mulher. “O boletim de ocorrência produzido pela Polícia Militar é encaminhado à delegacia responsável para providências ulteriores”, diz a corporação.
A PM não respondeu sobre o motivo pelo qual os policiais que participaram da ocorrência não apreenderam o celular do funcionário.
Já a loja Pernambucanas afirmou que lamenta o ocorrido e que repudia com veemência todo e qualquer ato de desrespeito e de ofensa à privacidade. “A pessoa citada já não faz mais parte do quadro de colaboradores da empresa”, informou.
