A cúpula da CPI da Covid espera contar com o reforço de investigadores da Polícia Federal durante o recesso parlamentar para se debruçar sobre documentos que já somam quase 2 terabytes de informação. A folga de deputados e senadores começa na próxima segunda-feira (19) e vai até o dia 1º de agosto.
A documentação foi colhida durante os mais de dois meses de trabalhos do colegiado e é composta por um vasto material com quebras de sigilo, detalhes sobre a aquisição de vacinas, inquéritos policiais e dados fornecidos por órgãos de controle.
As informações em posse da CPI são, inclusive, objeto de pedidos de acesso por parte dos alvos da investigação. O ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias e o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), por exemplo, requisitaram a íntegra de todos os relatórios e documentos que os envolvem.
“Sobre o recesso, será um descanso em termos. A gente tem [quase] 2 terabytes de documentos para serem analisados, e um detalhe, às vezes, faz muita diferença. Ficarão muitas pessoas para trabalhar, e estamos pedindo à Polícia Federal mais um delegado e agentes para ajudar nessa operação”, afirmou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ao G1.
Além dos técnicos do Senado, a comissão já conta com o apoio de servidores da Receita Federal e do Tribunal de Contas da União (TCU), e também um perito, um agente e um delegado da Polícia Federal para fazer a análise dos dados.
Mas, diante do volume crescente de informações, a cúpula da comissão vê a necessidade de reforço, já que ainda há mais documentos previstos para serem enviados – o requerimento que solicitou o envio de dados sobre a atuação da Precisa Medicamentos, empresa que negociou com o Ministério da Saúde e é alvo das investigações, por exemplo, somente foi aprovado na véspera do recesso, nesta quinta-feira (15).
A previsão é que já na primeira semana de agosto o sócio da Precisa, Francisco Maximiano, preste depoimento à comissão.
CPI ‘não vai esfriar’
O recesso parlamentar tem início em um momento em que as investigações avançam sobre denúncias de supostas fraudes e irregularidades na aquisição de vacinas.
Servidores do Ministério da Saúde e um autointitulado vendedor de imunizantes denunciaram irregularidades em contratos e pedidos de propina, o que manteve a comissão no foco das atenções nos últimos dias.
A pausa, afirma Omar Aziz, não vai afetar os trabalhos. “Não vai esfriar, essa preocupação de o governo agir e os trabalhos esfriarem não tem sentido. Ao contrário, ainda temos muito o que investigar”, disse o presidente da comissão.
Hospitais do Rio
Para o próximo mês, por exemplo, devem entrar no centro das investigações as possíveis irregularidades em hospitais no Rio de Janeiro.
Conforme mostrou a colunista do G1 Ana Flor, documentos que chegaram à CPI indicam que um dos intermediários da tentativa de venda de 400 milhões de doses fantasmas da AstraZeneca ao governo federal, o coronel da Aeronáutica Glaucio Octaviano Guerra, hoje na reserva, tinha empresas que atuavam em contratos com hospitais federais no Rio.
Em depoimento nesta quinta à CPI, o representante da Davati Medical Supply Cristiano Carvalho citou o coronel Guerra como alguém que atuava como porta-voz da Davati junto a pessoas que tinham acesso ao governo. Guerra também foi citado pelo cabo da PM Luiz Dominghetti.
As irregularidades em hospitais fluminenses também foram relatadas à CPI pelo ex-governador do Rio Wilson Witzel. Após o depoimento, a comissão aprovou a quebra de sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático de organizações sociais que, de acordo com Witzel, teriam participado de desvio de recursos no estado do Rio.