Vans são incendiadas em diferentes regiões na Zona Oeste do Rio; polícia investiga guerra entre milicianos

Pelo menos oito vans foram incendiadas na manhã desta quinta-feira em cinco bairros da Zona Oeste do Rio, segundo o Corpo de Bombeiros. De acordo com informações recebidas pela Polícia Civil e e pela Polícia Militar, as vans foram queimadas em meio a um guerra entre grupos de milicianos rivais chefiados por Danilo Dias Lima, o Danilo Tandera, e Luis Antonio da Siva Braga, o Zinho. O comércio está fechado em algumas vias da região.

O incêndio dos veículos teria sido ordenado por Tandera em retaliação a dois assassinatos ocorridos, nesta quarta-feira, na Baixada Fluminense. As vítimas seriam igadas a Tandera e foram mortas tiros, no Bairro Marapicu, localizado às margens da Estrada Abílio Augusto Távora, em Nova Iguaçu. A Polícia Civil investiga ainda a possibilidade de que dois assassinatos, ocorridos também nesta quinta-feira, em Santa Cruz, estejam ligados ao conflito. Os mortos foram atingidos por tiros de fuzil. Os nomes deles não foram divulgados.

Duas vans foram incendiadas na Rua Agai, localizada no Jardim Palmares, em Paciência, na Zona Oeste. Duas vans também foram queimadas na Praça da Alegria, na Estrada do Tingui, em Campo Grande, e uma van foi queimada na Avenida João XXIII, em Santa Cruz. Há ainda outros dois veículos incendiados em bairros não divulgados.

Segundo a Policia Militar, 150 homens com auxíílo de um helicóptero já estão patrulhando pontos de Campo Grande e Santa Cruz. Ao telejornal RJ TV, o tenente-coronel da PM Ivan Blaz afirmou que todo o efetivo que realizava uma operação na Vila Kennedy, em Bangu, foi deslocado para região onde o confronto de milicianos acontece.

— Nossa missão prioritariamente é estabilizar a área. Assim que a PM tomou ciência dos primeiros ataques às vans na região de Campo Grande e Realengo, deslocamos todo nosso efetivo que estava empenhado numa operação na Vila Kennedy para a região ( Campo Grande e Santa Cruz) —disse Blaz.

Na Avenida Brasil, na entrada para a Comunidade dos Jesuítas, a Polícia Militar montou uma blitz. Motoristas que acessam a região são revistados.

A Polícia Civil investiga a guerra de milicianos rivais. Grupos de policiais de uma força-tarefa composta por agentes da Draço, do Departamento Geral de Polícia Especializada e da 36ªDP (Santa Cruz) estão sendo mobilizados na investigação.

Às 12h50, não havia vans em circulação nas ruas de Campo Grande e de Santa Cruz. Na Estrada Rio-São Paulo, era possível notar apenas a presença de ônibus. Na estrada Avenida João XXIII, em Santa Cruz, na altura do Residencial Santorini, há uma van destruída pelo fogo. Segundo moradores, que não quiseram se identificar, o automóvel foi incendiado pouco depois das 10h30.

O dono de uma das vans queimadas disse que “não aguenta mais viver nessa situação”.

— Fui abordado pouco depois das 9h45. Tinha passageiros e eu estava indo para a estação de Santa Cruz. Quando passava pela Estrada João Paulo eles mandaram todo mundo descer e atearam fogo. Eu não aguento mais essa vida. Amanhã vou para Minas Gerais com a minha família — afirmou.

Na Rua Agai, em Paciência, duas vans foram incendiadas. O ataque aconteceu por volta das 9h. Pouco depois das 14h40, uma equipe do Posto Regional de Polícia Técnica e Científica (PRPTC) de Campo Grande cheou ao local. Agentes recolheram diversas cápsulas de fuzil na região. A polícia também tenta recolher imagens de câmeras de segurança.

R$ 210 mil de prejuízo

A perícia também foi feita em uma van, incendiada na Estrada do Campinho, em Campo Grande. No local, o calor foi tão forte que destruiu a fiação nos postes. Um homem de 55 anos, dono da van, que fazia o trajeto Santa Cruz x Campo Grande, disse que recebeu a notícia de que o automóvel estava pegando fogo durante a madrugada.

— Eu estava indo dormir quando recebi a ligação do motorista dizendo que eles haviam colocado fogo na van. Entrei em choque e a minha mulher só chorava. Eu tive um prejuízo de R$ 210 mil. Vou ter que pagar a máquina de bilhetagem e continuar pagando a prestação dela. Ainda restam 15 mensalidades. A gente trabalha para caramba e tem que passar por isso — lamentou.

Na Rua Toledo, também em Campo Grande, outras duas vans foram incendiadas. O crime aconteceu por volta das 9h30. Nesta tarde, o cheiro de queimado ainda era muito forte. Com medo, os moradores evitam dar algum tipo de declaração. Imagens divulgadas na internet mostram os milicianos ateando fogo nas vans e em seguindo atirando.

Na Avenida Brasil no sentido Centro do Rio, na altura de Paciência, uma van também foi incendiada.

Por conta da guerra entre grupos rivais de milicianos, a Rio Ônibus informou que parte da frota que circula na região atingida pelo confronto teve suas linhas remanejadas ou interrompidas para garantia de segurança de passageiros e motoristas. Abaixo, a íntegra da nota enviada pelo sindicato das empresas de ônibus.

“Parte da frota que circula na região afetada teve suas linhas remanejadas ou interrompidas momentaneamente para garantia de segurança de passageiros e motoristas, bem como para evitar atos de vandalismo e incêndios criminosos a ônibus. O Rio Ônibus ressalta a necessidade de maior atenção das forças de Segurança Pública no patrulhamento dos itinerários, permitindo que o transportes da população opere sem danos.”

A Prefeitura do Rio informou que duas linhas do BRT, que ciirculam na região onde os confrontos acontecem, foram temporariamente interrompidas. Abaixo, a nota na íntegra:

“A Prefeitura do Rio, por meio do BRT Rio, informa que as linhas do BRT LECD 33 (Campo Grande x Santa Cruz) e 14 (Campo Grande x Salvador Allende), que circulam na Avenida Cesário de Melo, estão temporariamente suspensas devido aos incidentes na região. Vamos informar assim que forem normalizadas.”

Em uma nota, a Policia Militar informou que homens de sete batalhões estão atuando na Zona Oeste. Abaixo, a íntegra do documento.

” Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que os batalhões do 2ºComando de Policiamento de Área (CPA) que atuam na Zona Oeste: 9ºBPM (Rocha Miranda), 4OºBPM (Campo Grande), 14ºBPM (Bangu), 27ºBPM (Santa Cruz), 31ºBPM (Recreio dos Bandeirantes), e 41ºBPM (Irajá) estão reforçando o policiamento na região de Campo Grande e Santa Cruz, área que vem sofrendo reflexos de disputas territoriais entre facções criminosas, onde sete vans foram incendiadas, desde a noite de quarta-feira 15/09. Unidades subordinadas ao Comando de Operações Especiais (COE) continuam operando nesta quinta-feira (16/09) na Comunidade da Vila Aliança, comunidade que sofre influência de facção criminosa parceira das milícias. O reforço no policiamento tem apoio também de comboios do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões (RECOM) e de aeronaves do Grupamento Aeromóvel (GAM). Esse reforço visa garantir o retorno do transporte público com segurança na região.”

O Portal dos Procurados oferece R$ 5 mil de recompensa por informações que ajudem a prender o miliciano Tandera, de 37 anos, que é alvo de investigações da Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE). Ele está foragido da Justiça desde novembro de 2016, quando fugiu da Casa do Albergado Crispim Ventino. Sua quadrilha atua em Seropédica, Itaguaí, e em outros pontos da Baixada, como o Bairro K-32, em Nova Iguaçu. Ele é suspeito de lavar dinheiro de atividade criminosa da milícia, adquirindo mansões, cavalos de raça, carros, entre outros.

Com a morte do miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko, Tandera é o criminoso mais procurado do Rio. De acordo com as investigações da Draco, sua quadrilha tem como principais fontes de renda a exploração de comerciantes, obrigados a pagar taxa de segurança, venda de cigarros contrabandeados, exploração da distribuição clandestina de TV a cabo e comercialização de botijões de gás, entre outros crimes.

O inimigo Zinho

Em guerra com Tandera, Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, herdou o comando da maior milícia do Rio após substituir o irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko. Seu irmão morreu após ser baleado em confronto com policiais civis, em 12 de junho. Antes da morte de Ecko, Zinho era o operador financeiro do bando e encarregado de lavar o dinheiro da milícia. Em uma operação de 2019, a polícia rastreou cinco imóveis e um patrimônio avaliado em R$ 5 milhões gerenciado por Zinho. Nessa mesma ação, em um imóvel de uma mulher ligada a Zinho, foram apreendidos R$ 125 mil em espécie e um caderno com registros de uma viagem à Europa. Contra ele, há pelo menos três mandados de prisão expedidos pela Justiça do Rio. O Disque-Denúncia (2253-1177) oferece recompensa de R$ 1 mil por informações que levem à sua captura.

Fonte: Extra

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