Mulher que pega comida em caminhão de lixo diz recolher carne ‘verde’ para comer em caçamba cheia de sujeira e lama

O g1 foi nesta quarta-feira (20) ao local do vídeo que mostrava grupo coletando comida em carro de lixo. As cenas viralizaram no domingo (17). Lá, encontrou três pessoas que aparecem nas imagens, novamente, à procura de alimento.

São quase 9 horas desta quarta-feira (20), e a desempregada Jocasta Batista, de 31 anos, espera ansiosamente o caminhão de lixo chegar aos fundos de um complexo comercial na rua Bento Albuquerque, no Bairro Cocó, em Fortaleza. Ela depende do lixo para poder sobreviver e alimentar três filhas (de três, sete e 12 anos).

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‘O que os ricos comem também comemos. Só que estragado’

A cuidadora de idosos, Maria de Lourdes da Silva, 43 anos, também depende do lixo para sobreviver. Ao lado do marido e zelador, Francisco Antônio Dimas, 38 anos, visita o local todos os dias. O amigo Francisco Antônio da Silva, 53 anos, sempre fica por perto.

O casal Maria de Lourdes e Francisco Dimas, que também aparece no vídeo buscando comida no caminhão, e Francisco Antônio da Silva — Foto: Gioras Xerez/Sistema Verdes MaresO casal Maria de Lourdes e Francisco Dimas, que também aparece no vídeo buscando comida no caminhão, e Francisco Antônio da Silva — Foto: Gioras Xerez/Sistema Verdes Mares

Antes da pandemia, Maria de Lourdes trabalhava como cuidadora de idosos e relata que não faltava emprego. “Eu fiz um curso para cuidar de idosos, mas trabalhava em outras coisas. Nunca faltava nada. Agora sou recicladora. Por conta das dificuldades, agora, tenho que ficar nesta situação. Pegar o que se encontra vencido no lixo”, conta.

O marido Francisco Antônio Dimas trabalhava em uma empresa e durante a pandemia foi demitido. Sobre a cena que repercutiu nas redes sociais, ele comenta com bom humor.

“Tudo que os ricos comem nós também comemos. Só que estragados. Todo mundo se alimenta aqui na maioria das vezes do que sai dos sacos do lixo daqui”, fala apontando para o local onde o caminhão costuma estacionar.

Manhã improdutiva

Na manhã desta quarta, Maria de Lourdes estava preocupada. Ela diz que o caminhão passou muito cedo e não deu para aproveitar o dia. “O dia hoje não foi produtivo para a gente. Perdemos o caminhão. Chegamos aqui pouco antes das 7h da manhã e ele passou 5h. Agora não sabemos como vai ser o nosso dia. O que temos agora aqui é o que gente conseguiu no caminhão da tarde de segunda-feira (18). Difícil viver, levar a vida assim né?”, reclama.

Maria de Lourdes mora no Bairro Vicente Pinzón e sai de casa com o marido todos os dias pontualmente às 4h. É uma viagem de quase 40 minutos de bicicleta até o local. Ao ser perguntada o que se pode aproveitar ela diz que tudo é aproveitado. “Aproveitamos tudo. Pego pão, iogurte, alface, tomate, maçãs e bananas. As hortaliças e frutas são as coisas mais fáceis e que vem com menos problemas”, afirmou.

Maria de Lourdes da Silva já trabalhou como cuidadora de idosos, mas hoje vive vendendo materiais com reciclagem. — Foto: Gioras Xerez/Sistema Verdes MaresMaria de Lourdes da Silva já trabalhou como cuidadora de idosos, mas hoje vive vendendo materiais com reciclagem. — Foto: Gioras Xerez/Sistema Verdes Mares

Todo mundo que depende do caminhão do lixo se ajuda, diz Maria de Lourdes. Quando um chega atrasado ou não consegue ser tão rápido como alguns, os alimentos são divididos. “Somos uma equipe. Não moramos na mesma casa, no mesmo bairro, porém estamos na mesma situação. Tudo aqui se divide. Quando um está com fome eu dou uma bolacha, um pão, uma fruta. Pode não ser do dia, mas é do coração. Importante é um ajudar o outro e tentar sair daqui com sentimento mínimo de fome.”

A cuidadora ressalta também a contribuição de moradores locais que sempre ajudam com um prato de comida ou com lanches.

“Não é todo dia, mas [às vezes] aparece um cristão com um prato de comida, uma garrafa com água ou um lanche. Sempre agradecemos e o que desejamos é que a situação melhore. Não é digno para ninguém viver assim todos os dias. Nesta incerteza. Muita preocupação e às vezes esquecemos até que sentimos fome”.

Fonte: g1

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