Perseguição e ameaças: dossiê denuncia violência contra família de menina morta em ação da PM

Intimidações, perseguições e ameaças contra os familiares de Heloysa Gabrielly estão entre as denúncias de um dossiê divulgado nesta quarta (11) por 13 organizações populares e movimentos sociais. As ações, segundo as entidades, ocorreram após a morte da menina de 6 anos, durante uma ação da Polícia Militar em Porto de Galinhas, em Ipojuca, no Grande Recife.

A morte da criança ocorreu em 30 de março. Desde então, os moradores afirmam que a “polícia chegou atirando”. O governo sustenta a versão de “houve um tiroteio com suspeitos de tráfico de drogas”.

Houve protestos e o comércio fechou as portas. Até agora, ninguém foi preso e os PM envolvidos na operação foram afastados apenas da área de Porto de Galinhas.

O documento, apresentado em uma audiência pública na Câmara Municipal de Ipojuca, é fruto da colaboração conjunta de Comissões da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco, Comissões Parlamentares do Poder Legislativo Estadual e Municipal e de organizações da sociedade civil defensoras de direitos humanos.

Os grupos estiveram na comunidade Salinas e receberam diversas denúncias de “violações de direitos humanos cometidas pela força policial”.

Entres os relatos, estão detalhes de abusos sofridos tanto por familiares da menina quanto por outros moradores da comunidade onde ela foi baleada.

O dossiê descreve que, em 1º de abril, houve uma visita técnica a pedido da família de Heloysa para averiguação de denúncias e acompanhamento de um ato público.

O documento diz que o atendimento precisou ser interrompido “diante da utilização ostensiva e helicópteros armados, sobrevoando a residência da família, a menos de 10 metros”.

O texto também diz que os familiares relataram a “presença constante de batalhões policiais” na frente da casa e até entrada no imóvel “sem permissão com indicação de intimidação e silenciamento, inclusive durante a realização do velório de Heloysa Gabrielly”.

Heloysa Gabrielly, de 6 anos, foi morta no terraço de casa durante investida da PM — Foto: Reprodução/WhatsAppHeloysa Gabrielly, de 6 anos, foi morta no terraço de casa durante investida da PM — Foto: Reprodução/WhatsApp

As entidades afirmam que uma das últimas situações de ameaça concreta foi registrada no dia 4 de abril, quando “15 a 20 policiais militares estiveram novamente na casa da vítima, no horário da noite”, alegando que estariam realizando uma “investigação independente da investigação da Polícia Civil e tentaram levar a avó de Heloysa para depor”.

Para as entidades, a situação “impede o prosseguimento da investigação independente do assassinato de Heloysa” e “abre brecha e amplia a autonomia da polícia para o cometimento de abusos generalizados, sem controle externo, sem fiscalização, em abordagens discriminatórias contra os moradores destas comunidades”.

Além dos familiares de Heloysa, outros moradores de Porto de Galinhas que vivem nas comunidades de Salinas, Socó e Pantanal relataram vir sofrendo de “forma ininterrupta” a ação ostensiva da polícia em “abordagens indevidas, utilização de armamento letal, fuzis, bombas, helicópteros”.

No documento, constam, ainda, afirmações de que, além de Heloysa, morreram três adolescentes em decorrência destas operações.

Entre os relatos, estão os casos de um homem que diz que teve uma “arma apontada para o rosto”, no dia 31 de março, um dia após a morte da menina, para que confirmasse que o que aconteceu com ela foi uma troca de tiros.

“O senhor não cedeu e insistiu que viram os policiais atirando, logo em seguida, foi agredido pela polícia com dois tapas em seu rosto”, disse o dossiê.

Também há relatos de que, no dia 1º de abril, durante um protesto da população, policiais intimidaram moradores, chutaram motocicletas que estavam estacionadas e disseram frases como “morreu uma e vai morrer mais”.

Audiência pública

 

Audiência pública foi realizada na Câmara Municipal de Ipojuca — Foto: Reprodução/TV GloboAudiência pública foi realizada na Câmara Municipal de Ipojuca — Foto: Reprodução/TV Globo

A família de Heloysa acompanhou a audiência pública na Câmara Municipal de Ipojuca. Foram debatidos temas como a violação dos direitos humanos e o tipo de abordagem policial nas periferias.

Os participantes cobraram da Secretaria de Defesa Social (SDS) respostas sobre a morte da menina. O pai de Heloysa, Wendel Fernandes, falou como tem sido os dias sem a filha.

“Difícil. Perder uma criança de 6 anos de idade não é fácil pra ninguém. Eu quero só Justiça. E que não seja mais um caso que seja esquecido”, afirmou.

Perseguição e morte

 

Vídeo mostra viaturas da PM perseguindo moto — Foto: Reprodução/WhatsAppVídeo mostra viaturas da PM perseguindo moto — Foto: Reprodução/WhatsApp

No dia 30 de março, o motociclista Manoel Aurélio estava na comunidade de Salinas quando foi perseguido pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope). Foram efetuados disparos durante a perseguição e a menina Heloysa Gabrielly levou um tiro e morreu.

O advogado de Manoel Aurélio, David Kenio, informou que não tem arma e garantiu à polícia que não atirou na PM.

Desde o dia da morte, a família da garota afirma que o Bope chegou atirando. A PM informou que houve um “ confronto” com suspeitos de tráfico de drogas.

A morte da criança provou comoção e revolta. Protestos foram realizados e o comércio de Porto, uma das praias mais famosas do país, fechou as portas.

Os policiais envolvidos na ação foram retirados do patrulhamento de Ipojuca, embora os pais da menina tenham pedido ao governador o afastamento deles das ruas.

Fonte: G1

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