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Existem pessoas que vão e vem na vida de cada um. Algumas realmente parecem ser tão importantes que, quando se vão, deixam aquele sentimento de falta na alma, não importa se elas foram amores ou amigas, o que importa é intensidade vivida do lado da pessoa. Apesar da vida de cada um ser única, os encontros, desencontros e despedidas da vida são inevitáveis.

As despedidas são inúmeras: entre amigos que vão deixar se encontrar recorrentemente pois um deles mudará de cidade; entre neto e avô ou avó vendo a vida deste último findar e similares; entre amores, que mesmo juntos até o final da vida, há um final para estes. A dor é certamente inevitável, pois toda despedida é acompanhada de certo luto.

A única coisa que acompanha a vida de alguém por completo é esse alguém mesmo, ou melhor, o si-mesmo. E é comum negar veementemente a vida inteira o si-mesmo. Se não entrarmos em um processo de análise, tendemos a colocar nossas dificuldades, nossas vulnerabilidades e sombras no outro; afinal, é mais confortável para o ego que o outro seja o portador de suas mazelas; assim, ao findar com ele, cria-se uma catarse – uma expiação das sombras. Ledo engano. O si-mesmo vem para apontar todas as incongruências, absurdos e sombras no outro dia.

 

Há quem procure ainda uma resposta fora e causal sem perceber que a questão é interna e psíquica. Acabam por usar as ferramentas mânticas de forma equivocada e literal. Vale a ressalva que pode até funcionar momentaneamente, mas a sombra retorna se não conseguiu o que queria.

 

Por isso valorizar-se é tão importante. Aqui não estou falando de valorizar o ego, mas reconhecer o valor dos que me habitam.

Estes que habitam cada um de nós tem seu valor e confrontam o eu o tempo inteiro. Muitas vezes querem medidas unilaterais e primitivas – querem rasgar a carne – mas só querem pois não não escutados. Passei por um período, recentemente, que não quis escutá-los, mas no fim, eles ganharam, o ego perdeu e houve um acordo final, ou semi-final.

Uma tarefa difícil é perceber que os encontros daqueles que se foram são importantes para o ego tornar-se quem ele deve ser. A cada encontro há contágio de pensamentos, sentimentos, emoções e afetos; a cada encontro, se houve afeto, o ego se torna um pouco o outro e vice versa.

 

Não há ninguém que não possa ensinar nada para alguém. Por isso o fim com parcimônia nos ajuda a reconhecer as lições da vida.

Os encontros possuem dois movimentos: o primeiro redutivo causal e o segundo projetivo. Alguém conhece outro alguém porque em um determinado momento do tempo/espaço houve um encontro. Mas também, se algum afeto foi criado, cabe a cada um perguntar: “para quê eu tive que conhecer esta pessoa?”.

Quem disse que tudo foi por acaso? Quem disse que o ciclo vivido não foi já uma vida? Devemos respeitar os desígnios do si-mesmo e reconhecer que nessa dinâmica o eu deve aprender que controle, planejamentos, planos e querências são ilusões.

Boris Cyrulnik aponta que na vida, diante de traumas, muitos indivíduos encontram no outro uma tutoria de resiliência – não há a necessidade deste outro ser humano, pode ser um animal, um objeto, um lugar, etc. Tais tutores oferecem, nada intencionalmente, um suporte para o traumatizado seguir sua vida social bem como reestabelecer sua vida intrapsíquica. Por isso, para alguns encontros é muito comum entender que ali o fenômeno da sincronicidade ocorreu, ou seja, uma co-incidência altamente significativa para alguém, ampliando a consciência.

Leonardo Torres, 32 anos, analista junguiano.

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