De R$ 0,01 a R$ 4 mil: histórias de quem descobriu dinheirinho extra

Serviço do Banco Central liberou acesso para saques nesta terça-feira (7) e mais de R$ 62 milhões foram retirados.

Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

O Banco Central registrou mais de R$ 62 milhões em saques no primeiro dia de abertura do Sistema de Valores a Receber (SVR). Mais de 1 milhão de pessoas conseguiram reaver o “dinheiro esquecido” em bancos, financeiras, consórcios e outras instituições.

Ao longo da terça-feira (7), a reportagem do g1 conversou com beneficiários da medida de devolução de recursos do BC. As histórias vão de quem encontrou R$ 0,01 até mais de R$ 4 mil.

Veja abaixo cada uma delas.

Samuel Mendes: R$ 4 mil

Samuel Mendes, de 39 anos, encontrou o maior valor entre os personagens localizados pelo g1: R$ 4.267,45. Mais curioso: ele revela que na primeira edição do SVR, no ano passado, encontrou a soma de R$ 1,91. Ele voltou ao SVR depois de ser alertado por amigos que nova consulta seria liberada.

“Eu havia me esquecido de um consórcio que tinha comprado e desistido, há mais de cinco anos. O valor pago seria restituído somente no fim do grupo. E agora, estou feliz com essa novidade. Vou investir no meu escritório que estou renovando após a pandemia”, conta Samuel.

Porém, segundo o empresário, o saque ainda não está disponível, uma vez que o BB Consórcios não efetivou o convênio com o Banco Central. “Vou entrar em contato com a instituição financeira para resolver essa questão e os trâmites burocráticos”, disse.

Pedro Delforge: R$ 3 mil

O carioca Pedro Delforge, de 26 anos, contou ao g1 que foi pego de surpresa com quase R$ 3 mil a resgatar. Ele foi o primeiro a ser localizado pela reportagem dentro das 643.105 pessoas que têm mais de R$ 1 mil a receber — o que representa 1,37% do total mapeado pelo Banco Central.

“Entrei no sistema por desencargo de consciência. Achei que tivesse uns 10 centavos, mas tinha R$ 3 mil”, afirmou.

O jovem não tinha ideia de onde estava esse dinheiro, mas desconfia que seja de uma conta esquecida pela família. “Perguntei para a minha mãe. Ela acha que era de uma poupança que ela fez para mim no Bradesco, que pagava até os meus 21 anos”, explicou.

“Quando completei os 21 anos, saquei o dinheiro para fazer um intercâmbio, mas ela continuou pagando por um tempo e ela mesma esqueceu. Eu também não sabia. Então, provavelmente, é daí”, continuou o carioca, que hoje vive em Bruxelas, na Bélgica.

O carioca não só sacou o dinheiro como já definiu seu futuro. “Coloquei em uma conta que irá render 100% do CDI. Também invisto em ações, mas agora não estou comprando, porque a Selic [taxa básica de juros] está muito alta”, concluiu.

Erica Ferreira: R$ 0,01

A diarista Erica Santos Ferreira, 37, conta que descobriu que o BC havia reaberto a consulta aos valores esquecidos durante uma conversa com a família, e que esperou “ansiosamente” por esta terça-feira para descobrir a quantia e fazer a transferência.

“Fiquei uma hora na fila e, para a minha surpresa, eu tinha apenas um centavo. Eu imaginei que o valor não fosse tão grande, mas um centavo é meio que sacanagem”, conta Erica.

Ela conta que mesmo sem acreditar que a quantia era grande, chegou a fazer planos com o dinheiro. “No início eu não tinha muita expectativa [sobre o valor] não, mas vai chegando o dia de ver [o saldo] e a gente dá uma ‘sonhadinha’ né”, disse.

“Sou diarista e é difícil eu pegar férias, então já me imaginei em um fim de semana fora, viajando para Socorro, no interior de São Paulo, que é o meu lugar favorito no mundo. Mas com um centavo, não vou nem ao Centro.”

Jossiano Leal: R$ 0,68

O analista de sistemas e produtor musical Jossiano Leal, de 43 anos, acessou o site do SVR logo nas primeiras horas desta terça (7). Após esperar 20 minutos na fila virtual que se formou no sistema, Leal se frustrou ao descobrir que tinha apenas R$ 0,68 de “dinheiro esquecido”.

Ele conta que os centavos são referentes a um consórcio contratado há mais de 10 anos. O produtor foi contemplado no final de 2011 e retirou a moto na concessionária no início de 2012. Desde lá, esse valor estava aguardando a retirada no banco.

“Fiquei até com vergonha de solicitar 68 centavos. Nem lembrava desse dinheiro, fiquei sabendo na consulta da semana passada, quando o site disse só que eu tinha ‘valores a receber’. Não que eu esperasse ter um valor alto, mas a gente acaba criando uma expectativa ao saber que tem valores inesperados para receber”, conta.

“Quando apareceu que a fila de espera era de 200 mil pessoas, mandei para os meus amigos. ‘Vou ficar rico, hein!’. Quando apareceu 68 centavos, tirei foto e mandei de novo, rindo. Não dá para comprar nem um chiclete! Imagino que o custo de me fazer o pix seja mais caro que isso”, brinca.

Marcos Paulo Azevedo: R$ 1,02

O professor universitário potiguar Marcos Paulo Azevedo, de 30 anos, criou expectativas quando descobriu que tinha um “dinheiro esquecido” na consulta aberta pelo Banco Central.

Ao entrar no sistema, pela manhã, ele recebeu a confirmação que tinha um valor a resgatar, mas precisou esperar cerca de meia hora em uma fila com 300 mil usuários para descobrir a quantidade: R$ 1,02. O valor frustrou o professor.

“Criei uma expectativa. Não achava que seria muito, mas esperava pelo menos a pizza do fim de semana”, afirmou.

Para complicar, o dinheiro disponível era de um cartão de crédito do professor e ele não tinha como resgatar direto pelo sistema do Banco Central. Marcos Paulo preferiu deixar o dinheiro na conta. “Não valia o estresse”, considerou.

Vinícius Mauro: R$ 27,76

O designer Vinícius Mauro chegou a pensar em planos ambiciosos para o dinheiro extra que estava como esquecido no SVR. Por fim, acabou levando um “banho de água fria”: só tinha R$ 27,76 para retirar.

“Eu queria investir nos estudos, fazer um mestrado, uma pós. Mas esse dinheiro mal dá para comprar um caderno”, contou, ao se deparar com os valores no site do Banco Central do Brasil.

Apesar da frustração, Vinícius ainda está em situação melhor que muitos brasileiros que também têm dinheiro para resgatar. Segundo dados do Banco Central, cerca de 62% do total só devem resgatar valor de até R$ 10.

“A solução vai ser comprar umas duas cervejas, né?”, brinca.

Luiz Carlos da Silva: R$ 0,02

Dois centavos. Esse foi o valor que o desenvolvedor de software Luiz Carlos da Silva, de 25 anos, descobriu em uma conta bancária, nesta terça-feira (7), quando teve início um novo período de saques de valores esquecidos.

Luiz Carlos brincou e disse que já estava procurando casas para comprar, até ter a decepção ao saber do valor que tinha guardado. As expectativas foram criadas depois que ele viu conhecidos conseguirem até R$ 1 mil pelo SVR.

“Eu conheci gente que, na leva anterior, tinha R$ 5 a receber. Também tenho conhecidos que conseguiram R$ 1 mil. Pensei que valia a pena, porque R$ 1 mil é um dinheiro que não dá para pagar muita coisa, mas já é de alguma ajuda. O que tinha lá não vale nem o tempo que passei na fila, com o celular ligado”, afirmou.

Bilar Gregorio: R$ 0,10

Bilar Gregorio, de 28 anos, descobriu que tinha apenas 0,10 centavos de “dinheiro esquecido” em uma conta bancária. Apesar do baixo valor, ele reagiu de forma divertida com a situação.

“Eu imaginava que teria um valor de um título de capitalização da Caixa que foi interrompido na pandemia. Eu não concluí os pagamentos e também não recebi os valores já pagos. Então pensei que poderia haver esse valor disponível lá. Porém só havia esse outro valor do Itaú que eu não tenho a menor ideia da origem”, relatou.

Gregorio também contou que já havia consultado no ano passado e que ficou acompanhando o assunto. Quando viu a notícia de que haveria um novo lote, não perdeu tempo e já foi verificar se tinha algum valor.

“Eu ri. Mas após a pequena humilhação, pedi o valor por PIX. Doze dias úteis e estarei rico”, brincou o analista.

Fonte: G1

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