Ataque de tanque israelense matou repórter da Reuters ‘claramente identificável’, diz relatório da ONU

Um tanque israelense matou o repórter da Reuters Issam Abdallah no Líbano em outubro do ano passado ao disparar dois projéteis de 120 mm contra um grupo de “jornalistas claramente identificáveis”, violando a lei internacional, segundo uma investigação recente da Organização das Nações Unidas (ONU).

Issam Abdallah/Reuters

Issam Abdallah em fotografia feita na Turquia, em fevereiro de 2023

A investigação da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) disse que um tanque Merkava israelense abriu fogo contra o Líbano depois de 40 minutos sem nenhuma troca de tiro.

“O disparo contra civis, nesse caso, jornalistas claramente identificáveis, constitui uma violação da Resolução 1701 (2006) do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do direito internacional”, disse o relatório da Unifil.

O relatório de sete páginas, de 27 de fevereiro, diz ainda: “Avalia-se que não houve troca de tiros através da Linha Azul no momento do incidente. O motivo dos ataques contra os jornalistas não é conhecido”.

Desde 2006, as forças de paz da ONU monitoram um cessar-fogo ao longo da linha de demarcação de 120 km, ou Linha Azul, entre Israel e os combatentes do Hezbollah, do Líbano.

Como parte de sua missão, as tropas da ONU registram as violações do cessar-fogo e investigam os casos mais graves.

Além de matar Abdallah, os dois disparos do tanque também feriram outros seis jornalistas que estavam no local.

Questionado sobre o relatório da Unifil, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Nir Dinar, disse que o Hezbollah atacou as Forças de Defesa de Israel perto da comunidade israelense de Hanita em 13 de outubro. As Forças de Defesa de Israel responderam com artilharia e fogo de tanque para eliminar a ameaça e, posteriormente, receberam um relatório de que jornalistas haviam sido feridos.

“As Forças de Defesa de Israel lamentam qualquer ferimento em pessoas não envolvidas e não atira deliberadamente em civis, incluindo jornalistas”, disse Dinar.

“As Forças de Defesa Israelenses consideram a liberdade de imprensa de extrema importância e esclarecem que estar em uma zona de guerra é perigoso”, afirmou ele.

Ele disse que o Mecanismo de Apuração e Avaliação de Fatos do Estado-Maior, o órgão responsável pela análise de eventos excepcionais, continuará a examinar o incidente.

De acordo com o site das Forças de Defesa de Israel, a equipe de apuração de fatos submete suas análises ao departamento de assuntos jurídicos dos militares israelenses, que decide se um caso merece uma investigação criminal.

Imagens do incidente

A editora-chefe da Reuters, Alessandra Galloni, pediu a Israel que explique como o ataque que matou Abdallah, de 37 anos, poderia ter acontecido e que responsabilize os culpados.

O relatório da Unifil foi enviado à Organização das Nações Unidas em Nova York em 28 de fevereiro e foi compartilhado com as Forças Armadas libanesas e israelenses, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto.

“As Forças de Defesa de Israel devem conduzir uma investigação sobre o incidente e uma revisão completa de seus procedimentos na época para evitar que o fato se repita”, disse o relatório em suas recomendações. “As Forças de Defesa de Israel devem compartilhar as conclusões de sua investigação com a Unifil.”

Para sua investigação, a Unifil enviou uma equipe para examinar o local em 14 de outubro, e também recebeu contribuições das Forças Armadas libanesas e de uma testemunha não identificada que estava presente na colina quando os ataques ocorreram, disse o relatório.

Os detalhes dos incidentes na área de operações da Unifil são incluídos nos relatórios regulares do secretário-geral da ONU sobre a implementação da resolução 1701 do Conselho de Segurança. As investigações da Unifil, no entanto, não costumam ser divulgadas e a Reuters não conseguiu determinar se haveria algum acompanhamento da ONU.

O porta-voz da Unifil, Andrea Tenenti, disse que não estava em posição de discutir a investigação.

Investigação da própria Reuters

A própria Reuters fez uma investigação, publicada em 7 de dezembro, que mostrou que sete jornalistas da Agence France-Presse, Al Jazeera e Reuters foram atingidos por dois tiros de 120 mm disparados por um tanque a 1,34 km de distância em Israel.

O grupo de repórteres estava filmando bombardeios transfronteiriços à distância em uma área aberta em uma colina perto do vilarejo libanês de Alma al-Chaab por quase uma hora antes do ataque.

No dia seguinte, as Forças de Defesa de Israel disseram que já tinha imagens do incidente e que ele estava sendo investigado. As Forças de Defesa de Israel não publicaram um relatório de suas conclusões até o momento.

A Unifil disse em seu relatório que enviou uma carta e um questionário aos israelenses, solicitando sua assistência. As Forças de Defesa de Israel responderam com uma carta, mas não responderam ao questionário.

A Reuters não viu uma cópia da carta das forças israelenses, cujo conteúdo foi resumido no relatório da Unifil.

Fonte: g1

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