Eu posso pagar, mas não posso entrar

Depois de ler alguns comentários sobre a denúncia de uma travesti que fora barrada em um motel de Maceió eu fiquei impressionada com a superficialidade da reação de algumas pessoas.

A maioria esmagadora dos comentários, claro, foi apagada, porque eram demonstrações explícitas de preconceito e ataque a uma pessoa que sequer conhecem. É até natural do ser humano reagir com medo e de forma agressiva àquilo que ele considera ‘diferente,’ inoportuno, inadequado, mas esse mesmo ser humano esquece que pode ser taxado com esses mesmos rótulos.

Quando li as matérias escritas pelos meus colegas jornalistas, imaginei imediatamente que o melhor exercício para analisar a situação é colocar-se no lugar da travesti. Cindy Belucci, de 33 anos, me pareceu inteligente, vivida, descolada, e mostrou que sabe brigar pelos seus direitos. A travesti foi impedida de ter acesso ao motel na companhia de outro homem e a alegação do estabelecimento foi ainda pior do que o preconceito puro e simples: “a orientação é não aceitar dois homens devido aos assaltos”. Na prática, todo homossexual é um ‘ladrão em potencial’. Pelo menos, foi o que entendi.

Mas pensem comigo. Atacar a travesti é fácil, afinal ela está inserida num grupo cuja vulnerabilidade social provoca exclusões nos mais variados segmentos, e em alguns casos, até a morte. Mas e se fosse você?

Suponhamos que você, cidadão comum, chegue a um estabelecimento e seja ‘barrado’ por ser gordo, feio, heterossexual, baixo, alto, pobre, rico, inteligente demais, aculturado. Imagine ser impedido de entrar num rodízio porque pesa mais de 200kg e o proprietário suporá que você dará prejuízo.

Imagine ser proibido de matricular seu filho em determinada escola, porque após análise da sua vida financeira a unidade de ensino previu que você não poderá pagá-la?

Na prática, tudo é relação de consumo. Esqueça o seu preconceito, ponha de lado o que você acha certo ou não. Se a travesti tinha dinheiro para pagar, há alguma justificativa razoável para impedi-la de entrar no motel? Não será mais um precedente perigoso?

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