Governo adota estilo ‘morde e assopra’ para negociar com grupos anti-Copa

Ministro Gilberto Carvalho avisa que as polícias estão preparadas para rechaçar os excessos, mas diz que o governo considera as manifestações um direito democrático.

TIAGO CHIARAVALLOTI/FUTURA PRESSManifestantes participam de 5º Ato contra Copa do Mundo

Manifestantes participam de 5º Ato contra Copa do Mundo

Envolvido numa peregrinação pelo País para atenuar os efeitos dos protestos durante a Copa do Mundo, o ministro Gilberto Carvalho adotou o estilo “morde e assopra” para negociar com o movimento “Não vai ter Copa”: avisa que as polícias estão preparadas para rechaçar os excessos e, ao mesmo tempo, diz que o governo considera as manifestações como um direito democrático de quem quer ser contra.

“A polícia será dura com os manifestantes violentos para garantir o direito de ir e vir da população”, alerta o ministro. O governo federal gastou R$ 1,9 bilhão para equipar os órgãos de segurança e de informação federais e estaduais. Parte desses recursos foi usado na capacitação dos grupos encarregados da repressão a distúrbios. Tropas de choque estaduais e federais fizeram treinamentos junto às polícias internacionais mais experientes no enfrentamento a protestos violentos.

Em entrevista ao iG, Carvalho disse que o governo tem informações seguras de que haverá manifestações, mas está tentando estabelecer um canal de entendimento com os líderes do movimento para pedir moderação e mostrar que os investimentos na Copa do Mundo serão revertidos na melhoria para a população, especialmente em serviços como segurança, transporte urbano (mobilidade) e turismo.

“Não fomos capazes de passar à população as informações corretas sobre os efeitos positivos dos números envolvidos na Copa do Mundo, que são mais amplos do que foi informado. Passou-se a ideia de que o evento é um antro de corrupção e que os estádios se transformariam, depois, em elefantes-branco”, disse o ministro. Ele reconhece que o governo, mesmo diante dos sinais dados pelas manifestações de junho do ano passado, que exigiram serviços públicos de “padrão Fifa” durante a Copa das Confederações, demorou a reagir.

O ministro afirmou que todas as obras estão sendo rigorosamente fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) – órgão auxiliar do Congresso –, que até agora, segundo ele, não apontou reparos na execução dos investimentos em que há participação do setor público. Para demonstrar a utilidade dos estádios, Carvalho citou o caso do Mané Garricha, em Brasília que, segundo ele, virou uma arena de multiuso e só no ano passado abrigou o dobro de público (655 mil) recebido em toda sua história de 36 anos.

Gilberto Carvalho diz que o movimento “Não Vai Ter Copa” cresceu graças a falhas do governo. “Os protestos estão ocorrendo por brutal falta de informação. A culpa é nossa”, admite o ministro. Nas próximas reuniões com as entidades que organizam os protestos, Carvalho vai distribuir uma cartilha confeccionada pelo Palácio do Planalto com um resumo positivo dos investimentos e o legado que a Copa deixará ao país.

Segundo os números do governo, os investimentos públicos exclusivamente para a Copa totalizam R$ 8 bilhões, dos quais o governo federal participa com R$ 3,9 bilhões. O dinheiro emprestado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) retornará com juros em 180 dias. Aos que criticam o governo por usar recursos públicos que faltariam na educação e saúde, o ministro mostra que nesses dois setores foram investidos em 2013, respectivamente, R$ 101,9 bilhões e R$ 83 bilhões.

Os investimentos totais nas 12 cidades-sede são de R$ 17, 4 bilhões distribuídos em mobilidade urbana (R$ 8 bilhões), aeroportos (R$ 6,3 bilhões), segurança (R$1,9 bilhão), portos (R$ 600 milhões), telecomunicações (R$ 400 milhões) e turismo (R$ 200 milhões).

Com dados levantados pelo Ministério do Turismo a cartilha informa que a Copa gerará um adicional de R$ 30 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) do país com a injeção de R$ 140 bilhões na economia entre 2010 (início das ações por conta do evento) e 2014.

O governo estima que os 3 milhões e 600 mil turistas que circularão pelo país _ 3 milhões de brasileiros e 600 mil estrangeiros (o dobro da África do Sul) _ gastarão cerca de R$ 25 bilhões. As 12 cidades-sede ficarão com 49% do adicional do PIB. O governo também estima que o evento vai gerar o triplo dos empregos registrados na Copa das Confederações, que foi de 303 mil, dos quais, cerca de 48 mil no setor de turismo entre abril e junho deste ano.

“É natural que a sociedade tenha atitude de protesto. A participação popular é da democracia, mas vamos enfrentar o debate. Sabemos que vai ter protesto, mas não permitiremos violência”, diz Carvalho. Designado pela presidente Dilma Rousseff, o ministro cumpre uma missão cuja inspiração tem também o dedo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem chamando a atenção para a postura defensiva do governo diante da evidência dos protestos e de falhas na comunicação sobre números positivos. Carvalho foi escolhido pela proximidade com os movimentos sociais.

Na noite de sexta-feira, ao ser lançada oficialmente como pré-candidata à reeleição, em São Paulo, durante o 14º Encontro Nacional do PT, presidente Dilma Rousseff aproveitou a deixa da militância, que entoou o coro “Vai Ter Copa”, para falar de improviso sobre o evento. Disse que o Brasil é o “país do futebol” e que a Copa será a afirmação da sociedade.

“A Copa será um emblema contra o racismo”, disse a presidente, numa referência ao ato de preconceito contra o jogador Daniel Alves, ofendido na Espanha por um torcedor do Barcelona que jogou uma banana contra ele. O governo teme também que um eventual fracasso da Seleção Brasileira possa repercutir nas eleições deste ano.

Fonte: iG

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