Envolvido numa peregrinação pelo País para atenuar os efeitos dos protestos durante a Copa do Mundo, o ministro Gilberto Carvalho adotou o estilo “morde e assopra” para negociar com o movimento “Não vai ter Copa”: avisa que as polícias estão preparadas para rechaçar os excessos e, ao mesmo tempo, diz que o governo considera as manifestações como um direito democrático de quem quer ser contra.
“A polícia será dura com os manifestantes violentos para garantir o direito de ir e vir da população”, alerta o ministro. O governo federal gastou R$ 1,9 bilhão para equipar os órgãos de segurança e de informação federais e estaduais. Parte desses recursos foi usado na capacitação dos grupos encarregados da repressão a distúrbios. Tropas de choque estaduais e federais fizeram treinamentos junto às polícias internacionais mais experientes no enfrentamento a protestos violentos.
Em entrevista ao iG, Carvalho disse que o governo tem informações seguras de que haverá manifestações, mas está tentando estabelecer um canal de entendimento com os líderes do movimento para pedir moderação e mostrar que os investimentos na Copa do Mundo serão revertidos na melhoria para a população, especialmente em serviços como segurança, transporte urbano (mobilidade) e turismo.
“Não fomos capazes de passar à população as informações corretas sobre os efeitos positivos dos números envolvidos na Copa do Mundo, que são mais amplos do que foi informado. Passou-se a ideia de que o evento é um antro de corrupção e que os estádios se transformariam, depois, em elefantes-branco”, disse o ministro. Ele reconhece que o governo, mesmo diante dos sinais dados pelas manifestações de junho do ano passado, que exigiram serviços públicos de “padrão Fifa” durante a Copa das Confederações, demorou a reagir.
O ministro afirmou que todas as obras estão sendo rigorosamente fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) – órgão auxiliar do Congresso –, que até agora, segundo ele, não apontou reparos na execução dos investimentos em que há participação do setor público. Para demonstrar a utilidade dos estádios, Carvalho citou o caso do Mané Garricha, em Brasília que, segundo ele, virou uma arena de multiuso e só no ano passado abrigou o dobro de público (655 mil) recebido em toda sua história de 36 anos.
Gilberto Carvalho diz que o movimento “Não Vai Ter Copa” cresceu graças a falhas do governo. “Os protestos estão ocorrendo por brutal falta de informação. A culpa é nossa”, admite o ministro. Nas próximas reuniões com as entidades que organizam os protestos, Carvalho vai distribuir uma cartilha confeccionada pelo Palácio do Planalto com um resumo positivo dos investimentos e o legado que a Copa deixará ao país.
Segundo os números do governo, os investimentos públicos exclusivamente para a Copa totalizam R$ 8 bilhões, dos quais o governo federal participa com R$ 3,9 bilhões. O dinheiro emprestado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) retornará com juros em 180 dias. Aos que criticam o governo por usar recursos públicos que faltariam na educação e saúde, o ministro mostra que nesses dois setores foram investidos em 2013, respectivamente, R$ 101,9 bilhões e R$ 83 bilhões.
Os investimentos totais nas 12 cidades-sede são de R$ 17, 4 bilhões distribuídos em mobilidade urbana (R$ 8 bilhões), aeroportos (R$ 6,3 bilhões), segurança (R$1,9 bilhão), portos (R$ 600 milhões), telecomunicações (R$ 400 milhões) e turismo (R$ 200 milhões).
Com dados levantados pelo Ministério do Turismo a cartilha informa que a Copa gerará um adicional de R$ 30 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) do país com a injeção de R$ 140 bilhões na economia entre 2010 (início das ações por conta do evento) e 2014.
O governo estima que os 3 milhões e 600 mil turistas que circularão pelo país _ 3 milhões de brasileiros e 600 mil estrangeiros (o dobro da África do Sul) _ gastarão cerca de R$ 25 bilhões. As 12 cidades-sede ficarão com 49% do adicional do PIB. O governo também estima que o evento vai gerar o triplo dos empregos registrados na Copa das Confederações, que foi de 303 mil, dos quais, cerca de 48 mil no setor de turismo entre abril e junho deste ano.
“É natural que a sociedade tenha atitude de protesto. A participação popular é da democracia, mas vamos enfrentar o debate. Sabemos que vai ter protesto, mas não permitiremos violência”, diz Carvalho. Designado pela presidente Dilma Rousseff, o ministro cumpre uma missão cuja inspiração tem também o dedo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem chamando a atenção para a postura defensiva do governo diante da evidência dos protestos e de falhas na comunicação sobre números positivos. Carvalho foi escolhido pela proximidade com os movimentos sociais.
Na noite de sexta-feira, ao ser lançada oficialmente como pré-candidata à reeleição, em São Paulo, durante o 14º Encontro Nacional do PT, presidente Dilma Rousseff aproveitou a deixa da militância, que entoou o coro “Vai Ter Copa”, para falar de improviso sobre o evento. Disse que o Brasil é o “país do futebol” e que a Copa será a afirmação da sociedade.
“A Copa será um emblema contra o racismo”, disse a presidente, numa referência ao ato de preconceito contra o jogador Daniel Alves, ofendido na Espanha por um torcedor do Barcelona que jogou uma banana contra ele. O governo teme também que um eventual fracasso da Seleção Brasileira possa repercutir nas eleições deste ano.