‘Não está tudo bem, mas está sob controle’, diz Dilma sobre inflação

Em jantar com jornalistas, presidente disse que o Brasil vai 'bombar' em 2015 e que a população está de ‘mau humor’ porque serviços não melhoraram na mesma proporção da renda.

ReproduçãoA presidente Dilma Rousseff posa ao lado de jornalistas no Palácio da Alvorada Foto: Presidência da República

A presidente Dilma Rousseff posa ao lado de jornalistas no Palácio da Alvorada Foto: Presidência da República

Em queda nas pesquisas pré-eleitorais, a presidente Dilma Rousseff atribuiu ontem o mau humor da população ao fato de os bens e a renda terem crescido muito além dos serviços nos últimos anos. Ela reconheceu que "não está tudo bem" em relação aos preços, mas reiterou que a inflação está sob controle. Em jantar com jornalistas, no Palácio da Alvorada, Dilma demonstrou grande disposição para "ir à luta" na disputa por um segundo mandato. "A única pessoa que te derrota é você mesma" . Em qualquer circunstância, a derrota está aqui dentro (apontando para a cabeça) e eu não me deprimo. Não sou uma pessoa deprê", disse. Sobre as perspectivas econômicas para 2015, a presidente rechaça a ideia de que o Brasil pode "explodir". "O Brasil vai bombar".

– O efeito da inflação não explica o mal-estar. Não está tudo bem, mas está sob controle. Uma coisa que explica é a taxa de crescimento de bens e de serviços. Melhorou a renda, eu quero mais. A população quer mais e melhores serviços . O estoque de bens é de agora, mas de serviços é do passado, quem me critica tem memória curta – afirmou.

Sobre o mau humor dos mercados e o fato de que a Bolsa sobe quando a presidente cai nas pesquisas, ela lamentou : – Sinto muito. Não tenho do que me queixar de ninguém, não tenho o que falar de ninguém, só sinto muito.

Dilma negou que estude aumentar impostos para garantir o superávit das contas públicas em 2014, se necessário, como anunciara o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao GLOBO, no domingo.

– Não vai ter aumento de imposto. Passamos três anos reduzindo impostos. Ele estava falando em tese.

Não tem nada em perspectiva. Não sei em que contexto ele falou. No encontro, que durou mais de quatro horas, com um grupo de jornalistas mulheres dos principais veículos de mídia do país, Dilma estava descontraída, falante. Conduziu o grupo para um "tour" pelo Palácio da Alvorada mostrando detalhes da biblioteca, da capela e dos amplos salões. Pousou para fotos e selfies com as convidadas.

Política e economia no cardápio
Durante o jantar, a política e a economia dominaram a conversa. A presidente rechaçou as previsões pessimistas para 2015. Perguntada se haveria risco de o país explodir no próximo ano, devido a uma conjunção de fatores negativos na economia, como preveem alguns analistas, foi enfática: – Se 2015 vai explodir ? Essa história é ridícula. o Brasil é um país sólido, com estabilidade econômica, uma indústria sofisticada, altamente atraente para o capital internacional. O Brasil vai bombar.

A presidente comparou o Brasil com a economia dos EUA, lembrou que a economia americana cresceu 0,025% no último trimestre e que isso dá um crescimento de 0,1% no ano, mas ainda assim os analistas avaliam que a economia está em recuperação.

– Aqui no Brasil se isso acontecesse o céu estava caindo na minha cabeça, iam dizer que é um desastre, que o mundo caiu.

Sem citar nomes, Dilma desqualificou propostas apresentadas pela oposição para resolver a crise. Sobre a promessa do pré-candidato Eduardo Campos (PSB) de fixar uma meta de inflação de 3% num curto espaço de tempo, a presidente foi categórica:

– A consequência é recessão e desemprego. O desemprego iria lá para os 8,2%. Quero ver fazer investimento social, investimento em infraestrutura (com meta reduzida). A comparação com o governo de Fernando Henrique também apareceu em alguns momentos.

– Não estou comparando com o FHC só porque eu quero fazer política. Os investimentos em saneamento em 2002 eram R$ 936 milhões, R$ 1 bilhão, e nos últimos três anos e meio foram R$ 37,8 bilhões. Nós investimos muito, mas ainda é pouco , é nada para o déficit – disse, ao falar dos avanços do seu governo

Campanha antecipada
Sobre as críticas da oposição e a acusação de que estaria fazendo campanha antecipada, Dilma defendeu-se, afirmando que falou no discurso de 1º de maio de coisas que acredita, como o Bolsa Família e a valorização do salário mínimo.
– Quem não tem compromisso com os mais pobres acha besteira por dinheiro no Bolsa Família. pode falar que é eleitoreiro.
A presidente não deixou praticamente nenhuma pergunta sem resposta. Só não quis falar sobre a sua preferência em relação aos candidatos da oposição e da sua campanha à reeleição. Sobre os candidatos da oposição, esquivou-se:

– Sem preferências, querida – respondeu a uma repórter.

Sobre Eduardo Campos estar tendendo para a direita:

– Não acho nada disso. É casca de banana – sorriu.

Perguntada se não a incomodava o fato de ter opositores dentro do próprio PT, a presidente disse que o partido tem muito mais méritos e características positivas , mas que também é o que mais conviveu com divergências internas ao longo de sua história

– Todo mundo tem direito de dar sua opinião, inclusive sobre a presidente da República.

"Volta, Lula" e Petrobras
Sobre o movimento articulado por alguns petista conhecido como"Volta Lula", Dilma disse que não acredita que conte com o apoio do ex-presidente.

– Não há, eu e Lula temos uma relação muito mais forte do que muitas pessoas imaginam. Quem viveu junto tantos anos a fio, tantos desafios (…) temos uma relação que não é passível de ruptura. Nunca falamos sobre isso, mas tenho certeza que o Lula me apoia nesse exato instante.
Dilma também posicionou-se sobre a CPI da Petrobras , afirmando que não teme a investigação, mas deixou claro que considera a criação da comissão uma estratégia política para atingi-la.

– Não temo nada de CPI , não tenho temor nenhum, meu governo é de extrema transparência, não vejo problema nessa CPI , mas não tenho dúvida que tem componente político. É muito contraditório o tratamento que se dá para qualquer coisa no Brasil, investigações que só atingem o governo federal. O interesse todo nessa história sou eu .

Sobre a polêmica em torno das cláusulas que não foram incluídas no resumo executivo apresentado ao conselho de administração da Petrobras para aprovação da compra da usina de Passadena, no Texas, a presidente disse que não se arrepende de ter apontado o erro. Ela disse na época que se conhecesse as cláusulas "Marlim" e "Put Option" não teria aprovado o contrato.

– Não me arrependo , está tudo nas atas, de posse do TCU , todos eles sabiam o que me perguntaram (os órgãos de fiscalização) . ( …) Eu não teria aprovado se tivesse visto as cláusulas.

Sobre colocar "gasolina na crise", respondeu:

– Eu não acho, a não ser que você ache que a verdade é combustível. Até onde eu sei não houve má-fé (da Petrobras) , pode ter havido equívoco, mas não teve má-fé.

Para a presidente, a Petrobras não perdeu valor e não pode ser avaliada pelo valor de mercado:

– Em 2003 valia US$ 15 bilhões e hoje vale US$ 98 bilhões. Fez investimentos de US$ 48 bilhões. A Petrobras é um patrimônio muito maior que o seu valor de mercado. É prejudicada se perder reserva, se declarar reserva que não tem.

Dilma também rebateu as críticas de que estaria represando reajustes de tarifas no ano eleitoral. Sobre o reajuste da gasolina, afirmou que não há defasagem nos preços.

– Não existe nenhuma lei divina que diga que preço do petróleo tem que variar de acordo com humor do mercado. Nos Estados Unidos, isso não acontece com o shale gás. Defasagem da gasolina? Me mostra a conta. O que está defasado?

Sobre a crise no setor elétrico, defendeu as medidas adotadas no ano passado e afirmou que sem os investimentos do governo federal, a situação seria muito pior. E aproveitou a deixa para criticar o governo de São Paulo, que enfrenta a crise da falta de água.

– A crise é cem mil vezes pior que em 2001. São Paulo não investiu. Nós botamos muito dinheiro no modelo hidro/térmicas. Qualquer tentativa de repartir responsabilidade com o governo federal sobre o problema da água em São Paulo é má-fé . A responsabilidade é de São Paulo.

Fonte: O Globo

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