Brasileiros colocam a mão no bolso para fiscalizar eleição e cobrar eleitos

Por meio de financiamento coletivo, eleitores criam app que fiscaliza urna eletrônica e ficha com propostas da população.

DivulgaçãoAplicativo de celular promete fiscalizar urna eletrônica

Aplicativo de celular promete fiscalizar urna eletrônica

No Brasil desde 2011, os sites de financiamento coletivo – ou crowdfunding – começam a ser descobertos por eleitores brasileiros, que encontraram no método a fonte de renda para bancar ideias que prometem extrapolar o horário eleitoral gratuito e aproximar de vez o eleitor de seu candidato, explorando suas propostas, cobrando quem conseguiu se eleger e até fiscalizando o funcionamento das urnas eletrônicas.

Professor no Instituto de Computação na Unicamp, Diego Aranha não ficou nada satisfeito ao acompanhar o teste público nas urnas eletrônicas que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizou em 2012. Ele percebeu tantas possibilidades de fraude, que esperava vê-las sanadas em junho deste ano, quando o tribunal prometeu realizar uma nova bateria de testes.

Mas pouco antes da data marcada, o TSE cancelou a avaliação. Foi então que o professor decidiu tirar do papel a ideia de um aplicativo capaz de fiscalizar se o boletim impresso pela urna foi de fato utilizado na computação dos votos.

Batizada como Você Fiscal, a ferramenta funciona assim: o eleitor instala o aplicativo no celular, que utiliza um sistema de múltiplas fotos em alta resolução capaz de fotografar toda a extensão do boletim impresso pelas urnas eletrônicas e afixado na parede da sessão após o término da votação. Essa sequência de imagens chega a um servidor desenvolvido pelo professor, especialista em segurança digital.

Três dias após a divulgação do resultado eleitoral, o TSE publica os boletins utilizados na computação dos votos. É aí que o professor começa o seu trabalho. "Com as fotos arquivadas, vamos conferir se o TSE realmente usou os boletins afixados ou se utilizou outros dados". Aranha explica que é impossível saber se o boletim impresso é o mesmo recebido pelo TSE porque as informações chegam ao tribunal por meio de um pen-drive.

"Esse pen-drive pode ser trocado no caminho ou acabar carregado com votos coletados em outra urna", aponta Aranha, oferecendo hipóteses para possíveis adulterações no dispositivo de arquivamento de dados.

Sua ideia conseguiu arrecadar R$ 47,8 mil de 780 pessoas, R$ 17,8 mil além dos R$ 30 mil necessários para bancar o projeto. “O excedente a gente vai utilizar para investir na divulgação do aplicativo, já que mais boletins serão fiscalizados à medida que mais pessoas participarem.”

Cidadonos
Com 180 apoiadores e R$ 19,6 mil recolhidos, o projeto Cidadonos já está em sua segunda edição. A ideia, tocada por 40 voluntários da ONG Voto Consciente, na cidade de Jundiaí, prevê cinco etapas: a primeira promove um concurso de ideias, que já chegou a contar com a participação de 5 mil pessoas.

As melhores sugestões são entregues aos candidatos na segunda fase, quando os políticos são sabatinados. Ali, as promessas também são anotadas para que a terceira fase se concretize: propostas da população e promessas dos postulantes se transformam em uma cartilha de 20 páginas em formato de jornal, distribuído em escolas e palestras na cidade, "mas não de qualquer maneira", garante Henrique Parra Parra Filho, o voluntário que teve a ideia de buscar no Catarse o financiamento público para o design e impressão das fichas. "A gente não entrega o material ao primeiro que aparece. Preferimos distribuir depois de formar parcerias com entidades do município, como associações e escolas.”

Um dos coordenadores do Catarse, Felipe Caruso afirma que os projetos de eleições costumam surgir perto dos pleitos apresentando uma taxa de sucesso perto do 55%. “Descobrimos com a pesquisa Retrato do Financiamento Coletivo no Brasil que 82% das pessoas são contra a participação do governo no modelo [de crowdfunding]. Os projetos de eleição refletem essa visão.”

Sem dinheiro, sem projeto
Mas nem todos recebem o apoio necessário para decolar. O Portal Colaborativo Político Participativo pediu R$ 14,6 mil para finalizar um site colaborativo em que cada político teria uma página a partir da qual se comunicaria com seus eleitores com o objetivo de discutir e deliberar projetos. Faltando oito dias para o final da arrecadação, e apenas R$ 590 foram desembolsados por sete pessoas, que terão seu dinheiro de volta.

Em 2012, o Voto Como Vamos arrecadou R$ 15,6 mil para desenvolver uma aplicação no Facebook que prometia “revolucionar a relação eleitor-candidato”. A ideia era mostrar ao cidadão as propostas e candidatos “de maneira simples, didática e rápida”, mas pouco se ouviu falar da plataforma.

Embora nem todo projeto vingue, Parra afirma que os frutos da eleição de 2012 já são colhidos em Jundiaí. Além de alguns projetos já se concretizarem, a campanha daquele ano promoveu a maior renovação na Câmara Municipal. O resultado é a quinta fase da ação: "Depois da eleição, a gente enquadra o político para cobrar resultados. A cultura política na cidade está mudando. Hoje a gente tem mais pessoas debatendo política, monitorando o poder público. Os jornais escrevem mais sobre esse assunto e nosso site já recebeu 40 mil visualizações.”

Fonte: iG

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